Um livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive. (Padre Antônio Vieira)

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Cinco animais que usam 'olhos falsos' para enganar ou seduzir

Olhos são belos, misteriosos, encantadores. Mas eles também podem enganar - sobretudo no reino animal. Muitas espécies têm "olhos falsos" em seus corpos, um artifício para enganar seus predadores e sobreviver na natureza.
Conheça abaixo alguns exemplos de "olhos falsos".

CENTOPEIA COM OLHAR DE COBRA


É um desafio para os biólogos que trabalham com evolução das espécies determinar o porquê de alguns corpos terem desenvolvido partes em formatos semelhantes aos dos olhos.
Em alguns casos, não há indícios de que essas características sejam percebidas como olhos pelas demais espécies.
Mas há casos em que cientistas acreditam ter obtido respostas satisfatórias. John Skelhorn, da universidade britânica de Newcastle, fez uma experiência de como pássaros reagem a centopeias que possuem olhos falsos e se assemelham a cobras.
No experimento, os cientistas também criaram massas comestíveis em formato de centopeias, com olhos falsos pintados em diversas partes do corpo. O objetivo era determinar como a posição do olho falso no corpo era percebido pelo pássaro, e se isso influenciava a sua decisão de atacar a presa.
A pesquisa confirmou a hipótese dos cientistas: pássaros evitam atacar centopeias que possuem olhos falsos em lugares que as deixam parecidas com cobras.

BORBOLETAS COM OLHOS NAS ASAS


Outras espécies parecem usar olhos falsos em outro sentido: para desorientar seus predadores, em vez de imitar outras espécies.
Uma pesquisa semelhante à que foi feita com as centopeias foi repetida com borboletas pelo cientista Martin Stevens, da universidade britânica de Exeter. Nessa experiência, eles colocaram borboletas reais ao lado de borboletas falsas, e testaram vários formatos diferentes de "olhos" nas asas.
Algumas asas tinham olhos com borda preta e interior branco; em outras, o formato era retangular, em vez de circular. Nesses casos, o comportamento dos pássaros não variou.
O que influenciou mesmo na reação dos pássaros foi o contraste. Borboletas cujos olhos falsos apresentavam um grande contraste de cores com as asas foram evitadas pelos predadores, o que sugere que a função do adorno é desorientar os pássaros.

SAPO COM OLHAR TÓXICO


Um sapo brasileiro conhecido como Physalaemus nattereri ou Eupemphix nattereri tem olhos falsos em cima das patas traseiras. A característica física ajuda os sapos a escapar de predadores como pássaros.
Os olhos falsos podem crescer de tamanho. Quando o predador se aproxima, um disco escuro no centro do olho falso solta uma substância tóxica. O veneno produzido é tão potente que pode matar 150 camundongos.
Corujas que tentam se alimentar do sapo acabam vomitando o animal inteiro.

ARANHAS QUE ATRAEM COM OLHOS FALSOS


Olhos falsos nem sempre são usados para fugir de predadores. Às vezes eles são usados para atrair o sexo oposto.
Aranhas possuem muitos olhos, e alguns deles são falsos. No caso de algumas aranhas do gênero Maratus, típicas da Austrália, eles estão localizados no abdômen do macho. O objetivo, assim como no pavão, é atrair fêmeas.
O animal usa todos os mecanismos possíveis para seduzir, com um festival de cores e movimentos. Todo esse espetáculo foi capturado pelas lentes do entomologista Jurgen Otto e publicado na internet. Assista ao vídeo aqui.
Com seu tamanho de apenas 4 milímetros, os machos dão um show com seu "arsenal" no abdômen. O ritual todo de sedução pode durar até 50 minutos.

PAVÕES SEDUTORES


Outra espécie que também possui padrões parecidos com olhos são os pavões. O objetivo do adorno é o mesmo das aranhas: seduzir o sexo oposto. Pavões possuem mais de 150 penas, cada uma delas com um formato semelhante ao de olhos, só que repletos de cores.
Os pesquisadores já observaram 34 espécies diferentes da ave, tentando entender quais os aspectos dos olhos falsos dos machos que mais atraem as fêmeas. O sucesso, segundo um dos estudos, estava na coloração azul e verde.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Fortuna de super-ricos é 'incontrolável', diz pesquisador

Ruth Costas

Da BBC Brasil em São Paulo
  • 10 novembro 2014
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Billionário (Thinkstock)Cerca de 1% da população controla de 17% a 20% da riqueza nacional.

O pesquisador Antonio David Cattani, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) com formação na Paris-Sorbonne, diz ter escolhido um caminho diferente de 99% de seus colegas.

Enquanto a maioria dos cientistas sociais se debruçam sobre questões relativas a pobreza e a miséria, Cattani resolveu desbravar o outro lado da problemática da desigualdade social - a extrema riqueza, ou os super-ricos.

A escolha já foi mais difícil de ser justificada. Desde que o francês Thomas Piketty tornou-se um best-seller com a tese de que o capitalismo está concentrando renda em vários países, o que ocorre no topo da pirâmide social global tem ganhado um pouco mais de espaço nos debates de economistas e sociólogos - ao menos no exterior.

