Um livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive. (Padre Antônio Vieira)

terça-feira, 10 de novembro de 2015

A ascensão do fascismo no Brasil do Século 21

"Na primeira noite, eles se aproximam   e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada

Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão.  E não dizemos nada.

Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz,  e,

conhecendo nosso medo,  arranca-nos a voz da garganta."

fascismo-4Ataques fascistas contra Sedes do PT, dirigentes e ministros do PT tem se tornado cada vez mais frequentes. No discurso dos atacantes, o mesmo viés moralista usado por Mussolini e Hitler para chegar ao poder: acusar os adversários da corrupção e das mazelas da sociedade, repetindo constantemente as mesmas falsas acusações até que "se transformem em verdades para o senso comum". E do outro lado, dos falsamente acusados e do Partido dos Trabalhadores, uma incompreensão do que de fato esta acontecendo. Se os fascistas repetem o mesmo caminho moralista, do lado esquerdo também se repete a triste sensação de que estas ações do fascismo não representam perigo por parecerem idiotas. Mas é exatamente aí que mora o perigo. O Lockout (greve de patrões) que se iniciou nesta segunda-feira é mais uma etapa das várias que os fascistas, com o apoio dos tucanos golpistas tem levado a efeito desde o fatídico junho de 2013, quando algumas forças de esquerda, iludidas, se renderam aos movimentos golpistas articulados pelas redes sociais através desites e perfis financiados pelo grande capital nacional e internacional.Todos os ataques a dirigentes e ministros e todas as mobilizações golpistas tem ampla e repetida repercussão midiática. Goebels esta presente: "uma mentira repetida mil vezes, vira verdade para o senso comum". Para responder aos ataques fascistas, não basta a resposta individual de cada um dos atacados, como fez corretamente Patrus Ananias ontem em Belo Horizonte. É preciso que a esquerda retome para si a bandeira do verdadeiro combate a corrupção. E vá para as ruas com cada vez mais vigor. A palavra de ordem "Fora Cunha" expressa o combate a verdadeira corrupção, construído através do financiamento privado das campanhas e do toma lá, da cá que há muito campeia no Congresso Nacional. E é preciso ter clareza que não se trata do moralismo barato dos fascistas, que não se importam com a corrupção do Cunha mas enxergam a corrupção só no PT. Este mesmo fascismo que viceja cada vez mais nas ruas, foi chocado e é alimentado diuturnamente pela grande mídia. É este fascismo que faz aprovar no congresso nacional leis cada vez mais retrógradas. O Fascismo esta nas ruas. E precisa ser combatido com a força da lei. Para os fascistas não cola o tal "republicanismo" de certos dirigentes e governantes. Uma multa de R$ 1.900,00 não calará quem tem financiamento interno e externo para fazer o que esta fazendo. Eles querem desestabilizar um dos países mais importantes dos BRICS. E dono de empresa que paralisa atividades essenciais por interesse próprio, não esta fazendo "greve". Esta fazendo Lockout. E Lockout  é crime. E crime é punido com cadeia. Tratar fascistas com desdém já esta custando caro para a nação desde 2013. E o desdém tem alimentado a serpente (e sustentado a grande mídia que a protege) e permitido que ela se reproduza. Fascistas e nazistas golpistas são bandidos e assim devem ser tratados. O fascismo e o nazismo foram banidos das terras que os geraram. Esta condescendência do Estado Brasileiro com estas aberrações, em continuando, vai levar o Brasil ao mesmo caminho do narrado pelo Poema de Maiakowsky. Acorda PT.Acorda povo. Acorda Brasil!!! O fascismo não esta mais só no portão.Eles já roubaram flores e estão pisoteando as demais do nosso jardim. Logo eles seguirão a narrativa do poema. A não ser que sejam barrados. E isto não acontecerá com multas ou com "republicanismo", mas sim com a força do povo nas ruas. E pra isso tem que haver também sinais claros do governo de que entendeu quem de fato o defende. É preciso sinalizar com a retomada das pautas sociais para mitigar esta estranha submissão temporária ao projeto do adversário eleitoral.

https://luizmullerpt.wordpress.com/2015/11/09/a-ascensao-do-fascismo-no-brasil-do-seculo-21/

quarta-feira, 1 de julho de 2015

terça-feira, 30 de junho de 2015

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Estudante nigeriano resolve equação que estava sem solução há 30 anos

Aluno nigeriano resolve equação que estava há 30 anos sem solução no Japão. Além disso, Ufot Ekong alcançou as maiores notas em uma universidade japonesa desde 1965

Ufot Ekong estudante nigeriano
O estudante Ufot Ekong

Um estudante nigeriano vem quebrando recordes em sua universidade no Japão. Após atingir as melhores notas registradas pela instituição desde 1965, Ufot Ekong, quando estava no primeiro semestre, resolveu uma equação matemática que estava há 30 anos sem solução.

Ekong estudou engenharia elétrica na Universidade de Tokai, em Tóquio, no Japão. Em sua carreira acadêmica, o aluno já ganhou seis prêmios. As nformações são do jornal britânico "The Independent".

O aluno também fala inglês, francês, japonês e iorubá (idioma falado em parte da Nigéria) e ganhou um prêmio de língua japonesa para estrangeiros.

Para pagar as mensalidades da faculdade, ele já teve que trabalhar em dois empregos. Atualmente, Ekong trabalha na Nissan e já tem duas patentes de carros registradas em seu nome. Ele deve concluir a faculdade em 2016.

A Universidade de Tokai é particular e direcionada a carreiras de ciências e tecnologia. A instituição foi fundada em 1924.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

O livro


sexta-feira, 29 de maio de 2015

Ensaio fotográfico mostra a verdade por trás do que você come

Fotógrafo confronta indústria e resolve mostrar o que de fato estamos comendo por trás dos apetitosos alimentos industrializados

http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/05/ensaio-fotografico-mostra-a-verdade-por-tras-do-que-voce-come.html

Você já parou para pensar do que são feitos os empanados de frango que estão em seu congelador? Se você desconfia que as iguarias não são "100% frango", está certo. Uma pesquisa realizada em Mississipi constatou que os empanados contém de 40% a 50% carne de frango. O restante é composto por cartilagens, gordura, nervos e fragmentos de ossos.

