Um livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive. (Padre Antônio Vieira)

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Vídeo Games

Grande ator

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Reggae da tainha

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Os paradoxos da verdade

Que demanda a perfeição parece ser imperfeito.
Embora a sua oculta plenitude plenifique todas as vacuidades.
Quem possui verdadeira plenitude é inesgotável,
por mais que se esgote.
Quem anda direito, parece torto.
Grande habilidade parece inabilidade.
Arte genuína parece mediocridade.
Movimento supera o frio.
Quietação vence o calor.
O que é puro e reto sempre orienta o mundo.

 
LAO-TSE. Tao Te King: o livro que revela deus. Tradução e notas de Humberto Rohden. 9 ed. ilustrada. São Paulo: Alvorada, c1990.

Um bom ano novo

Um bom ano novo à todos àqueles que sacanearam alguém neste ano de 2011, que agiram sem ética, egoicamente, que roubaram, que caluniaram, que mentiram, que traíram. Receberão tudo em dobro em 2012.
 
São os votos sinceros do Bibliotecário Maluco

Muitas breves tolices...

Sempre cautelosos achei os compradores e, todos, com olhos espertos. Mas também o mais esperto deles ainda compra sua mulher como nabos em saco. Muitas breves tolices – a isso chamei amor. E vosso casamento acaba com as muitas breves tolices numa única e longa estupidez. p. 97
 
 
NIETZSCHE, Friedrich W. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Tradução de Mário da Silva. 12. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 381 p.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Não se subordinar a nada...

Não se subordinar a nada – nem a um homem, nem a um amor, nem a uma ideia, ter aquela independência longínqua que consiste em não crer na verdade, nem, se a houvesse, na utilidade do conhecimento dela – tal é o estado em que, parece-me, deve decorrer, para consigo mesma, a vida íntima intelectual dos que não vivem sem pensar. Pertencer – eis a banalidade. Credo, ideal, mulher ou profissão – tudo isso é a cela e as algemas. Ser é estar livre. p. 234
PESSOA, Fernando. Livro do desassossego: composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 534 p.

O mundo só pertence aos estúpidos

Na vida de hoje, o mundo só pertence aos estúpidos, aos insensíveis e aos agitados. O direito a viver e a triunfar conquista-se hoje quase pelos mesmos processos por que se conquista o internamento num manicómio: a incapacidade de pensar, a amoralidade, e a hiperexcitação. p. 188
PESSOA, Fernando. Livro do desassossego: composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 534 p.

Considero a vida uma estalagem...

Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde ela me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. [...] Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero. Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outos, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também. p. 46-47.
PESSOA, Fernando. Livro do desassossego: composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 534 p.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A paz como vitória

A vós, não aconselho o trabalho, mas a luta. A vós, não aconselho a paz, mas a vitória. Que o vosso trabalho seja uma luta; e a vossa paz, uma vitória! p. 73

 
NIETZSCHE, Friedrich W. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Tradução de Mário da Silva. 12. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 381 p.

Bifaland

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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O antípoda de um décadent

(...) Pois é preciso que se dê atenção a isso: os anos em que minha vitalidade foi mais débil foram os anos em que deixei de ser pessimista: o instinto do auto-reestabelecimento me proibiu uma filosofia da miséria e do desanimo... E é nisso que se reconhece, no fundo, a vida-que-deu-certo! No fato de um homem bem educado fazer bem aos nossos sentidos: no fato de ele ser talhado em uma madeira que é dura, suave e cheirosa ao mesmo tempo. A ele só faz gosto o que lhe é salutar; seu prazer, seu desejo acabam lá onde as fronteiras do salutar passam a estar em perigo. Ele adivinha meios curativos contra lesões, ele aproveita acasos desagradáveis em seu próprio favor; o que não acaba com ele, fortalece-o. Ele acumula por instinto tudo aquilo que vê, ouve e experimenta à sua soma: ele é um princípio selecionador, ele reprova muito. Ele está sempre em sua própria companhia, mesmo que esteja em contato com livros, pessoas ou paisagens: ele honra pelo ato de selecionar, pelo ato de permitir, pelo ato de confiar. A todo o tipo de estímulo ele reage lentamente, com aquela lentidão que uma longa cautela e um orgulho desejado inculcaram nele – ele testa o estímulo que se aproxima; ele está longe de ir ao encontro dele. Ele não acredita nem no "infortúnio" nem na "culpa": ele se dá conta de si mesmo e dos outros; ele sabe esquecer...Ele é forte o suficiente a ponto de fazer com que tudo tenha de vir para o seu bem...Vá lá, eu sou o antípoda de um décadent: pois acabei de descrever a mim mesmo.
 
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Ecce Homo: de como a gente se torna o que a gente é. Porto Alegre: L&PM, 2002. 208 p. 17 cm

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O mosquito e o touro

Um mosquito pousou no chifre de um touro e ficou ali um bom tempo. Quando ia sair, perguntou ao touro:
- Queres mesmo que eu vá embora?
O touro respondeu:
- Assim como não senti tua chegada, não vou sentir tua partida.
Aqui ou alhures, o insignificante não causa nem o bem nem o mal a ninguém.
 
 
ESOPO. Fábulas de Esopo. Tradução de Antônio Carlos Vianna. Porto Alegre: L&PM, 2010. p. 75

A rã e o rato

Um rato do campo criou fortes laços de amizade com uma rã. Esta teve a infeliz idéia de atar a pata do rato à sua. E foram juntos pelos campos para arranjar alimento. Quando chegaram à beira de um açude, a rã arrastou o rato para o fundo, lançando-se na água com espalhafato. O pobre do rato, de tanto beber água, morreu. Como seu cadáver flutuasse, amarrado que estava à pata da rã, um milhafre veio e o levou em suas garras. A rã foi forçada a ir com ele e terminou também na pança do milhafre.
 
Tua vítima, mesmo morta, pode ainda te punir; a justiça divina a tudo vigia e, com o olho na balança, dá a cada um o que merece.
 
 
 
ESOPO. Fábulas de Esopo. Tradução de Antônio Carlos Vianna. Porto Alegre: L&PM, 2010. p. 71
 
 

sábado, 3 de dezembro de 2011

O pavão e a grua

O pavão zombava da grua por causa da cor de sua plumagem:
- Minha roupa é de ouro e púrpura, já a tua plumagem não tem nenhuma beleza.
- Só eu - respondeu a grua, canto entre as estrelas, e meu vôo me leva às alturas; tu, igual a um galo, caminhas pela terra como a galinhada.
Melhor a glória em andrajos que a desonra no fausto.
 
 
ESOPO. Fábulas de Esopo. Tradução de Antônio Carlos Vianna. Porto Alegre: L&PM, 2010. p. 48
 

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Assim falou Zaratustra

Contra eles não mais levantes o braço; inúmeros são eles e não nasceste para enxota-moscas. p. 79

Aquilo que conhecemos num homem é, também, o que nele inflamamos. Guarda-te, portanto, dos pequenos! p. 80

Não é melhor ir parar nas mãos de um assassino do que nos sonhos de uma mulher libidinosa? p. 81
 
NIETZSCHE, Friedrich W. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Tradução de Mário da Silva. 12. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 381 p.

sábado, 19 de novembro de 2011

Os imbecis e as aparências

Mas não importa o que façamos, os imbecis e as aparências falam contra nós, dizendo: "Estes são homens sem dever" – sempre temos os imbecis e as aparências contra nós. p. 132

NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Além do bem e do mal: prelúdio à uma filosofia do futuro. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A gata e Afrodite

Uma gata que se apaixonara por um fino rapaz pediu a Afrodite para transformá-la em mulher. Comovida por tal paixão, a deusa transformou o animal numa bela jovem. O rapaz a viu, apaixonou-se por ela e a desposou. Para ver se a gata havia se transformado completamente em mulher, Afrodite colocou um camundongo no quarto nupcial. Esquecendo onde estava, a bela criatura foi logo saltando do leito e pôs-se a correr atrás do ratinho para comê-lo. Indignada, a deusa fê-la voltar ao que era.
O perverso pode mudar de aparência, mas não de hábitos.
 
