Um livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive. (Padre Antônio Vieira)

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Máximas de Nietzsche

E reputemos perdido o dia em que não se dançou nem uma vez! E digamos falsa toda a verdade que não teve, a acompanhá-la, nem uma risada!

Nos malcasados, sempre encontrei as criaturas mais vingativas: fazem o mundo inteiro pagar por não mais poderem caminhar cada qual por sua conta.

Mais que todos, porém, é odiado quem voa.

Dinheiro e mulher

Dinheiro sendo gasto prodigamente com uma mulher é a mais impressionante exibição de poder que um homem pode fazer para ela. O pródigo exprime para a mulher beneficiária do seu esbanjamento o mesmo poder venerável que o seqüestrador, o torturador e o carrasco representam para sua vítimas. Mas há casos em que o sujeito não sendo podre de rico nem tendo soberania sobre a vida e a morte pode exercer um certo poder, mixuruca é verdade, sobre as mulheres: são os sujeitos que têm muita beleza, muito talento ou muita fama. Mas entre um poeta mavioso e um proprietário pomposo elas sempre escolhem o último p. 91.


FONSECA, Rubens. O buraco na parede. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Soneto espiritual

Mas que vida! Este mundo é o inferno!
Odeio trabalhar, o escritório é uma jaula
Onde ficam presos todos aqueles que não tem alma.
Deveríamos trazer conosco um cutelo

E ao final do expediente um ao outro atacar,
Para acabar com essa tortura que dizem que enobrece,
Este sentimento masoquista que a muitos apetece,
Esta coisa chata que é trabalhar.

Outro dia estava lendo sobre o mundo espiritual
E fiquei atordoado, pasmo de espanto:
Descobri que nem após a morte temos descanso.

No mundo espiritual também existe classe social,
Existem os menos e os mais evoluídos...
Apaguem a luz que eu não quero ser espírito!

f. foresti

Poema sem vontade

Um poema no início da tarde,
Uma poesia sem vontade,
Sem nada para dizer
Às treze e dezesseis...

Sim, é vera!
Não tenho nada a dizer,
Apenas quero escrever,
Assim, sem nada para contar.

f. foresti

LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal

LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo. Tradução de Maria Lucia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. 402 p.


[...] a ambiência de estimulação dos desejos, a euforia publicitária, a imagem luxuriante das férias, a sexualização dos signos e dos corpos. Eis um tipo de sociedade que substitui a coerção pela sedução, o dever pelo hedonismo, a poupança pelo dispêndio, a solenidade pelo humor, o recalque pela liberação, as promessas do futuro pelo presente. p. 35

[...] a publicidade passou de uma comunicação construída em torno do produto e de seus benefícios funcionais a campanhas que difundem valores e uma visão que enfatiza o espetacular, a emoção, o sentido não literal, [...] significantes que ultrapassam a realidade objetiva dos produtos. p. 46

A ansiedade está [...] na origem do novo gosto dos jovens adolescentes pelas marcas. [...] Ostentar um logotipo, para um jovem, não é tanto querer alçar-se acima dos outros quanto não parecer menos que os outros. [...] levando à recusa de apresentar uma imagem de si maculada de inferioridade desvalorizada. [...] é por isso que a sensibilidade às marcas é exibida tão ostensivamente nos meios desfavorecidos. Por uma marca apreciada, o jovem sai da impessoalidade, pretende mostrar não uma superioridade social, mas sua participação inteira e igual nos jogos da moda, da juventude e do consumo. p. 50

Na sociedade de hiperconsumo, mesmo a espiritualidade é comprada e vendida. [...] Eis que a espiritualidade se tornou mercado de massa, produto a ser comercializado, setor a ser gerido e promovido. O que constituía uma barreira à explosão da mercadoria metamorfoseou-se em alavanca de seu alargamento. p. 132

O que antigamente era vivido como um destino de classe é experimentado como uma humilhação, uma vergonha individual. É assim que, no coração do planeta beestar, aumenta o sentimento de ser inútil no mundo, de ter sido usado e depois jogado fora, de ter falhado em tudo. p. 169

Uma nova etapa é transposta a partir dos anos 1920. Enquanto os suportes se multiplicam, os anúncios exploram temáticas e registros inéditos, que continuam em vigor em nossos dias: elogio da mulher moderna, maquiada e sedutora, culto da auto-realização, do conforto e dos lazeres, sacralização da juventude. p. 173

[...] a publicidade criou uma nova cultura cotidiana baseada numa visão mercantilizada da vida. p. 174

[...] o desaparecimento dos espaços desprovidos de signos comerciais. p. 175

[...] os objetivos da publicidade mostram-se mais ambiciosos; esta já não se contenta em ser o realce dos produtos, ei-la que exalta visões do mundo, passa mensagens, valores e idéias com vista à fidelização dos clientes. p. 175-176

A publicidade propõe, o consumidor dispõe: ela tem poderes, mas não tem todos os poderes. E, se ela provoca frustrações, é apenas nos limites do que corresponde aos gostos do consumidor. p. 178

A publicidade reflexo:
[...] alfabetizadas nas linguagens dos bens mercantis, alimentadas com o leite da mercadoria-espetáculo, as massas são de imediato consumistas, espontaneamente sedentas de compras e de evasões, de novidades e de maior bem-estar. p. 180

[...] a publicidade hipermoderna procura menos celebrar o produto que inovar, comover, distrair, rejuvenescer a imagem, interpelar o consumidor. p. 181-182

Ela educava o consumidor, agora o reflete. p. 182

[...] as prioridades do fazer vêm relativizar ou compensar as frustrações do ter. p. 189

Não existe mais subcultura análogo à dos guetos e da pobreza tradicional. Mesmo excluída do universo do trabalho, a população dos centros de cidade e dos subúrbios desqualificados partilha os valores individualistas e consumistas das classes médias, a preocupação com a personalidade individual e auto-realização. [...] importa cada vez mais, para o indivíduo, não ser inferiorizado, atingido em sua dignidade. É assim que a sociedade de hiperconsumo é marcada tanto pela progressão do sentimentos de exclusão social quanto pela acentuação dos desejos de identidade, de dignidade e de reconhecimento individual. p. 192