Para Cattani, no Brasil a situação é um pouco diferente da de outros países, porque aqui ao menos se avançou no combate à pobreza. "Mas só isso não basta. Precisamos reduzir a distância entre ricos e pobres para termos uma sociedade equilibrada, com qualidade de vida e sem violência", defende.

Em A Riqueza Desmistificada (ed. Marcavisual) - livro escrito durante um ano de estudos na Universidade de Oxford, no Reino Unido - o pesquisador defende que a extrema riqueza precisa deixar de ser um "tabu" para que possamos entender o papel dos multimilionários na economia, na política e na sociedade brasileira. Confira abaixo a entrevista concedida por Cattani à BBC Brasil:

BBC BRASIL: O que o caso Eike Batista diz sobre o modo como encaramos a riqueza em nossa sociedade?

Cattani - Eike teve uma ascenção meteórica que envolveu o uso de recursos públicos e, aparentemente, também informação previlegiada. Mas havia um certo deslumbramento da opinião pública por ele. No auge de sua carreira, centenas de pessoas pareciam dispostas a pagar US$ 1.000 ou US$ 2.000 para ouvir uma palestra sua. E não havia qualquer questionamento sobre a forma como seu império foi construído - um gigante com os pés de barro.

De certa forma isso ocorreu porque há um fascínio em torno da riqueza, um deslumbre. Os grandes empresários, executivos, e ricos de uma maneira geral são tratados como superiores.

É natural que a riqueza seja vista como algo positivo, que todos almejam. Isso é até legítimo. Mas esse deslumbramento tem impedido uma análise mais rigorosa sobre como algumas dessas fortunas são construídas - o que pode envolver processos abusivos e predatórios, monopólios, vantagens junto ao poder público e outros subterfúgios, como no caso de Eike.

Leia mais: Brasil é 10º país com maior número de multimilionários, diz estudo

BBC BRASIL: Por que o sr. escolheu estudar os ricos?

Cattani - Cerca de 99% dos estudos na área de ciências sociais se debruçam sobre os pobres, a classe média e a classe trabalhadora. Poucos estudam os ricos. Mas em um dos países mais desiguais do mundo o estudo da riqueza é crucial. É o topo da pirâmide social que controla os meios de comunicação, as grandes empresas, os negócios e processos políticos e eleitorais, tomando decisões que afetam todo o resto da população. Ou seja, os ricos e super-ricos ajudam a influenciar processos que determinam a estrutura da sociedade.

Os pobres são milhões mas têm um poder mais limitado, não estão organizados, estão sob a influência dos meios de comunicações. Às vezes, meia dúzia de megaempresários influencia decisões econômicas que alteram a vida de todos.

O financiamento das empresas às campanhas políticas, por exemplo, me parece inconveniente. Por que elas dão milhões para esse ou aquele candidato? De alguma forma, querem retorno - e isso não ajuda a melhorar a qualidade de nossa democracia.

Antonio David CattaniAntonio David Cattani, da UFRGS

Alguns dados apontam que 1% da população controla de 17% a 20% de toda riqueza nacional. E os ricos, como os pobres, não são autorreferentes ou autoexplicativos. Ou seja, a riqueza ajuda a explicar a pobreza - e vice-versa. Por isso, temos de entender como se estrutura essa sociedade de alto a baixo. Não que os estudos sobre os pobres não sejam importantes, mas eles precisam ser complementados com análises de economistas e sociólogos sobre o topo da pirâmide - e sobre de que forma esse topo está acumulando sua fortuna.

BBC BRASIL: Por que é tão difícil estudar o topo da pirâmide social?

Cattani - A riqueza é tratada em nossa sociedade como um objeto de veneração, um totem, algo superior que precisa ser respeitado. É um tema proibido.

Além dessa dimensão ideológica, há as dificuldades práticas. Os pobres são acessíveis. Os pesquisadores podem entrar em suas casas e fazer as perguntas mais inconvenientes sobre todos os aspectos de suas vidas. Eles respondem porque esperam que isso possa ajudá-los a melhorar a sua situação.

Já os multimilionários não respondem às pesquisas porque não têm interesse em informar sobre a origem e a exata dimensão de sua riqueza. Não querem que ninguém vá bisbilhotar seu patrimônio. E o resultado é que os dados estatísticos sobre eles são extremamente fracos. Não dá para confiar apenas na declaração de imposto de renda - até porque poucos ricos são assalariados. E é difícil obter dados sobre o patrimônio. Muitos multimilionários mantêm parte de sua riqueza no exterior - têm imóveis em Paris, Londres ou Miami e escondem fortunas em paraísos fiscais.

Para completar, eles são protegidos por mecanismos legais e jurídicos, como o sigilo bancário e de declaração do imposto de renda.

BBC BRASIL: Piketty tenta há alguns anos estudar o Brasil, mas um de seus colaboradores relatou a BBC Brasil ter dificuldade em acessar dados da Receita Federal...

Cattani - Acho que no Brasil há regras específicas que garantem o sigilo desses dados e pouca colaboração das autoridades.