 
ESOPO. Fábulas de Esopo. Tradução de Antônio Carlos Vianna. Porto Alegre: L&PM, 2010. p. 9

A camela

Uma camela atravessava um rio de águas turbulentas. Tendo defecado, as fezes levadas pelo redemoinho foram parar no seu focinho. Então ela exclamou:
- Como é que o que estava atrás veio parar na minha frente?
Em certas ocasiões, os sensatos são ultrapassados pelos piores imbecis.
 
 
ESOPO. Fábulas de Esopo. Tradução de Antônio Carlos Vianna. Porto Alegre: L&PM, 2010. 176 p.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Samba de Cristina

Cristina, eu quero percorrer
Do seu corpo todas as paragens,
Eu quero ser um louco
Que conversa com suas tatuagens.

E te ver de todos ângulos,
Saber de todos seus enganos,
Sambar com você a noite inteira,
Na boemia de segunda feira.

(refrão)
Cristina!
Eu fiz um samba novo em homenagem à você
Eu fiz um samba novo em homenagem à você
Sei que posso parecer bobo,
Sei que pode parecer clichê.
Mas eu fiz.
 
 
Composição: f. foresti

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Causa do poeta

O amor não causa asas,
Mas faz voar e suspende.
O amor não causa a ruína,
Mas faz cair e despedaça.

O amor não causa o júbilo,
Mas faz sorrir e envaidece.
O amor não causa a dor,
Mas faz doer e mortifica.

Escritos a tão dura pena,
Não são do amor esses versos,
O amor não causa o poema.

Mas faz inspirar a poesia,
É causa do poeta que ama,
Causar na amada alegria.


Sonho demais

Rio e divirto-me com meus sonhos,
Vãs realidades,
E se deixo alguns para trás,
Não é porque não os quero:
É que sonho demais.

Fabiano Foresti

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Pele de pavão

Pele de pavão,
Recolhe meu coração e
Leva para qualquer lugar,
Mas tira do chão.

Pele de pavão,
Abre suas asas e
Traz sabedoria,
Faz minh'alma calar.

Devagar e no escuro,
Ensina o silêncio absoluto
Para este tolo,

Para esta alma rasa,
Ensina-me a dançar.
Pele de pavão: me faz cantar.

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O beijo-sopro

Beijo-sopro,
Leva para longe
Meu coração assustado
E esconde ele

Em qualquer lugar
Impossível de localizar.
Ele não quer mais bater,
Não quer mais me pertencer.

Beijo sopro,
Traz um pouco de vida
Para esta alma perdida

Que em meu corpo não quer ficar.
Beijo-sopro, revele seus segredos e
Retire do meu coração e alma todo o medo.

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Pele de cobra

Pele de cobra branca
Que com calma dança
E caminha e olha
Com movimento perfeito.

Pele de cobra que
Faz minh'alma sonhar
E descobrir o novo
Que vens mostrar.

Pele de cobra que
Transforma meu mundo
E pinta no céu as cores

Que surgem no infinito
Da sua pele branca tatuada:
Pele de cobra: sei, ouço, sinto.

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terça-feira, 1 de novembro de 2011

Boemia de segunda feira

Quero percorrer, do seu corpo,
Todas as paragens,
Eu quero ser um louco
Que conversa com suas tatuagens.
E te ver sob todos os ângulos,
Saber de todos seus enganos,
Sambar com você a noite inteira
Na boemia de segunda feira.
Fiz um samba novo
Em homenagem à você,
Sei que posso parecer bobo,
Sei que pode parecer clichê,
Mas sambar com você é tão gostoso,
Fique sabendo: estou a sua mercê.

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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Parábola e conto de fada

Quando te chamaram de Branca de Neve,
O Lobo Mau te confundiu com Chapeuzinho Vermelho.
Sentiu-se João e o pé de feijão,
Pediu ajuda para João e Maria,
Fez acordo com os sete anões e
Depois foi pedir conselhos para Cinderela.
"Para que tantas flores Chapeuzinho?"
Ao final, foi fumar e tocar violão com a cigarra,
Apesar de ser parábola,
De não ser conto de fada.

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Quando os anjos calaram

Vem, volta sambar comigo,
Você dança tão bem,
Você dança como ninguém,
Fiz até um samba pro seu cavaquinho.

Lembro da roda de samba,
Da música boa, dos amigos,
Dos meus sentimentos rasos
E da sua roupa colirida.

Lembro que lhe chamaram
De Branca de Neve,
Que meus olhos não acreditaram,

Tão alva era a sua pele.
Naquela noite os anjos calaram
Só para observar seu samba leve.


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A poesia em si

A poesia em si
Não é nada para mi,
Só deixa só.
Mas tanto fá.

Não fique em dó,
Se eu levei ré,
Canto meu lá lá lá,
De forma qualquer.

A poesia só tem valor
Se é escrita com sangue.
Mas o sangue pode ser
Apenas tinta vermelha.
O que importa de fato
É a capacidade de sofrer do poeta.
E com relação a isso, meus amigos,
Este poeta chorão é um atleta.
Deixem-me ficar com dó em mi, que,
Mesmo lá, estarei só, em si menor sustenido.


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sábado, 29 de outubro de 2011

Você acende as horas

Meu amor, você acende as horas.
Meu amor, volta sem demora.
Meu amor, fica aqui comigo
Pra gente sambar.

Meu amor, eu te amo tanto.
Meu amor, resolve o meu pranto.
Meu amor, viaja comigo
Pra qualquer lugar.

Meu amor, faz acontecer.
Mostra tudo o que eu deixer de ver.
Acaba com essa minha dor
Não me faz chorar.

Amor tão bonito,
Tão realidade,
Acreditei tanto
Ser uma verdade,
Agora eu tô sozinho
Só faço chorar.


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Eu quero ser

Eu quero ser feliz,
Mas o meu coração só me faz triste.
Eu quero ser o que não existe.
Mudei de idéia: eu quero ser infeliz.
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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Rosas e brasas

Lembra quando lhe disse
Que fui ao céu e voltei?
Tem uma parte deste incidente
Que, meu amor, eu não lhe contei.
 
Quando estava voltando,
Vi teu corpo do lado de cima,
E reparei: como é perfeito
Este ângulo que ninguém vira.
 
Mais perto cheguei, num zeloso sondar,
Notei tão lindas tatuagens coloridas,
Aflito, sem saber com qual brincar,
 
Percorri você inteira, e em tuas costas largas,
Macias, uma tatuagem que ria, dizia:
"Inoportuno, queres rosas? Terás brasas".

fabricio e fabiano foresti
www.palavrascomcheiro.com
 
 

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Tom Waits

É isso aí, tá tudo muito fácil. Acho inclusive que foi toda essa facilidade que produziu a geração mais bundona de todos os tempos, essa que está aí com seus iPhones enfiados no cu e um bonezinho com uma marca gigante na cabeça. Ninguém quer procurar, fazer esforço, CONSTRUIR alguma coisa. Não, o negócio é ficar na merda do facefuck o dia inteiro recebendo uma coisa "engraçadinha" depois da outra  e passando adiante. São mimados inúteis que jamais tomarão qualquer responsabilidade para si e seu grito de guerra é "Tá de boa". Caralho, nada irrita mais que ouvir essa merda, "tá de boa".

 
No The Guardian de hoje. 

Um belo trecho:

He is, he says, equally wary of the ease of search and shuffle. "They have removed the struggle to find anything. And therefore there is no genuine sense of discovery. Struggle is the first thing we know getting along the birth canal, out in the world. It's pretty basic. Book store owners and record store owners used to be oracles, in that way; you'd go in this dusty old place and they might point you toward something that would change your life. All that's gone."

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Cicatrizes e tatuagens

Sim, vou adormecer com as suas palavras
Que chegaram flutuando sobre as águas
De um outro planeta, e com precisão galáctica
Acertaram o meu coração como um cometa.
Sim, vou sonhar com você a noite inteira,
Minha musa que não é deste mundo,
Com todas as marcas que a vida lhe dera,
Aqui, neste meu quarto triste e escuro.
Quero que cada uma das minhas cicatrizes
Encontre todas as suas tatuagens
E transformem-se em uma miríade de matizes
Do vermelho, e através do meu coração-bagagem,
Ilumine os corações de todos os marginais e infelizes,
E em silêncio, lunáticos, continuemos nossa viagem.