Tentando alertar para esta composição, um fotógrafo texano resolveu fazer uma campanha de conscientização. Em "Mysterious Meat" (Carne misteriosa, em tradução livre), Peter Augustus, que vive em Hong Kong, mostra a verdadeira composição dos pratos industrializados, e sobretudo a carne que eles contêm, em sua forma bruta.

"Ao chegar a Hong Kong pela primeira vez, as cenas que mais me marcaram foram os açougues (…)", explica Peter Augustus. "Como estrangeiros vindos de uma grande cidade do Ocidente, a maioria de nós nunca vê de perto com que se parece o animal que vamos comprar e comer – está sempre embalado adequadamente e apresentado em um supermercado climatizado", ele constatou.

"Ao ter de passar na frente desses açougues todos os dias, com as cabeças de porcos, os intestinos, os olhos e os pulmões pendurados de ganchos em pleno ar, isso me trouxe um desafio de encarar essas lojas como um lugar normal, de onde vem o verdadeiro alimento, que termian no cardápio de um restaurante local", afirma Peter.

"A maioria de nós raramente vê de perto que tipo de comida estamos comprando. Elas estão sempre embaladas, bonitas e arrumadas, exibidas em um refrigerador de supermercado", disse o fotógrafo.

Confira abaixo algumas imagens do ensaio "Mysterious Meat":

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Hiper-realismo: parece fotografia, mas não é; surpreenda-se

Parece fotografia, mas não é: uma seleção de 15 incríveis artistas hiper-realistas. Seja pintando retratos, paisagens ou objetos, os quinze artistas a seguir criam obras tão realistas que são de tirar o fôlego. Conheça o trabalho desses mestres do hiper-realismo, e surpreenda-se

Fotografia? Não.

O hiper-realismo é derivado do fotorrealismo, e teve sua origem na segunda metade do século XX. Como o próprio nome indica, o realismo é levado ao extremo, ou seja, acrescentam-se muitos detalhes às obras de pintura, desenho ou escultura, para que esse se aproxime o máximo possível da realidade.

Os hiper-realistas utilizam-se das cargas sociais ou emocionais de suas obras, contextualizando-as de modo a criar narrativas singular e cheias de poesia.

É importante notar o componente paradoxal do hiper-realismo: apesar das obras aproximarem-se da realidade a ponto de serem quase idênticos, não são a realidade. Essa simulação de realidade cria a ilusão de uma nova realidade, mais complexa e, principalmente, mais subjetiva.

Roberto Bernardi: impessoalidade fria

O italiano Roberto Bernardi é tão real que podemos quase sentir a temperatura dos objetos que retrata. O artista, que começou a pintar telas com menos de 10 anos de idade, hoje domina o hiper-realismo. Suas obras mostram cenas da vida cotidiana de forma crítica, exibindo com impessoalidade e frieza a forma automatizada como vivemos.

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hiper-realismo foto

Por Roberto Bernardi

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Por Roberto Bernardi

Alyssa Monks: quando o realismo descontrói a si mesmo

"Quando comecei a pintar o corpo humano, me tornei tão obcecada com ele que precisava do máximo de realismo possível. Persegui realismo até que chegou a um extremo, e começou a desconstruir a si mesmo", explica Alyssa Monks, pintora de Nova Jérsei de 35 anos. "Estou explorando a possibilidade e potencial de representação, onde a pintura figurativa e abstrata encontram-se, onde coexistem."

E como fazer o abstrato e o hiper-realismo coexistirem? Alyssa utiliza-se de "filtros" que insere em suas pinturas – como a presença de água, vidro, vapor – que distorcem as figuras que representa.

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Por Alyssa Monks

Juan Francisco Casas: só caneta Bic

Quem nunca rabiscou com uma caneta Bic? O espanhol Juan Francisco Casas, de 34 anos, cria desenhos tão realistas usando apenas as famosas canetas que parecem fotografias.

Tudo começou há seis anos, quando Casas começou a desenhar seus amigos divertindo-se. Um ano depois, o artista decidiu enviar um dos seus desenhos a uma competição nacional de arte – apesar de achar que os jurados, provavelmente, achariam que aquilo era piada. Ele levou o segundo lugar.

Seus trabalhos incríveis, alguns com vários metros de altura, consomem 14 canetas esferográficas cada, e podem levar até duas semanas para ficar prontos.

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Por Juan Francisco Casas

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Por Juan Francisco Casas

Gottfried Helnwein: verdades perturbadoras

Um dos mais famosos artistas hiper-realistas é o austríaco Gottfried Helnwein. Seus trabalhos geralmente são perturbadores, sensação que ganha ainda mais força pelo realismo chocante. Alguns temas recorrentes em seus trabalhos são a infância e a perda da inocência, mas o artista também fez diversos autoretratos hiper-realistas, além de vez ou outra, trabalhar com performances e instalações.

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Por Gottfried Helnwein

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Henrik Aarrestad Uldalen: sonhos em realidade

É difícil acreditar que o norueguês Henrik Aarrestad Uldalen seja um autodidata. Ele cria obras hiper-realistas envoltas em uma aura mística, que remetem aos sonhos. As figuras desenhadas podem estar flutuando, voando ou nadando em grandes espaços vazios.

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Henrik Aarestad

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Henrik Aarestad (imagem)

Paul Lung: na ponta da lapiseira

Paul Lung, um artista de 38 anos de Hong Kong, faz desenhos tão incríveis que seus amigos começaram a duvidar que as obras não eram fotografias. O que é mais impressionante é que tudo que ele precisa são um grafite simples 0,5 mm, e uma folha sulfite A4!

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Paul Lung

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Paul Lung

Paul Cadden: carvão e giz branco

O artista escocês Paul Cadden utiliza apenas grafite, giz branco e carvão para criar seus retratos hiper-realistas. Ele dá destaque para os elementos mais sutis das cenas, do brilho nas gotas de água escorrendo às pequenas rugas que marcam o rosto de um idoso.