Desprezando a cultura operária e a cultura do trabalho, rejeitando a política e o sindicalismo, os jovens “marginalizados” constroem sua identidade em torno do consumo e da “grana”, da fanfarronada e da vigarice. p. 193

Se os desvios juvenis são uma das conseqüências da falência dos movimentos sociais, são também resultado de um mundo social desestruturado e privatizado pelo império do consumo mercantil, por novos modos de vida centrados no dinheiro, pela vida no presente, pela satisfação imediata dos desejos. p. 193

[...] os excluídos do consumo são eles próprios uma espécie de hiperconsumidores. Privados de verdadeira participação no mundo do trabalho, atormentados pela ociosidade e pelo tédio, os indivíduos menos favorecidos buscam compensações no consumo, na aquisição de serviços ou de bens de equipamento, mesmo que seja, [...] em detrimento do que é mais útil. p. 194

[...] não se sentem pobres apenas porque subconsomem bens e lazeres, mas também porque superconsomem as imagens da felicidade mercantil. p. 194

[...] o desemprego mudou de sentido: não sendo mais assimilado a um destino de classe, ele remete a um fracssso ou a uma insuficiência pessoal, freqüentemente acompanhada de auto-estigmatização. [...] Quanto mais as condições materiais gerais melhoram, mais se intensifica a subjetivização-psicologização da pobreza. p. 199-200

Em uma cultura entregue aos prazeres sensoriais e aos desejos de gozo aqui e gora, é toda a vida social e individual que, ao que nos dizem, está envolta num halo “orgiástico” [...] esgotamento do princípio de individualização e escalada correlativa da tribalização afetiva, das emoções vividas em comum, das sensibilidades coletivas. p. 209

Não é as novas epifanias do Mestre dos prazeres que nos é dado assistir, mas à encenação lúdico-hedonista de seus funerais. Nada de reencarnação dos valores orgiásticos, mas a invenção do cosmo paradoxal da hipermodernidade individualista. p. 211

O universo do lazer contemporâneo [...] é o da privatização dos prazeres, da individualização e da comercialização do tempo livre [...] a lógica que triunfa é a do tempo individualista do lazer-consumo. p. 212

O hiperindivíduo não é dionisíaco; consome ambiência dionisíaca instrumentalizando o coletivo com vista a satisfações privadas. p. 212

[...] se o lazer pode reafirmar coesão comunitária, é importante sublinhar-lhe o caráter lábil, efêmero, muitas vezes epidérmico. [...] o que o lazer refabrica é menos a preeminência do coletivo sobre o individual que uma divisão pacífica do social, feita de dispersão individualista dos gostos e dos comportamentos. p. 212-213

Os lazeres e os templos do consumo são fatores de comunhão? A verdade é que eles relacionam mais o indivíduo consigo mesmo do que provocam a união dos membros de uma mesma comunidade. p. 216

A felicidade não é, evidentemente, uma “idéia nova”. Nova é a idéia de ter associado a conquista da felicidade às “facilidades da vida”, ao Progresso, à melhoria perpétua da existência material. p. 217

Com os modernos, a felicidade da humanidade identifica-se com o progresso das leis, da justiça e das condições materiais de existência [...] não é mais a mudança de si que aparece como o caminho certo da felicidade, mas a transformação do mundo, a atividade fabricadora capaz de aliviar as penas, embelezar a vida, proporcionar cada vez mais satisfações materiais. p. 217

Centrado na acumulação dos bens, na eletrificação e na mecanização do lar, esse modelo de conforto é de tipo tecnicista-quantitativo e é sonhado como o que apaga as sujeições, como prótese miraculosa que traz higiene e intimidade, ganho de tempo e facilidade de vida, distração e entretenimento passivos. [...] Depois do conforto-luxo [...] o [...] conforto-liberdade (“a técnica liberta mulher”) [...] Vitrine do progresso técnico e da racionalização do cotidiano, instrumento de uma vida melhor, o conforto tornou-se a figura central da felicidade-repouso, dos gozos fáceis possibilitados pelo universo técnico-mercantil. p. 218-219

Alastra-se uma nova espécie de conforto que se identifica com a abundância informacional, as interações virtuais, a acessibilidade permanente e ilimitada. p. 227

[...] o design contemporâneo exibe uma nova predileção pelos objetos gordinhos, de linhas ovóides, criando um universo suave, maternal, acolhedor. [...] reconcilia-se com os arredondados. p.230

[...] a ambição do design não é mais tanto de erigir símbolos de modernidade triunfal quanto um meio ambiente acolhedor e reconfortante, um conforto hipermoderno que concilia o funcional e a experiência vivida emocional, a eficácia e as necessidades psíquicas do homem. p. 232

[...] Já não se fazem comilanças, fazem-se regimes. As prateleiras dos supermercados estão carregadas de alimentos biodinâmicos, de produtos com pouca gordura, “pró-bióticos” e outros alimentos saudáveis. Quanto as intermináveis refeições de domingo, elas nos causam horror. Comer com fartura [...] deixou de ser uma paixão popular, a época aprova as refeições equilibradas, a alimentação leve benéfica à saúde e à magreza. [...] Cada vez mais a alimentação é considerada como um meio de prevenção ou mesmo de tratamento de certas doenças: a saúde, a longevidade, a beleza tornaram-se os novos referenciais que enquadram a relação com a mesa. p. 233

No entanto, é nesse exato momento que se propagam como um maremoto as bulimias e outras anarquias alimentares. De um lado, os valores da magreza, de saúde e de equilíbrio alimentar [...] do outro, multiplicam-se as compulsões e frenesis do neocomedor. p. 235

Mas nada disso acena à alegria dionisíaca. Bem ao contrário. Os excessos à mesa eram de origem coletiva, os nossos são individuais; eram festivos, são neuróticos; constituíam uma figura da felicidade coletiva, agora culpabilizam os indivíduos, tomando um caráter vergonhoso e patológico em uma cultura que reconhece apenas o controle de si. p. 235

[...] vemos a alimentação conquistada, por sua vez, pela forma-moda, que transforma a refeição em [...] divertimento total, co comidas inéditas, [...] decoração design, música ao gosto do dia. p. 236

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Um livro é

Um livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive.

