Um livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive. (Padre Antônio Vieira)
terça-feira, 27 de julho de 2010
domingo, 18 de julho de 2010
Deus criou-me para criança, e deixou-me sempre criança
Deus criou-me para criança, e deixou-me sempre criança. Mas por que deixou que a Vida me batesse e me tirasse os brinquedos, e me deixasse só no recreio, amarrotando com as mãos tão fracas o bibe azul sujo de lágrimas compridas? Se eu não poderia viver senão acarinhado, por que deitaram fora o meu carinho? Ah, cada vez que vejo nas ruas uma criança a chorar, uma criança exilada dos outros, dói-me mais que a tristeza da criança o horror desprevenido do meu coração exausto. Doo-me com toda a estatura da vida sentida, e são minhas as mãos que torcem o canto do bibe, são minhas as bocas tortas das lágrimas verdadeiras, é minha a fraqueza, é minha a solidão, e os risos da vida adulta que passa usam-me como luzes de fósforos riscados no estofo sensível do meu coração.
PESSOA, Fernando. Livro do desassossego: composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p. 364-365
PESSOA, Fernando. Livro do desassossego: composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p. 364-365
O conhecimento da felicidade é infeliz
Não há felicidade senão com conhecimento. Mas o conhecimento da felicidade é infeliz. porque conhecer-se feliz é conhecer-se passando pela felicidade, e tendo, logo já, que deixá-la atrás. Saber é matar, na felicidade como em tudo. Não saber, porém, é não exisitir.
PESSOA, Fernando. Livro do desassossego: composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p. 364
A vida seria insuportável se tomássemos consciência dela
A vida seria insuportável se tomássemos consciência dela. Felizmente o não fazemos. Vivemos com a mesma inconsciência dos animais, do mesmo modo fútil e inútil, e se antecipamos a morte, que é de supor, sem que seja certo, que eles não antecipam, antecipamo-la atavés de tantos esquecimentos, de tantas distrações e desvios, que mal podemos dizer que pensamos nela.
PESSOA, Fernando. Livro do desassossego: composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p. 363
terça-feira, 13 de julho de 2010
A desconfiança em relação às grande filosofias
Filósofos são déspotas que não possuem nenhum exército, por isso submetem o mundo todo encerrando-o num sistema. Provavelmente por isso, nos tempos dos tiradnos houve grandes filósofos, enquanto nos tempos de civilização mais avançada e democrática não se consegue produzir nenhuma filosofia convincente [...] reina desconfiança em relação às grande filosofias.
MUSIL, Robert. O homem sem qualidades. Tradução de Lya Luft e Carlos Abbenseth. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989. p. 182-183
domingo, 11 de julho de 2010
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