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Paul Cadden

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Paul Cadden

Rajacenna : talento aos 18 anos

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Rajacenna

Dá para acreditar que o desenho acima foi feito por uma garota de 18 anos?

Rajacenna está acostumada a ser precoce. A holandesa, nascida em 1993, começou a trabalhar como modelo aos 4 anos de idade, e aos 5 fez suas primeiras aparições na televisão. Ela estrelou filmes, novelas e seriados e aos 12 anos tornou-se apresentadora do Kinderjournaal.

Porém, foi só em 2009 que Rajacenna decidiu dedicar-se aos desenhos, e começou a produzir ilustrações incríveis. Ela leva cerca de 40 horas para completar cada um dos desenhos. Ufa!

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Rajacenna

Para os mais céticos, aqui está um vídeo de Rejacenna desenhando. Impressionante!

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Steve Mills: simplicidade bucólica

O americano Steve Mills sempre foi obcecado pela busca do realismo em seus desenhos. Quando tornou-se pintor, durante seu estudos de paisagens, descobriu o hiper-realismo e apaixonou-se.

As obras de Steve Mills demonstram uma paixão pela vida e um gosto em encontrar a beleza nos pequenos detalhes. O próprio artista define seu tema favorito como "o comum incomum" ou "o ordinário extraordinário".

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Steve Mills

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Steve Mills

Hubert de Lartigue: a força da sensualidade

O francês Hubert de Lartigue já foi ilustrador de livros e desenhista de pin-ups. Não satisfeito, ele resolveu expressar todo seu deslumbramento pela beleza feminina, nas suas manifestações mais simples, através de suas pinturas hiper-realistas.

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Hubert Lartigue

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Hubert Lartigue

Hynek Martinec: a pessoa por trás da imagem

O tcheco Hynek Martinec captura em suas pinturas hiper-realistas as texturas da personalidade e psique dos retratados. Quase podemos compreender as pessoas que estão sobre a tela, com suas deficiências e medos. O artista já viajou por vários lugares do mundo, e pintou pessoas das mais diversas nacionalidades, crenças e idades – o que só fez crescer o seu talento.

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Hynek Martinec

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Hynek Martinec

Tjalf Sparnaay: para comer com os olhos

Difícil olhar para os quadros de Tjalf Sparnaay e não ficar com água na boca. O artista, influenciado por grandes pintores como Johannes Vermeer e Rembrant, nos apresenta alimentos cotidianos tão cheios de presença que podemos quase saboreá-los: os seus pães são crocantes, suas carnes, suculentas, e seus doces, apetitosos. Bon appetit!

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Tjalf

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Tjalf

Matteo Mezzetta: o cotidiano em branco e preto

Em suas telas, Matteo Mezzetta dedica-se a reproduzir cenas do cotidiano em preto e branco. Suas obras ganham força derivada tanto pelo excesso de realismo, quanto pela colocação de situações absolutamente comuns como arte, obrigando a expectador a refletir sobre a própria caracterização de obras de arte como tal.

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Matteo

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Matteo

Yigal Ozeri: mulheres etéreas

Yigal Ozeri, de Israel, prefere retratar jovens mulheres em conexão com a natureza, envoltas em um ar etéreo e misterioso. A feminilidade e a sensualidade emanam de sua obra, com toques renascentistas. Ozeri afirma que, sob as tintas de seus retratos, podemos encontrar um mundo de "romantismo, violência e liberdade".

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Yigal Ozeri

Diego Gravinese: viva a vida

O argentino Diego Gravinese cria obras cheias de vitalidade e movimento. A sua mistura perfeita entre o mundano e o bizarro, além da evidente descontração dos retratados, gera uma energia e presença inconfundíveis em cada um de seus quadros.

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Diego Gravinese

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Diego Gravinese

Juliana Pacheco, FalaCultura Edição: Pragmatismo Politico

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Por que e a quem Paulo Freire incomoda?

"Ao invés de 'basta de Paulo Freire', precisamos de mais Paulo Freire para um país mais decente". Especialistas explicam por que o patrono da educação brasileira incomoda conservadores e desavisados

paulo freire educação brasil
Paulo Freire (Arquivo)

Ana Luiza Basílio, Centro de Referências em Educação Integral

"Chega de doutrinação marxista. Basta de Paulo Freire". "É preciso colocar Paulo Freire em seu devido lugar, que é o lixo da história". Esses foram alguns ecos decorrentes das manifestações contra o governo no mês de março, que reuniram pessoas nas ruas de várias capitais brasileiras.

Por que Paulo Freire incomoda? A quem? O que esses discursos revelam? Levamos os questionamentos a alguns especialistas, com o intuito de resgatar parte da história e da contribuição do educador pernambucano, declarado patrono da educação brasileira em 2012, pela lei 12.612, sancionada pela presidente Dilma Rousseff.

O lugar de Paulo Freire

Para o professor titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Instituto Paulo Freire, Moacir Gadotti, é preciso rigor para falar de Paulo Freire. Ele relembra as incontáveis publicações e referências ao educador, algumas disponíveis na internet, e completa: "ele tem um lugar no mundo garantido pelo reconhecimento do seu trabalho, com contribuições na educação, nas artes, nas ciências e até na engenharia".

Por isso, avaliá-lo somente como educador não basta, opina o professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Miguel Arroyo. "A radicalidade dele tem que ser entendida dentro de nossa história", garante. Daí a necessidade de se reivindicar o lugar de Paulo Freire. "Sobretudo por parte dos educadores populares que assumem, para além de suas ideias, as concepções de mundo que estão por trás delas", reflete Gadotti.

Uma pedagogia concreta

O rechaço a Paulo Freire não é novidade e tampouco recente. Tem início já nos fins dos anos 50 e começo da década de 60, momento em que o educador idealiza a educação popular e realiza as primeiras iniciativas de conscientização política do povo, em nome da emancipação social, cultural e política das classes sociais excluídas e oprimidas. Sua metodologia dialógica foi considerada perigosamente subversiva pelo regime militar, o que rendeu a Freire o exílio. O educador, entretanto, não deixou de produzir e nesse período escreveu algumas de suas principais obras, dentre elas, a Pedagogia do Oprimido.