VIEIRA, Padre Antônio

 

Eu desconfio de quem fala com a boca cheia

SANTOS, Joaquim Ferreira dos. Papo-Furado. Segundo Caderno. O Globo. Rio de Janeiro, 28 mar. 2005. Segundo Caderno. Disponível em: www.folha.com.br

Eu desconfio de quem fala com a boca cheia. Não de comida, que tem umas crianças lindas assim. Mas de boca cheia de palavras. Aprendi com o poeta que é preciso usar a faca afiada e enxugar a gordura verborrágica que, por nossa ignorância atávica, fomos acostumados a curtir nos deputados baianos, nos advogados paulistas, nos camelôs cariocas e nos pastores das universais do reino disso e daquilo. Uma das glórias nacionais é o sujeito que "fala bonito". Geralmente não passa de um perdulário das palavras. Gosta do volume que elas fazem na orelha do próximo. Dá preferência às mais complicadas do dicionário e gosta de juntá-las, uma atrás da outra, nem aí para o fato de não estarem significando senso algum. Então, o que que acontece?!... A grande platéia brasileirinha, que tem como requinte estético o malabarista de circo equilibrando garrafas, reconhece o pseudo-artista do verbo com a nova sardinha no focinho — e vibra invejosa de tanta falsa cultura.


Shinyashiki: Cuidado com os burros motivados

Em Heróis de verdade, o escritor combate a supervalorização da aparência e diz que falta ao Brasil é competência, e não auto-estima.

Roberto Shinyashiki
Report. Camilo Vannuchi (Isto é, 15/10/05)

"Hoje, como as pessoas não conseguem nem ser nem ter, o grande objetivo de vida se tornou parecer "

Observador contumaz das manias humanas, Roberto Shinyashiki está cansado dos jogos de aparência que tomaram conta das corporações e das famílias. Nas entrevistas de emprego, por exemplo, os candidatos repetem o que imaginam que deve ser dito. Num teatro constante, são todos felizes, motivados, corretos, embora muitas vezes pequem na competência. Dizem-se perfeccionistas: ninguém comete falhas, ninguém erra. Como Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa) em Poema em linha reta, o psiquiatra não compartilha da síndrome de super-heróis. "Nunca conheci quem tivesse levado porrada na vida (...) Toda a gente que eu conheço e que fala comigo nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, nunca foi senão príncipe", dizem os versos que o inspiraram a escrever Heróis de verdade. Farto de semideuses, faz soar seu alerta por uma mudança de atitude. "O mundo precisa de pessoas mais simples e verdadeiras."

ISTOÉ - Quem são os heróis de verdade?
Roberto Shinyashiki - Nossa sociedade ensina que, para ser uma pessoade sucesso, você precisa ser diretor de uma multinacional, ter carro importado, viajar de primeira classe. O mundo define que poucas pessoas deram certo. Isso é uma loucura. Para cada diretor de empresa, há milhares de funcionários que não chegaram a ser gerentes. E essas pessoas são tratadas como uma multidão de fracassados. Quando olha para a própria vida, a maioria se convence de que não valeu a pena porque não conseguiu ter o carro nem a casa maravilhosa. Para mim, é importante que o filho da moça que trabalha na minha casa possa se orgulhar da mãe. O mundo precisa de pessoas mais simples e transparentes. Heróis de verdade são aqueles que trabalham para realizar seus projetos de vida, e não para impressionar os outros. São pessoas que sabem pedir desculpas e admitir que erraram.

ISTOÉ - O sr. citaria exemplos?
Shinyashiki - Dona Zilda Arns, que não vai a determinados programas de tevê nem aparece de Cartier, mas está salvando milhões de pessoas. Quando eu nasci, minha mãe era empregada doméstica e meu pai, órfão aos sete anos, empregado em uma farmácia. Morávamos em um bairro miserável em São Vicente (SP) chamado Vila Margarida. Eles são meus heróis. Conseguiram criar seus quatro filhos, que hoje estão bem. Acho lindo quando o Cafu põe uma camisa em que está escrito "100% Jardim Irene". É pena que a maior parte das pessoas esconda suas raízes. O resultado é um mundo vítima da depressão, doença que acomete hoje 10% da população americana. Em países como Japão, Suécia e Noruega, há mais suicídio do que homicídio. Por que tanta gente se mata? Parte da culpa está na depressão das aparências, que acomete a mulher que, embora não ame mais o marido, mantém o casamento, ou o homem que passa décadas em um emprego que não o faz se sentir realizado, mas o faz se sentir seguro.

ISTOÉ - Qual o resultado disso?
Shinyashiki - Paranóia e depressão cada vez mais precoces. O pai quer preparar o filho para o futuro e mete o menino em aulas de inglês, informática e mandarim. Aos nove ou dez anos a depressão aparece. A única coisa que prepara uma criança para o futuro é ela poder ser criança. Com a desculpa de prepará-los para o futuro, os malucos dos pais estão roubando a infância dos filhos. Essas crianças serão adultos inseguros e terão discursos hipócritas. Aliás, a hipocrisia já predomina no mundo corporativo.

ISTOÉ - Por quê?
Shinyashiki - O mundo corporativo virou um mundo de faz-de-conta, a começar pelo processo de recrutamento. É contratado o sujeito com mais marketing pessoal. As corporações valorizam mais a auto-estima do que a competência. Sou presidente da Editora Gente e entrevistei uma moça que respondia todas as minhas perguntas com uma ou duas palavras. Disse que ela não parecia demonstrar interesse. Ela me respondeu estar muito interessada, mas, como falava pouco, pediu que eu pesasse o desempenho dela, e não a conversa. Até porque ela era candidata a um emprego na contabilidade, e não de relações públicas. Contratei na hora. Num processo clássico de seleção, ela não passaria da primeira etapa.

ISTOÉ - Há um script estabelecido?
Shinyashiki - Sim. Quer ver uma pergunta estúpida feita por um presidente de multinacional no programa O aprendiz? "Qual é seu defeito?" Todos respondem que o defeito é não pensar na vida pessoal: "Eu mergulho de cabeça na empresa. Preciso aprender a relaxar." É exatamente o que o chefe quer escutar. Por que você acha que nunca alguém respondeu ser desorganizado ou esquecido? É contratado quem é bom em conversar, em fingir. Da mesma forma, na maioria das vezes, são promovidos aqueles que fazem o jogo do poder. O vice-presidente de uma das maiores empresas do planeta me disse: "Sabe, Roberto, ninguém chega à vice-presidência sem mentir." Isso significa que quem fala a verdade não chega a diretor?

