Um livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive. (Padre Antônio Vieira)

terça-feira, 30 de julho de 2013

Os Desclassificados 2013


quarta-feira, 24 de julho de 2013

ALVES, Rubem. A maçã e outros sabores

ALVES, Rubem. A maçã e outros sabores. Campinas, SP: Papirus, 2005. 108 p.

 

[...] a única coisa que Deus faz é brincar [...] Adão foi expulso do paraíso quando deixou de brincar e passou a trabalhar. p. 40

Uti = o que é útil, utilizável, utensílio. Usar uma coisa é utilizá-la para obter uma outra coisa. Frui = fruir, usufruir, desfrutar, amar uma coisa por causa dela mesma. A ordem do uti  é o lugar do poder. Todos os utensílios – ferramentas – são inventados para aumentar o poder do corpo. A ordem do frui, ao contrário, é a ordem do amor – coisas que não são utilizadas, que não são ferramentas, que não servem para nada. Elas não são úteis; são inúteis. Porque não são para serem usadas, mas para ser gozadas.

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[...] A vida não se justifica pela utilidade. Ela se justifica pelo prazer e pela alegria – moradores da ordem da fruição. Por isso que Oswald de Andrade [...] repetiu várias vezes: "A alegria é a prova dos nove".

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As ferramentas não nos dão razões para viver. Elas só servem como chaves para abrir a caixa dos brinquedos. p. 44-45

O inglês e o alemão tem uma felicidade que não temos. Têm uma única palavra para se referir ao brinquedo e à arte. No inglês, play. No alemão, spielen. Arte e brinquedo são a mesma coisa: atividades inúteis que dão prazer e alegria. [...] são [...] brincadeiras que inventamos para que o corpo encontre a felicidade, ainda que em breves momentos de distração, como diria Guimarães Rosa. 

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Esse é o resumo da minha filosofia da educação. Resta perguntar: os saberes que se ensinam em nossas escolas são ferramentas? Tornam os alunos mais competentes para executar as tarefas práticas do cotidiano? E eles, alunos, aprendem a ver os objetos do mundo como se fossem brinquedos? Têm mais alegria? p. 46

[...] O que faz um louco não é a loucura da ideia. É a força da ideia. O louco tem ideias fortes. O não-louco tem ideias fracas. [...] Os não-loucos sabem que as ideias são entidades fraquinhas, meras bolhas de sabão sem poder, não podem fazer nada, brinquedos etéreos com que a cabeça se diverte. [...] Assim sendo, apressam-se em brincar com as ideias loucas, transformando-as em literatura, poesia, pintura... A alegria da cabeça se faz assim: com ideias loucas, fracas. p. 57

[...] A alma é o lugar onde o amor guarda o que não aconteceu, em forma de imaginação, para que aconteça sempre. p. 78

[...] choramos e rimos porque a alma é feita com o que não existe, coisa que só os artistas sabem. "Somos feitos da mesma matéria dos nossos sonhos", afirmava Shakespeare. p. 79

Que eu leve o sol

Senhor
faz de mim
um insrtumento
da tua música.
Onde há silêncio
que eu leve o si.
Onde há dor
que eu leve o dó.
Onde há uma lágrima
que eu leve o lá.
E onde há trevas
que eu leve o sol.

Carlos Rodrigues Brandão apud Rubem Alves

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