Arroyo entende que as manifestações atuais contra o educador só mostram que os setores conservadores continuam tão reacionários quanto na época da ditadura. "E isso surge em um momento em que o partido político que está no poder foi eleito, majoritariamente, pelo cidadão pobre, negro, nordestino. A rejeição a Freire, a meu ver, revela uma questão premente de nossa história de reconhecer ou não o povo como sujeito de direitos", garante, ponto sobre o qual o educador se apoia para chamar a pedagogia freiriana de "pedagogia dos oprimidos concretos".

"O que caracteriza a nossa história é não reconhecer os indígenas, os negros, os pobres, os camponeses, os quilombolas, os ribeirinhos e os favelados como sujeitos humanos", condena o educador.Em sua análise, essa crença serviu, ao longo da história, como justificativa ideológica para que as classes dominantes escravizassem e espoliassem esses setores sociais. "Tudo isso a partir de uma visão de que somos o símbolo da cultura, civilidade e os outros a expressão da sub-humanidade, subcultura, imoralidade. É isso que nos acompanha ao longo da vida e Paulo Freire se contrapôs a isso, inverteu esse olhar", analisa Arroyo.

O que ele considera "como um dos pontos mais radicais e politicamente avançados de Freire" é a valorização da cultura, das memórias, dos valores, saberes, racionalidade e matrizes culturais e intelectuais do povo, contrapondo-se à lógica de que era necessária a inferiorização de uns para garantir a dominação de outros. Na educação, sobretudo, essa radicalidade implica em enfrentamentos. "Existe a ideia de que nós, cultos, racionais, conscientes, vamos fazer o favor de, através da educação, conscientizar o povo; para Freire não se tratava de conscientizá-los, moralizá-los, mas de reconhecê-los como sujeitos de uma outra pedagogia, capaz de dialogar com essas culturas, identidades e histórias", esclarece Arroyo.

Paulo Freire em outros contextos

Essa centralidade nos sujeitos, própria da concepção freiriana, também apoiou a organização de trabalhadores. Na cidade de São Paulo, quando à frente da Secretaria Municipal de Educação, na gestão de Luiza Erundina, Paulo Freire aprovou o Estatuto do Magistério importante não só aos docentes como a todos os profissionais da educação, como avalia a atual chefe de gabinete da deputada estadual Luiza Erundina, Muna Zeyn, que trabalhou com o educador na gestão paulistana. "Para ele, todos estavam em processo de educação, do bedel à faxineira, passando pelo professor".

Influência também na construção de organizações e movimentos de massa, caso do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Para a militante do setor de Educação do Movimento Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), de Pernambuco, Rubneuza Leandro de Souza, a combinação entre necessidade e conscientização foi vital para a organização do movimento. "Sobretudo em relação à educação. Começamos a nos perguntar qual educação queríamos. Sabíamos que não era aquela que desconhecia o contexto das crianças e as estigmatizava como filhas de ladrões, criminalizando a nossa luta", critica.

Nas escolas do MST, há uma necessidade de que o conhecimento escolar se articule com a realidade e que a educação se estabeleça como elemento de transformação, "libertadora, contra hegemônica e emancipadora". Rubneuza explica que, nos acampamentos, onde muitas vezes não há escolas próximas, o movimento busca auto organizá-las e que, quando o assentamento é conquistado, há um processo de formalização da instituição. "Isso porque a educação formal entra em contradição com nosso processo de luta, quase sempre porque a escola não entende a realidade que a criança vive".

Pela integralidade dos indivíduos

Há quem ataque a pedagogia freiriana, tratando-a como doutrinária. Gadotti explica que a grande questão é entender que Freire reconhecia a educação como ato político, de cultura. "A primeira aula de alfabetização em Angicos (Rio Grande do Norte) foi sobre cultura", relembra o educador. A educação, a formação e até a alfabetização inicial precisa passar pela cultura, pelo reconhecimento do sujeito que conhece, que faz sua leitura do mundo. E é por ser cultural que a educação é política, não no sentido partidário, mas de decidir a vida na pólis (cidade), discutir a vida, o mundo que queremos".

Ainda de acordo com Gadotti, a educação deve ser vista como um dos elementos de uma cidade educadora , que prevê a educação integral, e não deve se referir só ao conhecimento e ao saber simbólico, mas também ao sensível, ao técnico. "A integralidade do saber é o tecido técnico, simbólico, político, cultural e implica também a politicidade do ato educativo. Ninguém nega que a educação supõe valores, princípios, ética. É isso que falta discutirmos na educação brasileira hoje", constata Gadotti.

Por mais Paulo Freire

Em sua análise, a perseguição a Paulo Freire na época da ditadura não apenas o expulsou do Brasil, mas também do sistema de ensino do país, impondo um autoritarismo e associando a educação ao chamado tecnicismo pedagógico, que a afasta de qualquer caráter social. "Não conseguimos sequer agregar qualidade a esse tecnicismo, mas o fato é que ele é uma herança da ditadura e continua forte", evidencia.

Para Gadotti, o ethos freiriano não está presente nas escolas hoje. "Estaria se tivéssemos uma educação participativa, democrática, em que a escola formasse para a cidadania, como está na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Não é só formar para o trabalho, mas para a cidadania, para que o povo participe da construção de uma nação. Ao invés de 'basta de Paulo Freire', precisamos de mais Paulo Freire para um país mais decente", reforça.

Arroyo também compartilha da opinião e demonstra preocupação, sobretudo com a proposta de educação integral. "Não podemos entendê-la como mais tempo de escola, nesse mesmo contexto que estamos inseridos. Seria um desrespeito para o povo e iria contra tudo o que Paulo Freire defendia", alerta. É fundamental, em sua opinião, que as propostas pedagógicas incorporem os indivíduos em suas totalidades. "Precisamos entender as crianças que chegam às escolas em diversos contextos, o da família negra, o da favela, como filhos de mulheres trabalhadoras. Que saberes e lutas eles trazem consigo para a educação?", indaga.