ISTOÉ - Temos um modelo de gestão que premia pessoas mal preparadas?
Shinyashiki - Ele cria pessoas arrogantes, que não têm a humildade de se preparar, que não têm capacidade de ler um livro até o fim e não se preocupam com o conhecimento. Muitas equipes precisam de motivação, mas o maior problema no Brasil é competência. Cuidado com os burros motivados. Há muita gente motivada fazendo besteira. Não adianta você assumir uma função para a qual não está preparado. Fui cirurgião e me orgulho de nunca um paciente ter morrido na minha mão. Mas tenho a humildade de reconhecer que isso nunca aconteceu graças a meus chefes, que foram sábios em não me dar um caso para o qual eu não estava preparado. Hoje, o garoto sai da faculdade achando que sabe fazer uma neurocirurgia. O Brasil se tornou incompetente e não acordou para isso.

ISTOÉ - Está sobrando auto-estima?
Shinyashiki - Falta às pessoas a verdadeira auto-estima. Se eu preciso que os outros digam que sou o melhor, minha auto-estima está baixa. Antes, o ter conseguia substituir o ser. O cara mal-educado dava uma gorjeta alta para conquistar o respeito do garçom. Hoje, como as pessoas não conseguem nem ser nem ter, o objetivo de vida se tornou parecer. As pessoas parece que sabem, parece que fazem, parece que acreditam. E poucos são humildes para confessar que não sabem. Há muitas mulheres solitárias no Brasil que preferem dizer que é melhor assim. Embora a auto-estima esteja baixa, fazem pose de que está tudo bem.

ISTOÉ - Por que nos deixamos levar por essa necessidade de sermos perfeitos em tudo e de valorizar a aparência?
Shinyashiki - Isso vem do vazio que sentimos. A gente continua valorizando os heróis. Quem vai salvar o Brasil? O Lula. Quem vai salvar o time? O técnico. Quem vai salvar meu casamento? O terapeuta. O problema é que eles não vão salvar nada! Tive um professor de filosofia que dizia: "Quando você quiser entender a essência do ser humano, imagine a rainha Elizabeth com uma crise de diarréia durante um jantar no Palácio de Buckingham." Pode parecer incrível, mas a rainha Elizabeth também tem diarréia. Ela certamente já teve dor de dente, já chorou de tristeza, já fez coisas que não deram certo. A gente tem de parar de procurar super-heróis. Porque se o super-herói não segura a onda, todo mundo o considera um fracassado.

ISTOÉ - O conceito muda quando a expectativa não se comprova?
Shinyashiki - Exatamente. A gente não é super-herói nem superfracassado. A gente acerta, erra, tem dias de alegria e dias de tristeza. Não há nada de errado nisso. Hoje, as pessoas estão questionando o Lula em parte porque acreditavam que ele fosse mudar suas vidas e se decepcionaram. A crise será positiva se elas entenderem que a responsabilidade pela própria vida é delas.

ISTOÉ - É comum colocar a culpa nos outros?
Shinyashiki - Sim. Há uma tendência a reclamar, dar desculpas e acusar alguém. Eu vejo as pessoas escondendo suas humanidades. Todas as empresas definem uma meta de crescimento no começo do ano. O presidente estabelece que a meta é crescer 15%, mas, se perguntar a ele em que está baseada essa expectativa, ele não vai saber responder. Ele estabelece um valor aleatoriamente, os diretores fingem que é factível e os vendedores já partem do princípio de que a meta não será cumprida e passam a buscar explicações para, no final do ano, justificar. A maioria das metas estabelecidas no Brasil não leva em conta a evolução do setor. É uma chutação total.

ISTOÉ - Muitas pessoas acham que é fácil para o Roberto Shinyashiki dizer essas coisas, já que ele é bem-sucedido. O senhor tem defeitos?
Shinyashiki - Tenho minhas angústias e inseguranças. Mas aceitá-las faz minha vida fluir facilmente. Há várias coisas que eu queria e não consegui. Jogar na Seleção Brasileira, tocar nos Beatles (risos). Meu filho mais velho nasceu com uma doença cerebral e hoje tem 25 anos. Com uma criança especial, eu aprendi que ou eu a amo do jeito que ela é ou vou massacrá-la o resto da vida para ser o filho que eu gostaria que fosse. Quando olho para trás, vejo que 60% das coisas que fiz deram certo. O resto foram apostas e erros. Dia desses apostei na edição de um livro que não deu certo. Um amigão me perguntou: "Quem decidiu publicar esse livro?" Eu respondi que tinha sido eu. O erro foi meu. Não preciso mentir.

ISTOÉ - Como as pessoas podem se livrar dessa tirania da aparência?
Shinyashiki - O primeiro passo é pensar nas coisas que fazem as pessoas cederem a essa tirania e tentar evitá-las. São três fraquezas. A primeira é precisar de aplauso, a segunda é precisar se sentir amada e a terceira é buscar segurança. Os Beatles foram recusados por gravadoras e nem por isso desistiram. Hoje, o erro das escolas de música é definir o estilo do aluno. Elas ensinam a tocar como o Steve Vai, o B. B. King ou o Keith Richards. Os MBAs têm o mesmo problema: ensinam os alunos a serem covers do Bill Gates. O que as escolas deveriam fazer é ajudar o aluno a desenvolver suas próprias potencialidades.

ISTOÉ - Muitas pessoas têm buscado sonhos que não são seus?
Shinyashiki - A sociedade quer definir o que é certo. São quatro loucuras da sociedade. A primeira é instituir que todos têm de ter sucesso, como se ele não tivesse significados individuais. A segunda loucura é: "Você tem de estar feliz todos os dias." A terceira é: "Você tem que comprar tudo o que puder." O resultado é esse consumismo absurdo. Por fim, a quarta loucura: "Você tem de fazer as coisas do jeito certo." Jeito certo não existe. Não há um caminho único para se fazer as coisas. As metas são interessantes para o sucesso, mas não para a felicidade. Felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito. Tem gente que diz que não será feliz enquanto não casar, enquanto outros se dizem infelizes justamente por causa do casamento. Você precisa ser feliz tomando sorvete, levando os filhos para brincar.