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sábado, 15 de outubro de 2011

Soneto da Lua de Cristina

Peço para você, Cristina,
Que faça-me sentir e enxergar o belo,
Pois em meu mundo só existe ruína,
E o que sobrou foi destinado ao flagelo.

Sempre cometo os mesmos erros,
Enquanto você só faz acertar,
Em caminhos que não são terrenos,
Planetas obscuros que fico a imaginar.

Lá, não existe reminiscência,
Em suas ondas sonoras que vem de longe
Não tem nenhuma interferência.

Fica comigo aqui, lunar, e conte-me,
Mostre-me: a perfeição, como se faz?
Em silêncio, espacial, em sua lua errante.

fforesti.com.br

Não tem nada

Brinquedo, beijo, carinho,
Eu sei fazer, eu posso dar,
Tudo com calma e devagarinho,
Para nossas almas conversar.
Sorriso, abraço, versinho,
Eu sei fazer, eu posso dar,
Tudo com atenção, aos pouquinhos,
Para você se desimaginar.
Brinquedo, beijo, abracinho,
É possível sonhar
Todos esses carinhos?
Lembra, amanhã vamos brincar!
Tem uma estória, tem um beijinho?
Não tem nada, acorda, vai trabalhar.

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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Para quem ousa e escreve

Oh Deus, estou tão satisfeito,
Por escrever esta poesia maluca,
Por obter êxito em minha labuta,
Em tornar grande este pequenino feito.

Conseguir falar de amor e dor,
Expressar-me coerentemente,
Usar palavras quentes, veementes,
Tudo sem nem um pouco de rancor.

A poesia, para quem ousa e escreve,
Mostra-se de fato um santo remédio.
Especialmente os sonetos, tão leves,

E ao final, pergunto-me: de quem é o mérito?
É dessa minha alma doente que vive nas estepes
Do meu coração que está enterrado e morto.


fforesti.com.br

O cheiro dos que amam

Preciso escrever uma poesia para ganhar o dia
Que está perdido, parado, sem nenhuma graça,
Quem sabe gargalhar? Contento-me com uma risada,
Mesmo amarela, e escrever qualquer coisa com magia.

Tem de falar de amor, de preferência conter muita dor.
Sofre coração, sofre que eu preciso escrever,
Mesmo que contra a parede minha cabeça eu tenha de bater.
Preciso de muita dor, eu preciso muito falar de amor.
 
Silêncio! Silêncio que eu quero ouvir!
Todas as emoções que se anunciam,
Todos os sentimentos que estão por vir.

E quando sinto o cheiro dos que amam, minh'alma clama:
Quero ver você com uma imensa vontade de chorar e rir!
Chegou sua hora coração, o soneto está pronto, o amor te chama.



f. foresti

Soneto do coração e da bailarina

Presta atenção coração:
Chega de fazer-me sofrer,
Já estou cansado de morrer
E sentir tanta emoção.

Traz a bailarina para perto de você,
Deixa ela dançar devagarinho
Com seus pés de passarinho
Nas ruínas desta superfície que ninguém vê.

Ela tem ritmo,
Que é tudo o que você precisa
Neste seu complexo sistema cardíaco.

Quando ela dançar virá a brisa
De uma vida leve, e de mansinho,
Voltará a bater este pedaço de carne moída.
 
f. foresti

Quando canto o que não minto...

Quero ser livre, insinsero,
Sem crença, dever ou posto.
Prisões, nem de amor as quero,
Não me amem, porque não gosto.
 
Quando canto o que não minto
E choro o que sucedeu,
É que esqueci o que sinto
E julgo que não sou eu.
 
De mim mesmo viandante
Colho as músicas na aragem,
Que a minha própria alma errante
É uma canção de viajem.
 
E cai um grande e calmo efeito
De nada ter razão de ser
Do céu nulo como um direito
Na terra vil como um dever.
 
A chuva morta ainda ensopa
O chão nocturno do céu limpo,
E faço, sob a aguada roupa,
Figuras sociais a tempo.
 
 
PESSOA, Fernando. Poesia: 1918-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. 487 p.

O grande sol na eira

O grande sol na eira
Talvez seja o remédio...
Não quero quem me queira,
Amarem-me faz tédio.
 
Baste-me o beijo abstracto
Que o sol dá com o luzir
E o amor alheio e exacto
Dos campos a florir.
 
O resto é gente e alma:
Complica, fala, vê.
Tira-me o sonho e a calma
E nunca é o que é.
 
 
PESSOA, Fernando. Poesia: 1918-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. 487 p.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Nexus - Henry Miller

MILLER, Henry. Nexus. Tradução de Sérgio Flaksmann. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. 410 p.
 
Toda pessoa sincera tem uma certa dose de talento. p. 156
 
Um Sócrates atrelado a uma mulher insuportável, um santo assolado por mil infortúnios, um profeta coberto de piche e penas... para quê? Tudo grão para o moinho, dados para os historiadores e cronistas, veneno para a criança, caviar para o professor. E com isso e através disso, caminhando em ziguezague como um bêbado inspirado, o escritor conta a sua história, vive e respira, encontra a honra ou desonra. Que papel! Que deus nos proteja! p. 169
 
As mulheres, quando realmente gratas pela atenção que recebem, quase sempre acabam oferecendo o corpo. p. 236-237
 
Escrevemos sabendo que já estamos derrotados desde o início. Todo dia suplicamos por novos tormentos. Quanto mais sentimos coceiras e nos coçamos, melhor nos sentimos. E quando nossos leitores também começam a sentir coceiras e a se coçar, sentimo-nos sublimes. Que ninguém morra de inanição! Os ares devem estar sempre fervilhando de flechas de pensamentos lançadas pelos literatos, les hommes de lettres. As letras, vejam bem. Que formulação feliz! Letras reunidas por fios invisíveis tomados por imponderáveis correntes magnéticas. [...] Uma mente distribuída por livros, páginas, frases repletas de vírgulas, pontos, ponto-e-vírgulas, travessões e asteriscos. Um autor conquista um prêmio ou uma cadeira na Academia por seus esforços, ao outro só cabe um osso roído pelos vermes. Os nomes de alguns são dados a ruas e bulevares, os de outros a prisões e asilos. E mesmo depois que todas essas "criações" tiverem sido finalmente lidas e digeridas, os homens ainda estarão atacando uns aos outros. Nenhum escritor, nem mesmo o maior deles, jamais foi capaz de contornar esse fato duro e frio. p. 310
 
É desnecessário, nesse reino radioso, consumir excremento humano ou copular com os mortos, a exemplo de certas almas disciplinadas, e nem é necessário abster-se de comida, álcool, sexo ou drogas, à maneira dos anacoretas. Nem é obrigatório estudar horas a fio as escalas maior e menor, os arpejos, os pizzicati ou as cadenzas, como a progênie de Lizst, Czerny e outros virtuosi pirotécnicos. Nem a pessoa precisa se matar de trabalho para fazer mundos explodirem como fogos de artifício, de conformidade com as regras balísticas de semanticistas embriagados. É suficiente, e mais que suficiente, bocejar, espreguiçar-se, espirrar, peidar e relinchar. Regras são para os bárbaros, técnica é para os trogloditas. Basta de Minnesingers, mesmo que sejam da Capadócia!

Bailarina

Se eu pensar na bailarina
Eu posso até... sorrir.
Se eu lembrar da bailarina
Eu posso até... chorar.
Sim...
Se eu falar da bailarina
Todos atentos vão ouvir.
Se eu falar do seu jeitnho
Ninguém vai acreditar.
Sim...


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terça-feira, 11 de outubro de 2011

Gato Preto

http://ultralafa.wordpress.com/

Por que hoje é mais vantajoso vender editoras do que livros

 
RESUMO Às vésperas da Feira de Frankfurt, o mercado de livros discute seu futuro, delineado entre editores de perfil artesanal e intelectualizado e os conglomerados que buscam máxima rentabilidade em best-sellers e na compra e venda de editoras. Lançamento de romance nos EUA indica guinada no modelo de negócios.