"Essas são experiências reais, totais, que exigem uma proposta plural, integrada", problematiza. Para ele, é urgente pensar que a educação, o currículo diversificado e os saberes prévios podem dar conta de devolver a humanidade roubada das crianças e adolescentes oprimidos. "A função da escola só é integral se ela passa a ser um espaço digno, justo, capaz de recuperar o que lhes roubam", conclui.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Cerveja: as grandes marcas brasileiras omitem que o que você bebe é milho

Cerveja: o transgênico que você bebe? Sem informar consumidores, Ambev, Itaipava, Kaiser e outras marcas trocam cevada pelo milho e podem estar levando à ingestão inconsciente de OGMs

cerveja brasileira produção milho transgênicos

Flavio Siqueira Júnior e Ana Paula Bortoletto, Outras Palavras

Vamos falar sobre cerveja. Vamos falar sobre o Brasil, que é o 3º maior produtor de cerveja do mundo, com 86,7 bilhões de litros vendidos ao ano e que transformou um simples ato de consumo num ritual presente nos corações e mentes de quem quer deixar os problemas de lado ou, simplesmente, socializar.

Não se sabe muito bem onde a cerveja surgiu, mas sua cultura remete a povos antigos. Até mesmo Platão já criou uma máxima, enquanto degustava uma cerveja nos arredores do Partenon quando disse: "era um homem sábio aquele que inventou a cerveja".

E o que mudou de lá pra cá? Jesus Cristo, grandes navegações, revolução industrial, segunda guerra mundial, expansão do capitalismo… Muita coisa aconteceu e as mudanças foram vistas em todo lugar, inclusive dentro do copo. Hoje a cerveja é muito diferente daquela imaginada pelo duque Guilherme VI, que em 1516, antecipando uma calamidade pública, decretou na Bavieira que cerveja era somente, e tão somente, água, malte e lúpulo.

Acontece que em 2012, pesquisadores brasileiros ganharam o mundo com a publicação de um artigo científico no Journal of Food Composition and Analysis, indicando que as cervejas mais vendidas por aqui, ao invés de malte de cevada, são feitas de milho.

Antarctica, Bohemia, Brahma, Itaipava, Kaiser, Skol e todas aquelas em que consta como ingrediente "cereais não maltados", não são tão puras como as da Baviera, mas estão de acordo com a legislação brasileira, que permite a substituição de até 45% do malte de cevada por outra fonte de carboidratos mais barata.

Agora pense na quantidade de cerveja que você já tomou e na quantidade de milho que ela continha, principalmente a partir de 16 de maio de 2007.

Foi nessa data que a CNTBio inaugurou a liberação da comercialização do milho transgênico no Brasil. Hoje já temos 18 espécies desses milhos mutantes produzidos por Monsanto, Syngenta, Basf, Bayer, Dow Agrosciences e Dupont, cujo faturamento somado é maior que o PIB de países como Chile, Portugal e Irlanda.

Tudo bem, mas e daí?

E daí que ainda não há estudos que assegurem que esse milho criado em laboratório seja saudável para o consumo humano e para o equilíbrio do meio ambiente. Aliás, no ano passado um grupo de cientistas independentes liderados pelo professor de biologia molecular da Universidade de Caen, Gilles-Éric Séralini, balançou os lobistas dessas multinacionais com o teste do milho transgênico NK603 em ratos: se fossem alimentados com esse milho em um período maior que três meses, tumores cancerígenos horrendos surgiam rapidamente nas pobres cobaias. O pior é que o poder dessas multinacionais é tão grande, que o estudo foi desclassificado pela editora da revista por pressões de um novo diretor editorial, que tinha a Monsanto como seu empregador anterior.

Além disso, há um movimento mundial contra os transgênicos e o Brasil é um de seus maiores alvos. Não é para menos, nós somos o segundo maior produtor de transgênicos do mundo, mais da metade do território brasileiro destinado à agricultura é ocupada por essa controversa tecnologia. Na safra de 2013 do total de milho produzido no país, 89,9% era transgênico. (Todos esses dados são divulgados pelas próprias empresas para mostrar como o seu negócio está crescendo)

Enquanto isso as cervejarias vão "adequando seu produto ao paladar do brasileiro" pedindo para bebermos a cerveja somente quando um desenho impresso na latinha estiver colorido, disfarçando a baixa qualidade que, segundo elas, nós exigimos. O que seria isso se não adaptar o nosso paladar à presença crescente do milho?

Da próxima vez que você tomar uma cervejinha e passar o dia seguinte reinando no banheiro, já tem mais uma justificativa: "foi o milho".

Dá um frio na barriga, não? Pois então tente questionar a Ambev, quem sabe eles não estão usando os 10,1% de milho não transgênico? O atendimento do SAC pode ser mais atencioso do que a informação do rótulo, que se resume a dizer: "ingredientes: água, cereais não maltados, lúpulo e antioxidante INS 316".

Vai uma, bem gelada?

quinta-feira, 9 de abril de 2015

11 filmes para entender a ditadura militar no Brasil

Onze filmes que fazem um diagnóstico de como o cinema retratou a ditadura militar no Brasil

Das sessões de tortura aos fantasmas da ditadura, o cinema brasileiro invariavelmente volta aos anos do regime militar para desvendar personagens, fatos e consequências do golpe que destituiu o governo democrático do país e estabeleceu um regime de exceção que durou longos 21 anos. Estreantes e veteranos, muitos cineastas brasileiros encontraram naqueles anos histórias que investigam aspectos diferentes do tema, do impacto na vida do homem comum aos grandes acontecimentos do período.

batismo de sangue filme ditadura militar
Cena de Batismo de Sangue (Reprodução)

Embora a produção de filmes sobre o assunto tenha crescido mais recentemente, é possível encontrar obras realizadas durante o próprio regime militar, muitas vezes sob a condição de alegoria. "Terra em Transe", de Glauber Rocha, é um dos mais famosos, retratando as disputas políticas num país fictício. Mais corajoso do que Glauber foi seu conterrâneo baiano Olney São Paulo, que registrou protestos de rua e levou para a tela em forma de parábola, o que olhe custou primeiro a liberdade e depois a vida.

