Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.
[...]
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouzeram-me frio,
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.
PESSOA, Fernando. Poesia. Álvaro de Campos. Edição Teresa Rita Lopes. São Paulo: Cia. das Letras, 2002. p. 464
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