PAULO ROBERTO PIRES

"LIVRO É UM produto como outro qualquer." Categórica e vazia, a frase é um mantra do mercado editorial globalizado. É repetida sempre que, num grande grupo editorial, há controvérsia sobre a publicação de determinado título.
Ela parte, em geral, de alguém que foi parar no meio editorial por contingência e destina-se, sempre, a um outro que ali faz carreira. O executivo transitório, que pode se ocupar de petróleo, sardinhas ou mariola, adverte o editor: não reivindique diferença e distinção para o que você faz, o trabalho intelectual é secundário no nosso negócio, que é vender livros.
Se à distância a situação soa esquemática como uma peça didática de Brecht, de perto ela é de um brutal realismo. Nesta semana, aliás, o mantra será repetido em várias línguas com o início da temporada anual de migração de editores. O destino, como em todo mês de outubro das últimas seis décadas, é Frankfurt, onde a maior e mais antiga feira de livros do mundo abre, nesta quarta-feira, como um sismógrafo das transformações do mercado.

CORPORAÇÃO Antes que o leitor se pergunte o que tem a ver com as agruras de uma corporação, é bom lembrar que o que acontece com esses profissionais acaba mexendo com sua cabeça e com a de seus filhos. Ou melhor, pode determinar que vossas cabeças sejam mexidas apenas pela pacífica mesmice das "tendências".
É desse mundo que nasce "O Dinheiro e as Palavras" [Bei, trad. Celso Mauro Paciornik, 152 págs., R$ 39] -e é com esse mundo que ajuda a fazer um nexo crítico. É dos títulos mais destacados de uma voga recente, a de livros que pensam, de dentro, os rumos da profissão e do que se publica no mundo. O autor, André Schiffrin, 76, desafina a tradição das "memórias de editor", em geral glosas dos próprios êxitos, e deita num divã público ao qual, inevitavelmente, acaba arrastando seus pares.
Não lhe falta pedigree nem conhecimento de causa. Seu pai, Jacques Schiffrin, criou a Bibliothèque de la Pléiade, coleção que na França é um santuário de clássicos, e, ao emigrar para os EUA durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45), fundou a Pantheon Books. Foi lá que André fez carreira e de lá saiu, depois de 30 anos na direção, quando viu o catálogo, formado em toda uma vida, desfigurar-se em sucessivas trocas de comando acionário.
Era o início de uma era de fusões que modificaria para sempre a paisagem da edição e da qual "O Negócio dos Livros" (Casa da Palavra, 2006), de 2000, o primeiro dos ensaios de Schiffrin sobre o tema, ainda é o testemunho mais eloquente. Publicado em mais de 25 países, na maioria deles como "A Edição sem Editores", o provocativo título francês, o livro seria seguido por "O Controle da Palavra" (2005), inédito no Brasil, e pelo atual "O Dinheiro e as Palavras" (2010).
Se no livro de estreia o tom era de denúncia, neste prevalece um estudado voluntarismo. Schiffrin pretende apontar caminhos para a sobrevivência de editores como ele, hoje guiado mais pelo interesse cultural e intelectual do que pelo lucro puro e simples. Em 1990, criou a New Press, casa sem fins lucrativos respaldada por fundações privadas e por quem se disponha a doar pelo menos US$ 250.
Editar livros hoje, defende Schiffrin, é atividade essencialmente parecida com o que era no século 19: no fundo das histórias e cifras de vampiros virginais, anjos apaixonados ou labradores amorosos está o trabalho artesanal de escritores, editores e artistas gráficos. A mudança crucial acontece, lembra ele, quando o ramo deixa de ser visto como ofício para se transformar em mais um negócio "de mídia" -com investidores à espera de lucros pelo menos três vezes maiores do que o padrão.
"As Palavras e o Dinheiro" arrisca análises sobre cinema e imprensa que, diga-se, não trazem novidades, mas servem para contextualizar o exame, aí sim certeiro, da indústria editorial. Do momento em que o livro passa a ser um produto "como outro qualquer".

ESPECULAÇÃO O diabo é que, no cassino da especulação, descobre-se logo que vender livros não dá tanto dinheiro assim -mas vender editoras pode ser um bom negócio. Mais do que isso, um jogo pesadíssimo, em que grupos multinacionais como o espanhol Planeta (onde trabalhei entre 2002 e 2004, na implantação de sua operação no Brasil) ou o alemão Bertelsmann, dois exemplos citados à larga, negociam casas editoriais como qualquer outro ativo.
Com a necessidade de lucros superdimensionados, toma-se por precisa a inexatíssima ciência da edição. A corrida maluca pelo best-seller, pelo próximo "big book", gera um quadro que Schiffrin descreve com crueldade: "As editoras progrediram do infanticídio, negligenciando os livros novos que não mostravam promessa de vendas, para o aborto, cancelando contratos existentes de livros que já não eram julgados suficientemente dignos. O objetivo agora é a contracepção, impedindo esses títulos até de entrarem no processo".

FRANÇA X EUA Criado e dividindo-se até hoje entre França e EUA, como dá conta sua ótima autobiografia, "A Political Education" (2007), Schiffrin tende a idealizar esses dois polos como representativos de visões de mundo. De um lado, o mercado supostamente autorregulado, fonte de todos os males e panaceia do capitalismo americano; de outro, as medidas protecionistas que na Europa protege a "exceção cultural", expressão que a França criou para desvincular a produção cultural da obrigatoriedade do lucro.
A ele encanta "o exemplo norueguês", conjunto de práticas governamentais que, das salas de cinema aos editores, garante a sobrevida de produtos que, definitivamente, não são como outros quaisquer. Mas o panorama é mais complexo, com o mercado francês engessado pelos conglomerados de mídia e o americano vendo aparecer interessantes casas de pequeno porte correndo por fora, com margens de lucro mais apertadas e catálogos mais diversos.
"O Dinheiro e as Palavras" considera pouco as saídas que o mundo digital pode trazer, e aí está uma de suas fragilidades -mas ele promete um novo ensaio sobre o tema (veja entrevista abaixo).
Mas e o Brasil nisso tudo? Sofre, é claro, as instabilidades de seu maior fornecedor de títulos, os EUA -mercado que nos dois últimos anos tremeu nas bases e parece recuperar-se mais devagar do que se esperava. Adiantamentos e tiragens superlativos deram lugar a movimentos discretos e a certa tranquilidade, se comparada aos acelerados (e milionários) leilões de direitos autorais.

THE END Em setembro de 2009, uma semana antes da quebradeira de bancos, o título de uma reportagem de Boris Kachka sobre o mercado americano vaticinava: "The End". No subtítulo, o resumo sombrio do que se seguia em 15 páginas da revista "New York": "O negócio do livro tal como o conhecemos nunca mais será o mesmo. Com estagnação das vendas, cabeças de CEOs rolando, a dança das cadeiras dos grandes autores e a Amazon despontando como o novo bicho-papão, o meio editorial terá que olhar para seu futuro fora do mundo corporativo".
Dois anos e um apocalipse depois, sobreviventes da crise começam a dar sinais vitais a um estímulo que atende pelo nome de "The Art of Fielding", de Chad Harbach. A imprensa, devidamente lubrificada por uma ofensiva de divulgação, trompeteia suas virtudes literárias e destaca recomendações entusiasmadas de autores tão diversos quanto Jonathan Franzen e James Patterson -endossos fundamentais, diga-se, para um estreante.
A despeito da carreira que possa fazer, o romance de 538 páginas que chegou às livrarias americanas no início de setembro tem um sentido especial para o mercado: os direitos foram arrematados pela Little, Brown por US$ 665 mil, num leilão típico do tempo das vacas gordas; a tiragem inicial, porém, foi de 30 mil exemplares, modesta e adequada à austeridade da nova era, em que o livro eletrônico começa a dizer a que veio -os e-books representaram um terço das quase um milhão de cópias vendidas de "Liberdade", de Franzen.