Os onze filmes que compõem esta lista, se não são os melhores, fazem um diagnóstico de como o cinema retratou a ditadura brasileira.

1. MANHÃ CINZENTA (1968), Olney São Paulo – Em plena vigência do AI-5, o cineasta-militante Olney São Paulo dirigiu este filme, que se passa numa fictícia ditadura latino-americana, onde um casal que participa de uma passeata é preso, torturado e interrogado por um robô, antecipando o que aconteceria com o próprio diretor. A ditadura tirou o filme de circulação, mas uma cópia sobreviveu para mostrar a coragem de Olney São Paulo, que morreu depois de várias sessões de tortura, em 1978.

2. PRA FRENTE, BRASIL (1982), Roberto Farias – Um homem comum volta para casa, mas é confundido com um "subversivo" e submetido a sessões de tortura para confessar seus supostos crimes. Este é um dos primeiros filmes a tratar abertamente da ditadura militar brasileira, sem recorrer a subterfúgios ou aliterações. Reginaldo Faria escreveu o argumento e o irmão, Roberto, assinou o roteiro e a direção do filme, repleto de astros globais, o que ajudou a projetar o trabalho.

3. NUNCA FOMOS TÃO FELIZES (1984), Murilo Salles – Rodado no último ano do regime militar, a estreia de Murilo Salles na direção mostra o reencontro entre pai e filho, depois de oito anos. Um passou anos na prisão; o outro vivia num colégio interno. Os anos de ausência e confinamento vão ser colocados à prova num apartamento vazio, onde o filho vai tentar descobrir qual a verdadeira identidade de seu pai. Um dos melhores papéis da carreira de Claudio Marzo.

4. CABRA MARCADO PARA MORRER (1984), Eduardo Coutinho – A história deste filme equivale, de certa forma, à história da própria ditadura militar brasileira. Eduardo Coutinho rodava um documentário sobre a morte de um líder camponês em 1964, quando teve que interromper as filmagens por causa do golpe. Retomou os trabalhos 20 anos depois, pouco antes de cair o regime, mesclando o que já havia registrado com a vida dos personagens duas décadas depois. Obra-prima do documentário mundial.

5. O QUE É ISSO, COMPANHEIRO? (1997), Bruno Barreto – Embora ficcionalize passagens e personagens, a adaptação de Bruno Barreto para o livro de Fernando Gabeira, que narra o sequestro do embaixador americano no Brasil por grupos de esquerda, tem seus méritos. É uma das primeiras produções de grande porte sobre a época da ditadura, tem um elenco de renome que chamou atenção para o episódio e ganhou destaque internacional, sendo inclusive indicado ao Oscar.

6. AÇÃO ENTRE AMIGOS (1998), Beto Brant – Beto Brant transforma o reencontro de quatro ex-guerrilheiros, 25 anos após o fim do regime militar, numa reflexão sobre a herança que o golpe de 1964 deixou para os brasileiros. Os quatro amigos, torturados durante a ditadura, descobrem que seu carrasco, o homem que matou a namorada de um deles, ainda está vivo –e decidem partir para um acerto de contas. O lendário pagador de promessas Leonardo Villar faz o torturador.

7. CABRA CEGA (2005), Toni Venturi – Em seu melhor longa de ficção, Toni Venturi faz um retrato dos militantes que viviam confinados à espera do dia em que voltariam à luta armada. Leonardo Medeiros vive um guerrilheiro ferido, que se esconde no apartamento de um amigo, e que tem na personagem de Débora Duboc seu único elo com o mundo externo. Isolado, começa a enxergar inimigos por todos os lados. Belas interpretações da dupla de protagonistas.

8. O ANO EM QUE MEUS PAIS SAIRAM DE FÉRIAS (2006), Cao Hamburger – Cao Hamburger, conhecido por seus trabalhos destinados ao público infantil, usa o olhar de uma criança como fio condutor para este delicado drama sobre os efeitos da ditadura dentro das famílias. Estamos no ano do tricampeonato mundial e o protagonista, um menino de doze anos apaixonado por futebol, é deixado pelos pais, militantes de esquerda, na casa do avô. Enquanto espera a volta deles, o garoto começa a perceber o mundo a sua volta.

9. HOJE (2011), Tata Amaral – Os fantasmas da ditadura protagonizam este filme claustrofóbico de Tata Amaral. Denise Fraga interpreta uma mulher que acaba de comprar um apartamento com o dinheiro de uma indenização judicial. Cíclico, o filme revela aos poucos quem é a protagonista, por que ela recebeu o dinheiro e de onde veio a misteriosa figura que se esconde entre os cômodos daquele apartamento. Denise Fraga surpreende num papel dramático.

10. TATUAGEM (2013), Hilton Lacerda – A estreia do roteirista Hilton Lacerda na direção é um libelo à liberdade e um manifesto anárquico contra a censura. Protagonizado por um grupo teatral do Recife, o filme contrapõe militares e artistas em plena ditadura militar, mas transforma os últimos nos verdadeiros soldados. Os soldados da mudança. Irandhir Santos, grande, interpreta o líder da trupe. Ele cai de amores pelo recruta vivido pelo estreante Jesuíta Barbosa, que fica encantado pelo modo de vida do grupo.

11. BATISMO DE SANGUE (2007) – Apesar do incômodo didatismo do roteiro, o longa é eficiente em contar a história dos frades dominicanos que abriram as portas de seu convento para abrigar o grupo da Aliança Libertadora Nacional (ALN), liderado por Carlos Marighella. Gerando desconfiança, os frades logo passaram a ser alvo da polícia, sofrendo torturas físicas e psicológicas que marcaram a política militar. Bastante cru, o trabalho traz boas atuações do elenco principal e faz um retrato impiedoso do sofrimento gerado pela ditadura.