ISTOÉ - O sr. visita mestres na Índia com freqüência. Há alguma parábola que o sr. aprendeu com eles que o ajude a agir?
Shinyashiki - Quando era recém-formado em São Paulo, trabalhei em um hospital de pacientes terminais. Todos os dias morriam nove ou dez pacientes. Eu sempre procurei conversar com eles na hora da morte. A maior parte pega o médico pela camisa e diz: "Doutor, não me deixe morrer. Eu me sacrifiquei a vida inteira, agora eu quero ser feliz." Eu sentia uma dor enorme por não poder fazer nada. Ali eu aprendi que a felicidade é feita de coisas pequenas. Ninguém na hora da morte diz se arrepender por não ter aplicado o dinheiro em imóveis. Uma história que aprendi na Índia me ensinou muito.

O sujeito fugia de um urso e caiu em um barranco. Conseguiu se pendurar em algumas raízes. O urso tentava pegá-lo. Embaixo, onças pulavam para agarrar seu pé. No maior sufoco, o sujeito olha para o lado e vê um arbusto com um morango. Ele pega o morango, admira sua beleza e o saboreia. Cada vez mais nós temos ursos e onças à nossa volta. Mas é preciso comer os morangos.

Formas de pesquisa na web

CUNHA, Murilo Bastos da. Para saber mais: fontes de informação em ciência e tecnologia. Brasília: Briquet de Lemos, 2001. 168 p.
  1. BUSCA BOOLEANA (boolean search): tipo de busca que permite a utilização dos operadores E (AND, + ou &), NÃO (NOT, ou!), OU (OR) ou PRÓXIMO (NEAR ou ~) no sentido de incluir ou excluir documentos que contenham determinadas palavras ou termos;


  1. BUSCA DIFUSA (fuzzy search): busca de grafias alternativas de palavras fazendo combinações mesmo quando as palavras estão grafadas erradamente;


  1. BUSCA POR CONCEITO (concept search): busca de documentos que não contenham uma palavra específica mas que esteja relacionado conceitualmente com esta palavras;


  1. BUSCA POR FRASE (phrase search): busca por documentos que contenham uma frase ou sentença exata ou específica;


  1. BUSCA POR PALAVRA-CHAVE (keyword serach): estratégia de busca que requer que o resultado final contenha uma ou mais palavras especificadas;


  1. BUSCA POR PROXIMIDADE (proximity search): busca por documentos que contenham certas palavras perto de outra;


  1. ÍNDICE (índex): a lista de resultados da busca criado pelo macanismo de busca quando analisa sítios na web;


  1. RELEVÂNCIA (relevance): valor ou porcentagem de qualidade informativa de documentos recuperados de acordo com os termos de busca especificados previamente.


  1. BUSCA POR TRUNCAMENTO.


Pág. 100-101

Geografia de Santa Catarina

Posição geográfica

Totalmente na porção sul do hemisfério ocidental (subtropical)

OBS: Latitude = distância do equador e Longitude = distância de Greenwich


Amplitude com base nos pontos extremos:

  • latitude: 276,1 km

  • longitude: 543,5 km


  • Pontos extremos:

  • Norte: curva do rio Saí-Guaçú

  • Sul: nascente do rio Mampituba

  • Leste: ponta dos Ingleses

  • Oeste: confluência dos rio Peperi-Guaçú e Uruguai


Limites

  • Norte: Paraná, 756 km (rio Peperi ao saí-Guaçú)

  • Sul: RG, 958 km (Mampituba e Peperi)

  • Leste: Oceano Atlântico

  • Oeste: Argentina, 246 km (através do Peperi)


Núcleos originais

  • São Francisco do Sul, Desterro, Laguna e Lages.


  • Microrregiões (anexo 1)

São regiões de municípios que possuem identidade de ambiente físico, organização espacial, potencial produtivo e relações de produção. Existem 4 Mesoregiões: 1. Leste; 2. Florianópolis; 3. Sul e 4. Oeste que subdividem-se em 16 microrregiões:


Geologia (anexo 2)


Observação

  • Magmáticas: solidificação do magma, material ígneo resfriado (intrusiva = dentro da crosta. Ex: granito e extrusiva na superfície. Ex. basalto)

  • Metamórficas: da transformação de outras rochas dentro da crosta, devido á temperatura e pressão. Ex: gnaisses e mármore.

  • Sedimentares: erosão, restos de seres vivos e precipitação química de sais. Ex: arenito, carvão, calcário.


É diversificada pois seu território passou por diversos estágios de evolução. Do litoral para o interior surgem sucessivamente:

  1. faixa sedimentar descontínua do quaternário

  2. faixa de rochas magmáticas e metamórficas do pré-cambriano

  3. faixa de rochas sedimentares do paleozóico e mesozóico

  4. região coberta por derrames do mesozóico


  1. era Pré Cambriana (primitiva)

  • rochas mais antigas

  • próximo ao litoral

  • embasamento cristalino -> Complexo ou Plataforma Brasileira

  • rochas magmáticas intrusivas ou cristalinas

  • movimentos diastróficos (falhas, rebaixamento, etc.)


  1. era Paleozóica

  • Bacia sedimentar do Paraná (carvão)

  • Arenitos e folhelhos


  1. era Mesozóica (secundária)

  • região central e oeste (vulcanismo e fissura)

  • sorguimento e basculamento para Oeste (maiores altitudes = 2000 m)


  1. Cenozóico

  • principalmente litoral

  • áreas arenosas, mangues (São F. até Laguna), pântanos. = 2% área.


Relevo (anexo 3)


Características:

  • Maior altitude: contrafortes da serra geral com + 1400 m localizados no planalto de São Joaquim e arredores (1%)

  • Ponto culminante: 1808 m entre os municípios de Bom Jardim da Serra, Orleans e Urubici; temperaturas mais elevadas do país devido altura e afastamento entre os rios.