MAKING OF Ainda mais sintomático é que os bastidores do livro tenham virado o e-book "How a Book is Born - The Making of 'The Art of Fielding'" [como um livro nasceu - o "making of" de 'The Art of Fielding'"], disponível no Kindle por US$ 3,99. Keith Gessen, o autor, também é escritor e amigo de Harbach, o que lhe valeu esporadas da imprensa por uma suposta benevolência com seu camarada. Mas não conheço "making of" mais detalhado de um processo de edição hoje, concebido como "colaboração", eufemismo para uma verdadeira operação de guerra.
Harbach, que é fundador da revista "n+1", bíblia do típico intelectual do Brooklyn, trabalhou (sozinho) no livro por dez anos. Dava os retoques finais num texto que parecia interminável quando tudo apontava para o fim do mundo: no seu círculo de amigos, adiantamentos variaram entre US$ 750 mil e US$ 7 mil, refletindo a histeria e o pessimismo do mercado. Em tudo e por tudo, parecia estar no lugar errado, na hora errada.
"The Art of Fielding" foi recusado por diversos agentes -nos EUA, um escritor ou candidato a escritor não vai nem ao Starbuck's da esquina sem agente. Chris Parris-Lamb, jovem e experiente na profissão, gostou do original de Harbach (ou do que conseguiu ler: ele recebe cerca de 70 propostas por semana) e decidiu representá-lo.
O que se seguiu foi o típico conto de fadas do "publishing": bem estimulados, importantes editores passaram a disputar o romance que envolve beisebol, meditações sobre sucesso e fracasso e a triunfal saída do armário de um cinquentão. Parris-Lamb escolheu Michael Pietsch, que pagou US$ 85 mil a menos que seu principal concorrente. Tinha no bolso bem mais do que dinheiro: foi ele quem editou a última sensação da literatura americana, o chatinho David Foster Wallace.
Seguem-se operações inacreditáveis de marketing e relações públicas: foram enviadas a blogueiros, jornalistas e a qualquer um que pudesse falar sobre o livro 5.000 provas de divulgação -tiragem maior do que a de muitos dos livros literários no Brasil. O esforço inclui ainda as inevitáveis convenções com os livreiros, que saíram encantados com "The Art of Fielding".

RESSACA O caso é interessante porque, na ressaca da crise, mostra que algo pode ter mudado. O que decidiu o leilão foi o capital simbólico do editor, exatamente como acontecia em eras pré-corporativas. A tiragem modesta e a ênfase na divulgação fora da mídia tradicional também indicam que a complexidade desse "produto como outro qualquer" volta a se fazer presente.
Até o fechamento desta edição, "The Art of Fielding" figurava em modesto nono lugar na lista de mais vendidos no "New York Times". Na Amazon, ocupa a 42ª posição, atrás de Rick Riordan, primeiríssimo, e de Paulo Coelho, em 32º com "The Aleph". No Brasil, o livro sai no primeiro semestre de 2012 pela Intrínseca, editora de Riordan.
"O êxito de um excelente livro depende, no momento de edição, de uma infinidade de circunstâncias lógicas ou estranhas que toda a sagacidade do lucro não saberia prever", analisa um observador insuspeito, Denis Diderot. "Um erro que vejo ser cometido sem cessar por quem se deixa enganar por máximas genéricas", diz ele mais à frente, "é o de aplicar os princípios das manufaturas de tecidos à edição de livros."
Pode-se, pela mitificação, atribuir ao filósofo e editor uma espécie de clarividência, já que sua "Carta sobre o Comércio do Livro", da qual cito os trechos acima, foi endereçada a um magistrado francês em 1763. Mais realista e incômoda é a hipótese de que dedicava-se a pensar as peculiaridades de um produto então desconhecido, mas que, definitivamente, não era como outro qualquer.




O meu método de desforra

O meu método de desforra consiste em mandar, o mais rápido possível, uma atitude inteligente atrás de uma burrice: assim, talvez a mesma ainda possa ser alcançada. Para falar numa comparação: eu mando um pote de confeites para me livrar de uma história azeda... Basta que me façam algo de mau, que eu vou à "desforra" por causa disso, isso é certo: em pouco tempo encontro uma oportunidade de expressar meu agradecimento ao "malfeitor" (inclusive agradecendo-lhe o mal-feito) – ou de pedir algo a ele, o que pode ser mais cortês do que dar alguma coisa... A carta mais grosseira, ainda é mais bondosa, mais honesta do que o silêncio. Àqueles que silenciam quase sempre lhes falta algo em fineza e polidez de coração; silenciar é uma falta objeção; engolir sapos faz, irremediavelmente, um mau caráter – e inclusive estraga o estômago... Todos aqueles que silenciam são dispépticos. – Vede bem, eu não pretendo ver a grosseria sendo desprezada, ela é, de longe, a forma mais humana da objeção e, em meio à suavização moderna, uma de nossas maiores virtudes. Se a gente é rico o suficiente, é até mesmo uma ventura não ter razão. Um deus, que viesse à terra, por certo não haveria de fazer nada a não ser injustiças – tomar não o castigo, mas sim a culpa sobre as costas, isso é que seria divino.
 
 
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Ecce Homo: de como a gente se torna o que a gente é. Porto Alegre: L&PM, 2002. 208 p. 17 cm

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Poesia do ímpeto e do giro...

Poesia do ímpeto e do giro,
Da vertigem e da explosão,
Poesia dinâmica, sensacionista, silvando
Pela minha imaginação fora em torrentes de fogo,
Em grandes rios de chama, em grandes vulcões de lume.
 
 
 
PESSOA, Fernando. Poesia. Álvaro de Campos. Edição Teresa Rita Lopes. São Paulo: Cia. das Letras, 2002. p. 213

Faz partir, que eu quero partir...

Meu amor perdido, não te choro mais, que eu não te perdi!
Porque posso perder-te na rua, mas não posso perder-te no ser,
Que o ser é o mesmo em ti e em mim.
 
Muito é ausência, nada é perda!
Todos os mortos - gente, dias, desejos,
Amores, ódios, dores, alegrias -
Todos estão apenas em outro continente...
 
Chegará a vez de eu partir e ir vê-los.
De se reunir a família e os amantes e os amigos
Em abstracto, em real, em perfeito
Em definitivo e divino.
 
Reunir-me-ei em vida e morte
Aos sonhos que não realizei
Darei os beijos nunca dados,
Receberei os sorrisos, que me negaram,
Terei em forma de alegria as dores que tive...
 
Ah, comandante, quanto tarda ainda
A partida do transatlântico?
Faz tocar a banda de bordo -
Músicas alegres, banais, humanas, como a vida -
Faz partir, que eu quero partir...
 
 
 
PESSOA, Fernando. Poesia. Álvaro de Campos. Edição Teresa Rita Lopes. São Paulo: Cia. das Letras, 2002. p. 208-209

A morte é nada

Que a vida é tudo, e que a morte é nada, e que o abismo é só a cegueira de ver, que tudo isto não pode existir e deixar de existir, porque existir é ser, e ser não se reduz ao nada. Ah, se todo este mundo claro, e estas flores e luz, se todo este mundo com terra e mar e casas e gente, se todo este mundo natural, social, intelectual, estes corpos nus por baixo das vestes naturais, se isto é ilusão, porque é que isto está aqui? Ó mestre Caieiro, só tu é que tinha razão! Se isto não é, por que é que é?
Se isto não pode ser, então porque pôde ser?
 
 
PESSOA, Fernando. Poesia. Álvaro de Campos. Edição Teresa Rita Lopes. São Paulo: Cia. das Letras, 2002. p. 207

E só no erro

E só no erro e no olhar há dor e dúvida e sombra.
 
PESSOA, Fernando. Poesia. Álvaro de Campos. Edição Teresa Rita Lopes. São Paulo: Cia. das Letras, 2002. p. 204

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Olha-me em silêncio e em segredo e pergunta a ti própria

[...]
Cruza as mãos sobre os joelho, ó companheira que eu não tenho nem quero ter,
Cruza as mãos sobre o joelho e olha-me em silêncio
A esta hora em que eu não posso ver que tu me olhas,
Olha-me em silêncio e em segredo e pergunta a ti própria
 - Tu que me conheces - quem sou eu...
 