Cinema Uol e Literatortura

As novas doenças provocadas pelo uso da internet

É oficial. Conheça oito novas doenças que surgiram - ou pioraram - por conta do uso quase compulsivo da Internet e dos dispositivos digitais móveis

doença internet

via IDGNow

A Internet é um buffet infinito de vídeos de gatos, TV e Instagrams de celebridades. Mas ela também pode estar aos poucos levando você à beira da insanidade. E não estamos aqui usando nenhuma figura de linguagem.

À medida que a Internet evoluiu para ser onipresente da vida moderna, testemunhamos o aumento de uma série de transtornos mentais distintos ligados diretamente ao uso da tecnologia digital. Até recentemente, esses problemas, amenos ou destrutivos, não tinham sido reconhecidos oficialmente pela comunidade médica.

Algumas dessas desordens são novas versões de aflições antigas, renovadas pela era da banda larga móvel, enquanto outras são criaturas completamente novas. Não fique surpreso se você sentir uma pontinha de – pelo menos – uma ou duas delas.

Nomophobia

O que é: a ansiedade que surge por não ter acesso a um dispositivo móvel. O termo "Nomophobia" é uma abreviatura de "no-mobile phobia" (medo de ficar sem telefone móvel).

Sabe aquela horrível sensação de estar desconectado quando acaba a bateria do seu celular e não há tomada elétrica disponível? Para alguns de nós, há um caminho neural que associa diretamente essa sensação desconfortável de privação tecnológica a um tremendo ataque de ansiedade.

A nomophobia é o aumento acentuado da ansiedade que algumas pessoas sentem quando são separadas de seus telefones. E não se engane, pois não se trata de um #FirstWorldProblem (problema de primeiro mundo). O distúrbio pode ter efeitos negativos muito reais na vida das pessoas no mundo todo. E é mais intenso nos heavy users de dispositivos móveis

Tanto que essa condição encontrou seu caminho na mais recente edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5, ou Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais) e levou a um programa de tratamento dedicado à Nomophobia no Centro de Recuperação Morningside em Newport Beach, Califórnia.

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"Estamos condicionados a prestar atenção às notificações dos nossos telefones", disse Rosen. "Somos como os cães de Pavlov, de certa forma. Você vê as pessoas pegarem seus celulares e dois minutos depois fazerem a mesma coisa, mesmo que nada tenha ocorrido. Isso é impulsionado pela ação reflexa, bem como pela ansiedade para se certificar de que não ter perdido nada. É tudo parte da reação FOMO (Fear Of Missing Out, ou medo de estar perdendo algo)."

Síndrome do toque fantasma

O que é: quando o seu cérebro faz com que você pense que seu celular está vibrando no seu bolso (ou bolsa, se você preferir).

Alguma vez você já tirou o telefone do bolso porque o sentiu tocar e percebeu depois que ele estava no silencioso o tempo todo? E, ainda mais estranho, ele nem estava no seu bolso para começo de conversa? Você pode estar delirando um pouco, mas não está sozinho.

Segundo o Dr. Larry Rosen, autor do livro iDisorder, 70% dos heavy users (usuários intensivos) de dispositivos móveis já relataram ter experimentado o telefone tocando ou vibrando mesmo sem ter recebido nenhuma ligação. Tudo graças a mecanismos de resposta perdidos em nossos cérebros.

"Provavelmente sempre sentimos um leve formigamento no nosso bolso. Há algumas décadas nós teríamos apenas assumido que isso era uma leve coceira e teríamos coçado", diz Rosen em entrevista ao TechHive.

"Mas agora, nós configuramos o nosso mundo social para girar em torno dessa pequena caixa em nosso bolso. Então, sempre que sentimos um formigamento, recebemos uma explosão de neurotransmissores do nosso cérebro que podem causar tanto ansiedade quanto prazer e nos preparam para agir. Mas ao invés de achar que é uma coceira, reagimos como se fosse o telefone que temos que atender prontamente", completa.

No futuro, com a computação vestível, há o risco da doença evoluir para novas formas, como, por exemplo, usuários de Google Glass começarem a ver coisas que não existem porque seu cérebro está ligado a sinais típicos do aparelho.

Náusea Digital (Cybersickness)

O que é: a desorientação e vertigem que algumas pessoas sentem quando interagem com determinados ambientes digitais.

A última versão do iOS, sistema operacional móvel da Apple, é uma reivenção plana, versátil e bonita da interface do usuário móvel. Infelizmente, ela também faz as pessoas vomitarem e forneceu o mais recente exemplo da doença.

Assim que a nova versão do iOS foi liberada para os usuários de iPhone e iPad no mês passado, os fóruns de suporte da Apple começaram a encher com reclamações de pessoas que sentem desorientação e náuseas depois de usar a nova interface.

Isso tem sido atribuído em grande parte ao efeito que faz com que os ícones e a tela de abertura pareçam estar se movendo dentro de um mundo tridimensional abaixo do visor de vidro.

Essas tonturas e náuseas resultantes de um ambiente virtual foram apelidadas de ciberdoença. O termo surgiu na década de 1990 para descrever a sensação de desorientação vivida por usuários iniciais de sistemas de realidade virtual. É basicamente o nosso cérebro sendo enganado e ficando enjoado por conta da sensação de movimento quando não estamos realmente nos movimentando.

Depressão de Facebook

O que é: a depressão causada por interações sociais (ou a falta de) no Facebook.

Os seres humanos são criaturas sociais. Então você pode pensar que o aumento da comunicação facilitada pelas mídias sociais faria todos nós mais felizes e mais contentes. Na verdade, o oposto é que parece ser verdade.

Um estudo da Universidade de Michigan mostra que o grau de depressão entre jovens corresponde diretamente ao montante de tempo que eles gastam no Facebook.

Uma possível razão é que as pessoas tendem a postar apenas as boas notícias sobre eles mesmos na rede social: férias, promoções, fotos de festas, etc. Então é super fácil cair na falsa crença de que todos estão vivendo vidas muito mais felizes e bem-sucedidas que você (quando isso pode não ser o caso).

Tenha em mente que esse crescimento da interação das mídias sociais não tem que levar ao desespero.