  • 89,9% entre 200 e 1400 m


  • Clima (anexo 4)


Observação: tempo = condição momentânea da atmosfera e clima = seqüência habitual de tipos de tempo

  • SC está em uma área de transição entre as regiões tropical e temperada propriamente dita, caracterizando-se pela subtropicalidade


Fator Maritimidade:

  • Correntes marítimas: a. do Brasil (quente): atua no litoral amenizando as temperaturas no período mais frio. b. Malvinas (fria): atua ocasionalmente provocando a queda da temperatura.


Fator Continentalidade:

  • principalmente no Centro-oeste, amenizando amplitudes térmicas (agravando as temperaturas)

  • por sua influência, no extremo oeste (mesmo não sendo a área mais ria) é onde ocorre as maiores amplitudes térmicas (máxima 40º e mínima –4º)


Fator circulação do ar:

  • Anticlone Tropical (reg. trop) = Oceano Atlântico

  • Anticlone Polar (reg. Subtropical) = AO -> surgem aqui massas de ar responsáveis pela dinâmica da atmosfera da região:

  1. Polar Atlântica (mPa): fria, seca, estável, no deslocamento adquire umidade do mar; temperaturas mais baixas.

  2. Tropical Atlântica (mTa): vento nordeste, chuvas orográficas e algumas trovoadas; temperaturas mais elevadas.


Do encontro destas duas surge a região Frontal (FPA) de grande instabilidade com ventos e queda da temperatura e tempo instável. Ocorre em todas as estações do ano.

Observação: atuam esporadicamente a Polar Pacífica (mPp) e Tropical Continental (mTc). Média anual -> Litoral (quente) + 20º e Planalto (moderada/fria) 15º.


Pluviosidade

  • distribuição uniforme

  • reflete atuação das massas mTa (velocidade) e mPa (umidade) regulando sua intensidade, volume e duração.

  • Média entre 1250 e 2000 mm; difere do Noroeste que supera 2000 mm e do litoral que é inferior 1250 mm.


  • Hidrografia (2 sistemas)

  1. Vertente do litoral: formada por bacias isoladas e rios que vcorrem diretamente para o mar; orientam-se no sentido Oeste-Leste; menores que os do interior; apenas a Bacia do Itajaí supera em área a do Iguaçú;


  1. Vertente do Interior (62,7%): formada pelas Bacias dos Rios Uruguai, Iguaçú (nasce em Curitiba) e afluentes; principal linha divisória é a escarpa da Serra Geral e Serra do Espigão, entre a Bacia do Iguaçú (norte) e rios da bacia do Uruguai;

  • maior Bacia Hidrográfica: Uruguai (formadores são Pelotas – nasce no Morro da Igraja - e Canoas – Campo dos Padres) com 51,65% território catarinense. Estância de águas termais em Chapecó, São Carlos, Piratuba, Palmitos, Caibí e Mondaí. (anexo 5)

  • a extensão, forma e número de afluentes do vale favorece as cheias;

  • represa de Pilões: Rio Vargem do Braço = maior reserva da capital

  • Rio Uruguai + Paraná + Paraguai = Rio da Prata

RADFAHRER, Luli. A arte da guerra para quem mexeu no queijo do pai rico.

RADFAHRER, Luli. A arte da guerra para quem mexeu no queijo do pai rico. São Paulo: Planeta do Brasil, 2004. 158 p.

O poder do pensamento negativo
A negação do ócio é a alma do negócio
Como ter muita sorte – muito rápido
A união faz a forca: nunca desdenhe a mediocridade
Diversões corporativas
Cara-de-pau e preguiça: como trabalhar em equipes
Os 7 hábitos dos puxa-sacos altamente eficazes
O que vale é a beleza exterior
O essencial do chic é ser elegante
O guia do assédio sexual impecável

[...] se você realmente acreditou nessa página, das duas uma: ou é estagiário ou precisa de ajuda médica urgente p. 15

É público e notório que uma grande corporação não é exatamente um lugar de gente muito inteligente. Você sabe muito bem o quanto seu chefe é burro, muito burro. Aquele colega que conseguiu a promoção no seu lugar, então, nem se fala. E aquele estagiário bonitão que dormiu com a chefa? Põe burro nisso! Sem contar os malditos gringos a quem você tem de se reportar, que, para serem burros, precisariam de um Ph. D. Ou nem isso, já que os consultores, com seus cartões de visitas cheios de letrinhas, não são melhores. p. 18

O burro só pode ser você, que estudou, se preparou, acreditou... well, my friend, duas notícias: uma boa e uma má. A boa é que seus colegas não estão tão bem assim, eles fingem. A má é que você realmente tem razão: o burro é você;. Sim, você – que não consegue arranjar outro emprego, que não consegue melhorar esse, que não consegue ser expatriado, não consegue ser demitido para montar um boteco ou uma pousada com o dinheiro da recisão e não consegue que o burro do seu chefe te entenda. p. 18-19

No fundo somos todos um pouco burros: no amor, nas mancadas com os amigos, nas compras por impulso, nos filmes que escolhemos sem ler a crítica, nos filmes que escolhemos porque lemos a crítica, quando nos sentimos espertos e achamos que isso é nossa exclusividade, quando acreditamos em soluções mágicas para emagrecer, combater a calvície, ficar rico, etc, etc, etc. p. 19

Neste instante toma consciência que as outras são ainda piores e que trabalho, se fosse bom, não seria remunerado. Como não pode nem tem paciência para fazer mais nada, você deixa os outros fazerem – e assume as glórias. É o ócio emocional. Com ele, somem as expectativas, angústias, estresse e culpa. As respostas ficam claras e a vida, muito mais simples. Pra que Budismo? p. 23

Benção? Sem dúvida. Já pensou se mudasse? Talvez você corresse o risco de ser um daqueles que gostam do trabalho. Que decoram suas baias, contam piadas sem graça e ficam no escritório muito depois do expediente, em atividades tão produtivas quanto arrumar gavetas, responder e-mails ou jogar games de mata-mata em rede. Que saem de lá e só contam coisas de lá. Até porque sua vida social se resume aos que vê lá – a tal ponto que, em muitas categorias profissionais, casais se formam dentro das empresas. Mais ou menos como animais que se reproduzem em cativeiro: um pouco doidos, mas tão bonitinhos nas suas jaulinhas... p. 24

[...] Se você foi demitido, não adianta nada pensar no que o seu guru de negócios predileto faria nessa situação, pois da mesma forma que top models nunca vão ao banheiro, gurus nunca são demitidos. Aliás, poucos deles chegaram a ser empregados. p. 30