 
PESSOA, Fernando. Poesia. Álvaro de Campos. Edição Teresa Rita Lopes. São Paulo: Cia. das Letras, 2002. p. 95

Onde a gente despreza, não se pode fazer guerra

 o pháthos agressivo faz parte, necessariamente, da força, assim como os sentimentos da vingança e da revanche fazem parte da fraqueza. A mulher, por exemplo, é vingativa: isso é condicionado por sua fraqueza tanto quanto pelo seu interesse pela penúria alheia. – A força daquele que ataca tem na resistência, que ele necessita, uma espécie de medida; todo crescimento se revela na procura de um inimigo – ou de um problema – poderoso: pois o filósofo que é guerreiro também desafia os problemas a duelar com ele. A tarefa não é, absolutamente, se tornar senhor sobre as resistências comuns, mas sim sobre aquelas que exigem que a gente acione toda a força, toda a flexibilidade e a maestria nas armas – subjugar inimigos iguais... Igualdade ante o inimigo – o primeiro pressuposto de um duelo honesto. Onde a gente despreza, não se pode fazer guerra; onde a gente ordena, onde a gente vê alguma coisa abaixo de si, não se pode fazer guerra. – Minha práxis na guerra pode ser resumida em quatro sentenças. Primeiro: eu apenas ataco coisas que são vitoriosas – caso for necessário eu espero até que elas sejam vitoriosas. Segundo: eu apenas ataco coisas as quais jamais encontraria aliados, contra as quais tenho de me virar sozinho – contra as quais tenho de me compreender sozinho...Jamais dei um passo em público que não comprometesse: é esse o meu critério de ação correta. Terceiro: eu jamais ataco pessoas – eu apenas me sirvo da pessoa como uma poderosa lente de aumento, através da qual é possível tornar manifesta uma situação de necessidade comum, mas furtiva e pouco tangível.

NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Ecce Homo: de como a gente se torna o que a gente é. Porto Alegre: L&PM, 2002. 208 p. 17 cm


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

10 razões para legalizar o aborto

1) Os números já são drásticos: aproximadamente mil mulheres morrem por ano ao realizarem abortos na clandestinidade. Fora essas, estima-se que 2 milhões de abortos clandestinos são realizados por ano. Essa soma é apenas aproximada porque é ilegal. Se o aborto fosse legalizado, o governo teria oficialmente o número de abortamentos, poderia controlá- los e saberia onde tem mais ou menos abortos para tentar diminuir este número. Se o aborto é crime não se tem controle, o número de abortos não diminui, mais mulheres morrem, mais pessoas são presas e o governo não pode fazer nada para mudar isso.

2) Em todos os países ocidentais em que o aborto foi legalizado há anos, observa-se cada vez mais uma diminuição do número de abortos. Quando se legaliza, fala-se mais sobre o assunto aumentando a informação para poder evitar.

3) Em quase nenhum país ocidental em que o aborto é legalizado, ele pode ser feito após 3 meses de gestação. Portanto, essas fotos que mostram abortamentos de bebês grandes e formados são enganadoras. Não será permitido aborto após 3 meses de gestação!

4) As clínicas clandestinas lucram muito no comércio ilegal de abortamentos, que é sustentado por pessoas ricas que fazem o aborto num dia e saem no outro sem problemas e ainda dizendo publicamente que são a favor da vida. O problema fica com as mais pobres, na maioria negras. Criminalização aumenta a hipocrisia e os bolsos de muita gente.

5) Se o aborto for legalizado nenhuma mulher será obrigada a abortar. Quem é contra poderá manter sua opinião.

6) Legalizar o aborto não é incentivar o aborto. Junto com a legalização, o Estado vai reforçar campanhas de educação sexual, direitos sexuais e reprodutivos, aumentar o acesso de mulheres e homens para os métodos contraceptivos, como também aos métodos de uma gravidez saudável. Abortar não é algo prazeroso, mas se alguma mulher precisar fazer, que ela não seja presa e tenha assistência para isso.

7) Se você pensa que a legalização do aborto vai encher os hospitais de milhares de mulheres querendo abortar, não sobrando espaço para as que querem dar à luz, isso é mentira. Os hospitais já estão cheios e gastando com mulheres que abortaram na clandestinidade e quase morreram por causa disso. Isso sai muito mais caro para os hospitais.

8) Se você pensa que com a legalização do aborto, você mata 1 vida, com a criminalização do aborto você mata mais vidas: a do feto e a de milhares de mães que morrem tentando o processo de abortamento.

9) A legalização não defende que abortar é bom. Se você pensa que abortar é ruim, abortar na clandestinidade, ser presa ou até morrer é muito pior.

10) Ser contra o aborto é decidir por você. Ser contra a legalização do aborto é decidir por todas. Ser contra o aborto é não achar certo fazer um aborto. Ser contra a legalização do aborto é ser a favor da morte de milhares de mulheres.
 

Longa estupidez

Sempre cautelosos achei os compradores e, todos, com olhos espertos. Mas também o mais esperto deles ainda compra sua mulher como nabos em saco. Muitas breves tolices – a isso chamei amor. E vosso casamento acaba com as muitas breves tolices numa única e longa estupidez. p. 97
 

NIETZSCHE, Friedrich W. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Tradução de Mário da Silva. 12. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 381 p.

O fim é ao menos o já não haver que esperar

[...]
Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:
É o sono da soma de todas as desilusões,
É o sono da síntese de todas as desesperanças,
É o sono de haver mundo comigo lá dentro
Sem que eu houvesse contribuído em nada para isso.
 
O sono qye desce sobre mim
É contudo como todos os sonos.
O cansaço tem ao menos brandura,
O abatimento tem ao menos sossego,
A rendição é ao menos o fim do esforço,
O fim é ao menos o já não haver que esperar.
 
 
PESSOA, Fernando. Poesia. Álvaro de Campos. Edição Teresa Rita Lopes. São Paulo: Cia. das Letras, 2002. p. 498

Dobrada à moda do Porto

Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.
 
[...]
 
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouzeram-me frio,
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.
 
 
PESSOA, Fernando. Poesia. Álvaro de Campos. Edição Teresa Rita Lopes. São Paulo: Cia. das Letras, 2002. p. 464

Eras tu

Eras tu, eras tu, aquela que sempre amei!
Mas não sabia o teu nome - sei-o agora.
Não sabia como eras - sei-o agora...
[...]
Já te conheço melhor, mas não estou mais perto de ti.
Perco-te mais porque te conheci.
 
PESSOA, Fernando. Poesia. Álvaro de Campos. Edição Teresa Rita Lopes. São Paulo: Cia. das Letras, 2002. p. 463

Sejam felizes

Sejam felizes por todos àqueles que são tristes.
Sejam felizes por todos àqueles... que ninguém diz.
 
Sejam felizes por todos àqueles que morreram.
Sejam felizes por todos àqueles... que não vieram a existir.
 
Sejam felizes... por mim.
 
 
fabricio foresti

Quando tudo é nada

Penso em ti no silêncio da noite, quando tudo é nada,
E os ruídos que há no silêncio são o próprio silêncio,
Então, sozinho em mim, passageiro parado
De uma viagem em Deus, inutilmente penso em ti.
 
Todo passado, em que foste um momento eterno,
É como este silêncio de tudo.
Todo o perdido, em que foste o que mais perdi,
É como estes ruídos,
Todo o inútil, em que foste o que não houvera de ser
É como o nada por ser neste silência nocturno.
 
Tenho visto morrer, ou ouvido que morrem,
Quantos amei ou conheci,
Tenho visto não saber mais nada deles de tantos que foram
Comigo, e pouco importa se foi um homem ou uma conversa,
Ou um povo omitido do mundo,
E o mundo hoje é para mim um cemitério de noite
Branco e negro de campas e árvores e de luar alheio
E é neste sossego absurdo de mim e de tudo que penso em ti.
 
 
PESSOA, Fernando. Poesia. Álvaro de Campos. Edição Teresa Rita Lopes. São Paulo: Cia. das Letras, 2002. p. 361

sábado, 17 de setembro de 2011

Amor de mentira

Escrevo aqui a minha história suja,
Com papel e caneta, em forma de poesia,
Porque se contasse em prosa, nesta sala escura,
Nem a tela de um computador aguentaria.
 
Vivi um amor malogrado, indecoroso,
Daqueles que podemos ler em romances baratos,
Amor que em verdade foi mentira, libidinoso,
Um romance que não se canta, que não aconteceu de fato.
 
Romance que assim acaba, sem pranto ou emoção,
Que pede pra morrer, sem demora, sem dor.
Que não requer compaixão nem compreensão.
 