O Dr. Rosen também conduziu um estudo sobre o estado emocional dos usuários do Facebook e identificou que, enquanto realmente há uma relação entre o uso do Facebook e problemas emocionais como depressão, os usuários que possuem um grande número de amigos na rede social mostraram ter menor incidência de tensão emocional.

Isso é particularmente verdade quando o uso da mídia social é combinado com outras formas de comunicação, como falar ao telefone.

Moral da história: 1) não acredite em tudo o que seus amigos postam no Facebook e 2) pegue o telefone de vez em quando.

Transtorno de Dependência da Internet

O que é: uma vontade constante e não saudável de acessar à Internet.

O Transtorno de Dependência da Internet (por vezes referido como Uso Problemático da Internet) é o uso excessivo e irracional da Internet que interfere na vida cotidiana. Os termos "dependência" e "transtorno" são um pouco controversos na comunidade médica, já que a utilização compulsiva da Internet é vista frequentemente como sintoma de um problema maior, em vez de ser considerada a própria doença.

"Diagnósticos duplos fazem parte de tratamentos, de modo que o problema está associado a outras doenças, como depressão, TOC, Transtorno de Déficit de Atenção e ansiedade social", diz a Dra. Kimberly Young. A médica é responsável pelo Centro de Dependência da Internet, que trata de inúmeras formas de dependência à rede, como o vício de jogos online e jogos de azar, e vício em cibersexo.

Além disso, ela identificou que formas de vício de Internet geralmente podem ser atribuídas a "baixa autoestima, baixa autossuficiência e habilidades ruins".

Vício de jogos online

O que é: uma necessidade não saudável de acessar jogos multiplayer online.

De acordo com um estudo de 2010 financiado pelo governo da Coreia do Sul, cerca de 18% da população com idades entre 9 e 39 anos sofrem de dependência de jogos online. O país inclusive promulgou uma lei chamada "Lei Cinderela", que corta o acesso a games online entre a meia-noite e às 6 da manhã para usuários com menos de 16 anos em todo o país.

Embora existam poucas estatísticas confiáveis ​​sobre o vício em videogames nos Estados Unidos, o número de grupos de ajuda online especificamente destinados a essa aflição aumentou nos últimos anos. Exemplos incluem o Centro para Viciados em Jogos Online e o Online Gamers Anonymous, que formou o seu próprio programa de recuperação de 12 passos.

Embora a atual edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders não reconheça o vício em jogos online como um transtorno único, a Associação Psiquiátrica Americana decidiu incluí-lo em seu índice (ou seção III), o que significa que estará sujeito a mais pesquisa e pode eventualmente ser incluído junto a outras dependências não baseadas em substâncias químicas, como o vício em jogos de azar.

"Quando você é dependente de algo, seu cérebro basicamente está informando que precisa de certas substâncias neurotransmissoras, particularmente a dopamina e a serotonina, para se sentir bem", diz o Dr. Rosen. "O cérebro aprende rapidamente que certas atividades vão liberar essas substâncias químicas. Se você é um viciado em jogos de azar, tal atividade é o jogo. Se você é um viciado em jogos online, então a atividade é jogar vídeogames. E a necessidade de receber os neurotransmissores exige que você faça repetidamente a atividade para se sentir bem."

Cibercondria, ou hipocondria digital

O que é: a tendência de acreditar que você tem doenças sobre as quais leu online.

O corpo humano é um magnífico apanhado de surpresas que constantemente nos presenteia com dores misteriosas, aflições e pequenos inchaços que não estavam ali da última vez que verificamos. Na maioria das vezes, essas pequenas anormalidades não dão em nada.

Mas os vastos arquivos de literatura médica disponíveis online permitem que a nossa imaginação corra solta em todos os tipos de pesadelos médicos!

Teve uma dor de cabeça? Provavelmente não é nada. Mas, de novo, a WebMD diz que essas dores de cabeça são um dos sintomas de tumor no cérebro. Há uma chance de você morrer muito em breve! É esse o tipo de pensamento que passa pela cabeça de um cibercondríaco – que juntam fatores médicos para chegar às piores conclusões possíveis.

E isso está longe de ser incomum. Em 2008, um estudo da Microsoft descobriu que autodiagnósticos feitos a partir de ferramentas de busca online geralmente levam os "buscadores aflitos" a concluir o pior. A hipocondria sempre existiu, claro, mas antes as pessoas não tinham a Internet para ajudar a pesquisar informações médicas às três da manhã. A cibercondria é apenas uma hipocondria com conexão banda larga.

"A Internet pode exarcebar os sentimentos existentes de hipocondria e, em alguns casos, causar novas ansiedades. Porque há muita informação médica lá fora, e algumas são reais e válidas e outras contraditórias", disse o Dr. Rosen. "Mas, na Internet, a maioria das pessoas não pratica a leitura literal da informação. Você pode encontrar uma maneira de transformar qualquer sintoma em milhares de doenças terríveis. Você alimenta essa sensação de que está ficando doente."

O efeito Google

O que é: a tendência do cérebro humano de reter menos informação porque ele sabe que as respostas estão ao alcance de alguns cliques.

Graças à Internet, um indivíduo pode facilmente acessar quase toda a informação que a civilização armazenou ao longo de toda sua vida. Acontece que essa vantagem acabou alterando a forma como nosso cérebro funciona.

Identificada algumas vezes como "The Google Effect" (ou efeito Google) as pesquisas mostram que o acesso ilimitado à informação faz com que nossos cérebros retenham menos informações. Ficamos preguiçosos. Em algum lugar do nosso cérebro está o pensamento "eu não preciso memorizar isso porque posso achar no Google mais tarde".

Segundo o Dr. Rosen, o Efeito Google não é necessariamente uma coisa ruim. Ele poderia ser visto como o marco de uma mudança social, uma evolução que apontaria para o nascimento de uma população mais esperta e mais informada. Mas também é possível, admite ele, que tenha resultados negativos em certas situações. Por exemplo, um jovem adolescente não memorizar a matéria das provas porque ele sabe que a informação estará no Google quando ele precisar, diz o médico.

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