Afinal, a única coisa que se leva do trabalho é o dinheiro. E nem é tanto assim. Por isso, não se incomode. p. 33

Sem necessidade, o jovem experimenta o trabalho por curiosidade, para se destacar em seu círculo social, sair do tédio, fugir da realidade. Ele sabe dos riscos que corre e não pode ignorar que, no início, o trabalho proporciona um prazer enorme – chega-se a situações de euforia e conforto que não seriam possíveis. Existe sempre alguém que pode oferecer trabalho de graça, sabe onde conseguir ou terceiriza, a fim de sustentar o próprio vício. p. 40

CLASSE DE SUBSTÂNCIA

LOCAL ENCONTRADO

EFEITOS

SUPERDOSAGEM: CONSEQUÊNCIAS

Alteradores de humor

Holerites

Derrubam o humor

Agressividade

Tranquilizantes

Conversas com chefes

Bocejos intermitentes

Aumenta o consumo de cafeína

Moderadores de apetite

Salas de reuniões, cantina

Não se permitem que se almoce

Gastrites e úlceras, queda da pressão arterial

Indutores do sono

Salas de reuniões

Sono profundo, narcoléptico

Atrofia cerebral

Estimulantes

Baias de estagiários

Equipes mais animadas

Intoxicação grave

Euforizantes

Salas de chefes

Sensação de poder, excitação e euforia

Paranóia e convulções

Relaxantes

Happy-hours

Indiscrições e confidências

Tentativas de suicídio

Alucinógenos

Salas de chefes

Visões (em casos raros, missões e valores)

Bad Trips, delírios, ansiedade e desorientação

p. 44

Nunca reconheça que você tem sorte quando o que aconteceu foi pura sorte. O máximo que receberá como reconhecimento é ser considerado algum tipo de imbecil sortudo. Entretanto, se negar o acaso, assumir as glórias fortuita se afirmar veementemente que coincidências não existem – apelando para Cabala ou a sincronicidade de Jung quando necessário – é possível que acabe por convencer alguém que o fato de chover no dia da apresentação foi resultado de sua irreconhecida habilidade. Nesses termos você se livra de algo vulgar ou corriqueiro como sorte. Se é para apelar para o esotérico, diga que é predestinado. p. 53

Entenda de uma vez por todas: quem gosta de trabalhar é estagiário, pessoas normalmente muito jovens, sem nada mais produtivo para fazer. Como elas têm uma energia inesgotável, as empresas, em atitude filantrópica, as tiram das ruas, onde gastariam sua força motriz em pensamentos fúteis, como amor, esportes, ética, cidadania, compaixão e educação e as recolhem para um abrigo acarpetado, com ar condicionado e, se derem sorte, um computador com impresora e acesso á internet. Assim ajudam a trocar o insalubre trinômio "sexo, drogas e rock'n roll" por elementos mais saudáveis como "rancor, antidepressivos, new age". p. 59

Mas dizer que as pessoas são simples não quer dizer que sejam simplórias, nem burras. Ou até que precisem de alguém para educá-las. Mesmo que precisassem, certamente não seria você. Muita gente mais culta, rica e inteligente que nós não faz a menor idéia de quem tenha sido Aristóteles nem que o Discurso sobre o método não tem nada a ver com a ABNT, e vive muito bem sem isso. p. 60

O homem simples e social sabe instinticvamente que a união faz a Força. Quando algum fator ameaça a vida em comunidade, seus membros unidos o combaterão e, provavelmente, o vencerão. Em termos corporativos, a união DELES pode fazer a SUA forca [...] a meritocracia é só uma bela embalagem para a mediocracia, a democracia da média. Ela funciona mais ou menos assim: se ninguém pensa, ninguém tem que pensar e as reuniões se tornam lugares agradáveis em que nada acontece. Por isso você precisa reconhecer certas particularidades dos seus colegas, compreender seus desejos e necessidades e aprender de uma vez por todas a conviver com eles, já que a única lei que realmente parece ser cumprida é a da selva. Não se prenda a forma como falam, se vestem ou até mesmo com o cargo que ocupam. A forma mais eficiente de defesa é identificá-los [...] pelas esquisitices que os fazem funcionar. p. 61



REUNIÃO COM O TÍTULO:

NORMALMENTE SE PRETENDE A:

Reunião (sem objetivo definido)

Matar tempo

Apresentação a supervidores / acionistas

Puxar o saco dos gringos

Apresentação de metas realizadas

Fingir que se trabalha

Definição de novas estruturas

Estabelecer relações de poder

Reunião de follow-up

Reafirmar relações de poder

Reunião de contexto estratégico

Mudar relações de poder

Alinhar as lideranças da empresa

Saber aonde levará tamanha incompetência

Expor estratégias corporativas

Mostrar que a Presidência vive em outro planeta

Apresentar projetos

Morrer de tédio

Fazer announcements

Cortar muitas cabeças

Comitê operacional

Cortar (ainda mais) custos

Reunião de feedback

Ter certeza de que se fez bobagem

Definição de metas

Estipular prazos irreais

Prestação de contas

Cortar seu projeto

Reunião com fornecedores

Testar sua capacidade de ser bajulado

Reunião com clientes

Testar sua capacidade de bajular

Reunião com a imprensa

Culpá-lo de qualquer palavra que sair na mídia

Reunião de departamento

Contar as cabeças para cortá-las

Integração

Constranger pessoas

Socialização

Constranger mais pessoas

Recursos humanos

Constranger muito mais pessoas e deixar marcas em sua reputação

Tranquilizar a equipe e definir rumos

Negar até a morte que a casa caiu

Reunião com seu chefe direto

Você está despedido

Reunião com o chefe do seu chefe

Seu chefe será despedido. E não haverá promoção

Acompanhamento de Grupos de Pesquisa

Ouvir desconhecidos falarem dos seus direitos

Introduzir novos membros na equipe

Apresentar gente que você já conhece ou não precisa conhecer

Comemorar metas

Cobrar mais metas de você

Apresentar programas de incentivo

Cobrar muito mais metas de você

Apresentar programas de motivação

Cobrar muito mais metas de você e obrigá-lo a atingi-las sorrindo

Reunião cancelada

Pare de enrolar e trabalhe

p. 80-82


Independente de seu estilo, a cultura popular das firmas não deixa dúvidas: chefe bom é chefe morto e as exceções só confirmam a regra. Histórias de controle, dominação, agressividade, insensibilidade, teimosia, insegurança, rigidez, autoritarismo, manipulação, sarcasmos, arrogância e outros sinais de uma vida sexual insatisfatória justificam uma postura tão radical de seus comandados. Mas o verdadeiramente engraçado é que aqueles que não suportam ter chefes sonham com o dia em que montarão seu próprio negócio, realizarão seu desejo de ser chefe e de construtir sua própria estrutura de criadagem e vassalagem. p. 107