Nos enganamos tanto, mas sempre queremos mais amor,
Corre coração, comemora seu novo amor, mesmo que seja vão,
Mesmo que seja com a pessoa mais imunda, vil e sem pudor.
 
 
fabricio foresti
 
 
 
 
 
 

Alma feia

Hoje acaba a relação que eu nunca quis,
A relação em que só fui enganadado, traído,
Em que acreditei e vi perder todo o sentido,
Àquela relação em que só fui infeliz.
 
Eu pedi, eu implorei, eu fui bem claro:
Afaste-se de mim, meu coração é muito delicado.
Como deve ser bom manipular os outros,
Como deve ser bom jamais ser contrariado.
 
A vingança é um prato que se come frio,
Como escreveu Nietzsche: a mulher é vingativa,
Eu, porém, sou mais sutil.
 
Agora, aqui, fica a mensagem, quem tiver olhos que leia:
Nunca mais me procure, pessoa infeliz, cega, insensível,
A partir de hoje meu coração está protegido da sua alma feia.
 
 
fabricio foresti
 
 
 

Aqui ninguém sonha

Eu preciso olhar para dentro,
Procuro sinal de coisa qualquer,
Meu coração sabe como eu tento
Incansavelmente olhar para dentro.
Gostaria de encontrar um amigo,
Mesmo de passagem, derradeiro,
Para ajudar-me a ter esquecimento
Quando eu conseguir olhar para dentro.

Penso que talvez possa encontrar
Uma coisa qualquer em lugar insólito
Que ajude-me a fugir deste lugar.

Aqui, do lado de fora, sozinho,
Tudo é triste, grave, aqui ninguém sonha,
Aqui não existe sentimento.

fabricio foresti

Chega de escrever

Ouvindo música em meio ao redemoinho,
Quero escrever uma poesia para ficar bem.
Preciso comunicar-me comigo mesmo devagarinho,
Ouvir todas as mensagens que a minh'alma tem.
 
Ela quer mostrar-me, oferecer,
Todas as possibilidades anímicas que existem,
E meus olhos cegos insistem em não ver,
Só para sentir como as almas mentem.
 
Diz-me que a vida pode ser outra, impensável aventura,
Que conheceria sensações diferentes, de entorpecer,
Pensamentos enlevados surgiriam por ventura...
 
Retiro o fone de ouvido devagar e sem perceber,
Afasto-me do objeto que me ausculta: chega de ouvir música,
Chega de ouvir a minh'alma, chega de escrever.
 
 
fabricio foresti

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Viver com uma imensa e orgulhosa calma...

Viver com uma imensa e orgulhosa calma; sempre além. - Ter e não ter espontaneamente nossos afetos, nosso pró e contra, condescender durante oras com eles; montá-los como cavalos, frequentemente como asnos: - precisamos saber utilizar sua estupidez tão bem como seu fogo. Conservar suas trezentas fachadas; e também os óculos escuros: pois existem casos em que ninguém deve olhar nos olhos, menos ainda no "fundo". E escolher como companhia esse vício velhaco e jovial, a cortesia. E continuar senhores de nossas quatro virtudes: coragem, perspicácia, simpatia, solidão. Pois a solidão é conosco uma virtude, enquanto sublime pendor e ímpeto para o asseio, que percebe como no contato entre as pessoas - "em sociedade" - as coisas se dão inevitavelmente sujas. Toda comunidade torna, de algum modo, alguma vez, em lagum lugar – comum, vulgar. p. 191
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Além do bem e do mal: prelúdio à uma filosofia do futuro. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A poesia em sonho

Em um dia triste, enquanto durmo,
Escrever uma poesia em meus sonhos,
Não importa o sono: matutino, vespertino ou noturno,
Peço apenas um pouco de movimento, como os moinhos.

Não precisa ter estrutura ou assunto,
Não precisa ter palavras, nem mesmo rima,
Assim, em meu sonho, desejo muito,
Que transforme-se a minha poesia.

Mas, e se de repente, onírica,
A poesia mostrar-se surpeendente...
Cheia de conteúdo, quem sabe lírica...

Deixo na imaginação as minhas palavras, infelizmente,
Pois a poesia que em meus sonhos acabo de redigir,
Só fez-me acordar para este mundo, paulatinamente.


f. foresti
09/09/2011

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O parasita mora onde o grande tem pequenos pontos feridos

Para onde quer, porém, que desejeis subir comigo, tratai de que não suba convosco nenhum parasita! Parasita: é um verme, um bicho rastejante, insinuante, que quer engordar à custa das vossas chagas secretas. E é esta a sua arte: que adivinha, nas almas que se elevam, o ponto em que estão cansadas; no vosso pesar e desânimo, no vosso delicado pudor, ali ele constrói o seu repelente ninho; o parasita mora onde o grande tem pequenos pontos feridos. Qual é, de todos o seres, a espécie mais alta e qual a mais baixa? O parasita é a espécie mais baixa; mas quem é da espécie mais alta alimenta a maioria dos parasitas. p. 248
 
NIETZSCHE, Friedrich W. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Tradução de Mário da Silva. 12. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 381 p.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Lua Negra

Em teu peito acento a face quente, como tarde.
São teus olhos dois planetas, obscuros.
São teus olhos dois planetas, em órbitas, incertas.
Que observo como fazem, os astrônomos.
 
Chega a noite fria, e é sombria a luz da lua negra.
Chega a noite fria, e é sombria a luz da lua negra.
 
Em teu peito o tempo bate, um tambor de tempestade.
De quem ama feito louco, a felicidade.
E quem ama feito louco, deixa traços, da sua presença.
Como fazem os amantes, na despedida.
 
Chega a noite fria, e é sombria a luz da lua negra.
chega a noite fria, e é sombria a luz da lua negra.
 
O teu beijo acende e arde, quente, como a tarde.
São teus olhos dois planetas obscuros.
São teus olhos dois planetas, em órbitas, perfeitas.
Que analliso como fazem, os astrônomos.
 
Chega o fim do dia e a lembrança da tua presença.
Chega o fim do dia e a lembrança da tua presença.
 
 
Composição e arranjo: D. Scopel

13 coisas para fazer depois de morrer

http://talktohimselfshow.zip.net/

Diluente

A vizinha do número catorze ria hoje da porta
De onde há um mês saiu o enterro do filho pequeno.
Ria naturalmente com a alma na cara.
Está certo: é a vida.
A dor não dura porque a dor não dura.
Está certo.
Repito: está certo.
Mas o meu coração não está certo.
O meu coração romântico faz enigmas do egoísmo da vida.
Cá está a lição, ó alma da gente!
Se a mãe esquece o filho que saiu dela e morreu,
Quem se vai dar ao trabalho de se lembrar de mim?
Estou só no mundo, como um pião de cair.
Posso morrer como o orvalho seca.
Por uma arte natural de natureza solar,
Posso morrer à vontade da deslembrança,
Posso morrer como ninguém...
Mas isto dói,
Isto é indecente para quem tem coração...
Isto...
Sim, isto fica-me nas goelas como uma sanduíche com lágrimas...
Glória? Amor? O anseio de uma alma humana?
Apoteose às avessas...
Dêem-me Água de Vidago, que eu quero esquecer a Vida! (p. 346)


REFERÊNCIA

CAMPOS, Álvaro de. Poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. 595 p.

Eu sou o lume das lareiras apagadas

Eu sou [...] o lume das lareiras apagadas, o pão das mesas desertas, a companheira solícita dos solitários e dos incompreendidos. A glória, que falta no mundo, é pompa no meu negro domínio. No meu império, o amor não cansa, porque sofra por ter; nem dói, porque canse de nunca ter tido. A minha mão pousa de leve nos cabelos dos que pensam, e eles esquecem; contra o meu seio se encosta os que em vão esperaram, e eles enfim confiam. p. 446
 
PESSOA, Fernando. Livro do desassossego: composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 534 p.

Eu não sou forte, nem nobre, nem grande

Não me indigno, porque a indignação é para os fortes; não me resigno, porque a resignação é para os nobres; não me calo, porque o silêncio é para os grandes. E eu não sou forte, nem nobre, nem grande. Sofro e sonho. Queixo-me porque sou fraco e, porque sou artista, entretenho-me a tecer musicais as minhas queixas e a arranjar meus sonhos conforme me parece melhor a minha ideia de os achar belos. p. 148
PESSOA, Fernando. Livro do desassossego: composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 534 p.