Leia mais: Crítico sensação do capitalismo quer estudar o Brasil, mas Receita não libera dados

BBC BRASIL: Quem são esses ricos?

Cattani - É difícil quantificar isso. No Brasil, em geral as pesquisas demográficas e sociais estabelecem um patamar de renda de R$ 6 mil, às vezes R$ 10 mil por mês - elas dizem: todo mundo que está acima disso é rico, é classe A. Mas precisamos estabelecer melhor as diferenças dentro desse grupo. Quem ganha R$ 6 mil por mês pode ter um bom padrão de vida, mas seu poder e o impacto na sociedade é muito diferente do que quem ganha centenas de milhares de reais.

A partir de um certo patamar, o indivíduo em questão dispõe de uma corte de serviçais, assessores tributaristas e advogados para ajudar a multiplicar sua fortuna, assessores de marketing pessoal e institucional. Faz parte do topo da pirâmide que verdadeiramente tem poder. No caso dos super-ricos eu trabalho com um percentual de 0,1% da população adulta, por exemplo.

Eike Batista (Reuters)Após ascensão meteórica, o empresário Eike Batista diz que agora é "classe média"

Também há um patamar em que a riqueza gera riqueza continuamente - mesmo em situação de crise, quando a economia real sofre. Uso um conceito interessante que é o de "riqueza substantiva" - essa riqueza tão grande que escapa até ao controle político. Quem é assalariado não tem noção do que é ganhar milhões de dólares, mês após mês, ano após ano. Nem quem tem uma pequena empresa, um apartamento na praia e um mesmo automóvel do ano. Tem lá seu capital, alguns trabalhadores - mas não tem uma riqueza que se multiplica continuamente.

BBC BRASIL: O sr. menciona no livro a série de TV Mulheres Ricas, de 2012. Temos os colunistas sociais, revistas sobre ricos e famosos ... Até que ponto o mundo dos super-ricos está mesmo oculto, como o sr diz?

Cattani - Um famoso apresentador de TV pode tirar uma foto em seu iate para mostrar como é bem sucedido. Mas essa publicidade é pouco relevante - e eles só mostram o que interessa. O próprio Eike era uma exceção. Há toda uma camada de ricos do setor financeiro, do agronegócio que são discretissimos, não tem interesse nenhum em se mostrar. Circulam incolusive em outra esfera, internacional.

BBC BRASIL: Afinal, há algum problema em ser milionário ou bilionário? Não é "justo" que um indivíduo talentoso e trabalha duro possa gozar dos frutos de seus esforços?

Cattani - A partir de um certo nível muitas fortunas não tem mais origem no empreendedorismo, mas em situacões de poder. É esse o caso dos monopólios, por exemplo, que reduzem a eficiência da economia como um todo. Ao anular a concorrência, um determinado grupo impõe seu preço, sua prática de negócios, se vale de mecanismos tributários para aumentar sua riqueza.

É um mito essa ideia de que toda riqueza é produto de talento e trabalho duro. Há fortunas que são, sim resultado de um esforço legítimo e talentos empresariais. Mas há também herdeiros que não fazem bom uso do que receberam, multimilionários de mentalidade rentista, riquezas montadas a partir de privilégios e práticas ilegítimas. A riqueza extrema também pode ser nefasta para os negócios, para a democracia e para o próprio capitalismo.

Leia mais: Ricos brasileiros têm quarta maior fortuna do mundo em paraísos fiscais

BBC BRASIL: O Brasil é um dos poucos países em que a desigualdade de renda teria diminuído nos últimos anos. Estamos no caminho certo?

Cattani - Estamos no caminho correto das políticas públicas para redução da pobreza, mas as distâncias entre os ricos e os demais ainda são imensas. Há muito a fazer no tema da concentração de renda.

O problema é que quem está no topo da pirâmide quer manter seus privilégios. No Brasil, o pobre paga proporcionalmente mais imposto, por exemplo. Não há impostos sobre heranças e doações, como em muitos países desenvolvidos. Também não há imposto sobre dividendos e rendimentos do capital. Quem ganha milhões com dividendos não paga nada, enquanto um assalariado a partir de dois mil, três mil reais já paga imposto de renda. Precisamos de uma reforma na área tributária, além de um combate mais firme a paraísos fiscais.

BBC BRASIL: Por que é importante combater a desigualdade? Não basta combater a pobreza?

Cattani - Enquanto não avançarmos nessa área, não teremos uma sociedade mais equilibrada, com mais qualidade de vida e no qual todos tenham boas oportunidades de trabalho para desenvolver suas capacidades. Há estudos que mostram que a violência está diretamente relacionada às distâncias sociais, por exemplo. Além disso, a partir de determinado patamar, a concentração de renda prejudica a eficiência de uma economia, tira dinamismo do mercado interno. É melhor ter uma fortuna reinvestida na produção, gerando emprego, do que imobilizada em uma mansão luxuosa ou em contas no exterior.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/11/141104_superricos_ru

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Intervenção


terça-feira, 4 de novembro de 2014

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