Por mais que se mude o discurso, design e vistas das janelas, firmas são ambientes tão apolíticos quanto o Congresso e tão democráticos quanto o Exército. Quanto maior seu tamanho, mais estáveis serão suas instituições, em especial a mediocracia, a burocracia, o fisiologismo e o nepotismo. Em outras palavras, quase nada mudou desde a Idade das Trevas. Por isso nem pense em reclamar, na melhor das hipóteses você não será ouvido. p. 107


[...] por mais que possa parecer o contrário, a profissão mais velha do mundo é a de acompanhante – não a de consultor. Seu segredo convertido em hábito é a empatia. Pouco importa o dia ou o estresse, para elas o cliente sempre é tão bonito quanto a mãe o vê, tem tanto dinheiro quanto o filho desconfia, conquista tantas mulheres quanto a esposa suspeita e – acima de tudo – é realmente tão bom de cama quanto acredita. Tanto que sempre o saúdam com alguma variante de "olá, campeão". p. 114


[...] Sempre vale lembrar que algumas características são essenciais àquele que pretende ser um cara-de-pau exemplar: segurança, firmeza, sorriso constante, educação e gentileza. Se ameaçado, aparente grande ingenuidade e eterna indignação. p. 115


MASCULINO

SIGNIFICA

FEMININO

SIGNIFICA

Cão

O melhor amigo do homem

Cadela

Puta

Bonequinho

Brinquedo

Bonequinha

Puta

Vagabundo

Aquele que não trabalha

Vagabunda

Puta

Pistoleiro

Quem mata pessoas

Pistoleira

Puta

Boi

Gordo, forte

Vaca

Puta

Dado

Pessoa de bom trato

Dada

Puta

Aventureiro

Desbravador, viajante

Aventureira

Puta

Ambicioso

Visionário, enérgico, idealista

Ambiciosa

Puta

Garoto de rua

Menino pobre, que vive na rua

Garota de rua

Puta

Mascarado

Quem oculta sua identidade (como super-herói)

Mascarada

Puta

Atirado

Aventureiro, sempre disponível

Atirada

Puta

Homem da vida

Pessoa letrada pela sabedoria adquirida ao longo da vida

Mulher da vida

Puta

Homem público

Aquele que se consagra à vida pública

Mulher pública

Puta

Puto

Nervoso, irritado, bravo

Puta

Puta

p. 153


O trabalhador Golem

 por Thiry Cherques, Sobreviver ao trabalho 

O trabalhador-golem está longe de ser um indivíduo cuja existência foi truncada pelas necessidades da sobrevivência. Tampouco é um rebelde domado. É alguém a quem nunca ocorreu se rebelar. Alguém tão associado ao sistema que a ele aliena integralmente o espírito. Alguém que ambiciona pertencer, que quer ser reconhecido como útil à produção. [...] esse tipo de trabalhador desenvolve uma conduta de aceitação e conformidade. Manipulando e sendo manipulado, mitificando e crendo, ele é um exlcuído, um exilado do mundo que existe para além do trabalho. p. 22


A configuração socioeconômica que aí está [...] induz o florescimento da disposição de espírito do golem e dos seus avatares – o robô, o andróide e o cyborg – e encoraja a proliferação daqueles que dependem do sistema para sobreviver não só física, mas mental e socialmente. p. 22


[...] se realiza através das realizações do sistema. p. 24


Pode-se lamentar que seres humanos tenham cancelado os valores e as virtudes individuais. Que a sua esperança individual tenha chegado a se confundir com a esperança coletiva, e a fortuna da sua existência com a fortuna da produção. Mas a sobrevivência, tal como aqui colocada – coerência pessoal e resistência da psique ante as pressões do sistema -, impõe, para que possa se efetivar, uam lógica, uma explicação do mundo e da vida. p. 25


São duas as características de sua constituição: a mentalidade conformista e o desejo de alienar á outra instância a vontade e a decisão sobre o viver – o anseio de estar identificado com alguma estrutura social, seja ela qual for. A primeira deriva da sujeição como condição da existência. A segunda, da convicção ou da sensação de que a individualidade só existe enquanto parte. Ambas, da idéia de que cada um de nós é o que é somente em relação aos outros, aos grupos, às instituições, às organizações. Trata-se de uma exacerbação da idéia hegeliana do reconhecimento. Para o trabalhador-golem, ser não é apenas ser reconhecido. Ser é ser reconhecido como parte funcional, como subsistema. 25


[...] uma mistura de mentalidade de gueto e de vontade de inclusão. 26


O gueto é uma situação extrema, mas a "mentalidade de gueto" não. É até bastante comum. A primeira característica dessa mentalidade é a recusa em ver. [...] A segunda característica [...] é a insensibilidade como tática de sobrevivência. 27


[...] o alheamento do sistema significa a perda cada vez mais pronunciada do sentido da própria vida. [...] Mais e mais essas pessoas fazem seus os valores das organizações. Para elas, há cada vez manos vida fora do sistema. [...] toda a perspectiva da vida está limitada ao "pertencimento". p. 27


Quando os valores do sistema são tidos como valores da vida, sobrevivência torna-se tão controlável quanto controláveis são os fatores de mercado e o progresso técnico para o trabalhador na linha de produção.de forma que os trabalhadores-golem são triplamente alienados: alienam a sua força de produção [...]; alienam sua vontade [...] às forças de mercado; e alienam sua vida espiritual ao fortuito, ao aleatório, ao acaso do seu destino material. 28

Thiry Cherques, Sobreviver ao trabalho 

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