Daquilo que não se pode mais amar

Este ensinamento, porém, ó louco, eu te dou, como despedida: daquilo que não se pode mais amar, deve-se – passar além! p. 215
NIETZSCHE, Friedrich W. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Tradução de Mário da Silva. 12. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 381 p.

Vai para a tua solidão

Vai para a tua solidão com o teu amor, meu irmão, e com a tua atividade criadora; e somente mais tarde a justiça te seguirá capengando. p. 91
 
NIETZSCHE, Friedrich W. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Tradução de Mário da Silva. 12. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 381 p.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Estilista

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Sobre o ciúme

Com o tempo aprendi que o ciúme é um sentimento para proclamar de peito aberto, no instante mesmo de sua origem. Porque ao nascer, ele é realmente um sentimento cortês, deve ser logo oferecido à mulher como uma rosa. Senão, no instante seguinte ele se fecha em repolho, e dentro dele todo o mal fermenta. O ciúme é então a espécie mais introvertida das invejas, e mordendo-se todo, põe nos outros a culpa da sua feiura. p. 62
 
BUARQUE, Chico. Leite derramado. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. 195 p.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Seleção de materiais de informação

VERGUEIRO, Waldomiro. Seleção de materiais de informação: princípios e técnicas. Briquet de Lemos: Brasília, 1995. 110 p.
 
 
DECISÃO
 
- conhecimento do acervo
- conhecimento do usuário
 
CONSIDERAÇÕES GERAIS
- assunto/documento
- usuário/preço
 
CRITÉRIOS
 
1. Conteúdo
- autoridade
- precisão
- imparcialidade
- atualidade
- cobertura/tratamento
 
 
2. Usuário
- conveniência
- idioma
- relevância/interesse
- estilo
 
3. Aspectos adicionais
- características físicas
- aspectos especiais
- contribuição potencial
- custo
 
 
ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO DE SELEÇÃO
 
1. Respónsáveis
1.1 Comissão ou bibliotecário
 
 
2. Mecanismos para a identificação, avaliação e registro
- formulários (procedência da sugestão e do usuário)
 
 
2.1.2 Instrumentos auxiliares
 
- exaustividade
- seleção corrente ou retrospectiva
- críticas
- idiomas
- suportes
 
 
3. A política de seleção
 
Justifica-se por seu caráter
 
- administrativo
- relações públicas
- político
 
3.1 Componentes
- responsabilidade
- critérios
- instrumentos auxiliares
- políticas específicas
- docuemntos correlatos
 
TÓPICOS ESPECIAIS
- formação profissinal
- censura
- cooperação bibliotecária
- direitos autorais

segunda-feira, 25 de julho de 2011

William Burro & Baudelerdo - internet e livro

http://adao.blog.uol.com.br/

Um pesadelo inestético

... e um desdém cheio de tédio por eles, que desconhecem que a única realidade para cada um é a sua própria alma, e o resto – o mundo exterior e os outros – um pesadelo inestético, como um resultado nos sonhos de uma indigestão de espírito. p. 70-71

[...] é a sua consciência íntima de serem meus semelhantes, que me veste o traje de forçado, me dá a cela de penitenciário, me faz apócrifo e mendigo. p. 71
 
PESSOA, Fernando. Livro do desassossego: composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 534 p.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O que aconteceu com todos os caras legais?

Pra não dizer que somos uns machistas insensíveis que não se preocupam com os sentimentos das mulheres, especialmente hoje trazemos um artigo respondendo uma dúvida que atormenta tantas por aí!
 
Vejo esta questão com alguma regularidade pela internet, então queria gastar um tempinho explicando o que aconteceu para as mulheres que ainda não entenderam o que aconteceu.

O que aconteceu com todos os caras legais?

E a resposta é simples: vocês sumiram com eles.

Voltemos ao passado. Você provavelmente irá se lembrar daquele cara que tinha uma paixão platônica por você e adorava passar o tempo dele contigo. Ele ia contigo fazer compras, ia na sua casa para assistir um filme quando você estava na solidão e não estava se sentindo bem para sair, ou até mesmo era o seu ombro amigo quando você estava toda cabisbaixa e desabafava com ele sobre o quão horrível te tratava o (outro) cara com quem você transava.

Naquele tempo, provavelmente você fazia piadinhas com suas amigas sobre como aquele cara não passava de um cãozinho, sempre te seguindo, tentando chamar a sua atenção. Provavelmente você brincava com ele porque você sabia que ele era caidinho por você. Dado que este comportamento é, realmente, um pouco patético, você sempre negou veementemente qualquer sentimento romântico por ele e sempre alegava que vocês dois eram "somente amigos". E afinal, ele não fazia o seu tipo mesmo. Quer dizer, ela era meio baixinho, ou meio careca, ou meio gordo, ou pobre, ou não sabia se vestir legal, ou basicamente não tinha nenhuma das características que seu namorado alto, bonitão, rico e estiloso pelo qual você se derretia na época tinha.

Com o tempo, seu amiguinho platônico foi seguir a sua própria vida, e afinal – com o seu relacionamento com o namorado atual – passar muito tempo com outro cara é no mínimo estranho. O tempo passa, e o teu atual acaba te trocando por uma melhor, ou acaba ficando chato, ou você se toca que as coisas que te atraíram nele não são características que sirvam para um relacionamento duradouro. Então, você está solteira de novo, e depois de ir para as baladinhas por meses e tentar encontrar lá um novo amor. Mas tudo o que você encontra são cafinhas e bundões. Então você fica imaginando: "O que aconteceu com todos os caras legais?"

Bem, mais uma vez: vocês sumiram com eles.

Você ignorou o cara legal. Você o usou como muleta emocional sem dar nada em troca para ele. Você ria do respeito e da quase devoção que ele tinha por você. Você deu valor ao namorado insensível ao invés do amiguinho atencioso. Chegou uma hora que ele se tocou e resolveu seguir com a vida dele. Provavelmente ele descobriu que as mulheres não se ligam em caras que abrem a porta para elas passarem; ou as levam para jantar; ou compram como presente de natal aquela coisa cara que você queria há uns meses atrás e não podia comprar; ou escutava suas ladainhas; ou era o seu ombro amigo na hora da choradeira. Ele acabou descobrindo que se ele quisesse ter uma mulher que nem você, ele teria que agir mais como o namorado que você tinha. Ele provavelmente começou a melhorar seu visual, começou a ganhar alguma grana e é bem possível que começou a agir mais como os panacas que você tanto gosta.

A verdade é que agora ele deve estar comendo umas mulheres, e a sua imensa rejeição a ele foi a grande responsável por isso. E eu sinto que só depois de rejeitar todos os "caras legais" em sua vida é que você começou a sentir falta deles. A maioria das mulheres tem boas chances de arrumar um cara legal, se prestassem mais atenção.

Então, se quer mesmo um cara legal, faça isto:

  1. Arrume uma máquina do tempo;
  2. Volte para o passado e faça você parar de pensar em merda;
  3. E tente enxergar o que está bem diante do seu nariz e o agarre.

Eu suponho que a outra possibilidade é que realmente você AINDA não quer um cara legal, mas está começando a sentir a pressão social para pelo menos aparentar alguma maturidade para disfarçar seus gostos fúteis por homens. Neste caso, você pode ter sorte, porque o carinha legal que você gostaria de ter na verdade se livrou do cavalheirismo inútil e está doido para despejar todo o seu cinismo e ressentimento em alguma mulher igual a você.

Ah, se você fosse alguns anos mais jovem.

Então, por favor: ou pare de interpretar errado o que você realmente quer, ou admita que você mesmo é que fodeu com suas escolhas. Você está ficando velha, afinal. Ainda dá tempo de se livrar dessa merda de pensamento e tentar lidar com a realidade. Você realmente não quer um cara legal agora, e certamente ele não te quer mais.

Atenciosamente,

Um ex cara legal.

fonte: http://cms.mgtow.net/?q=node/45

quarta-feira, 22 de junho de 2011

domingo, 19 de junho de 2011

Arquivos Malucos