Um livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive. (Padre Antônio Vieira)

quarta-feira, 12 de junho de 2013

A maconha e a música

Quem nasceu primeiro: a Purple Haze para cantar ou a Purple Haze para fumar? Embora não tenha sido feita para a erva, a música de Jimi Hendrix é um dos maiores odes à maconha, dando nome até a uma de suas variantes -- ou o contrário.

À parte a ordem questionável, a biografia 'Jimi Hendrix: Electric Gypsy' confirma a história da origem da canção. O livro também atesta que o cafuzo deus da guitarra era um costumeiro usuário de entorpecentes.

O quanto o uso de drogas influenciou sua obra, ao contrário, não pode ser medido. No caso da mais célebre delas, a maconha, pouco se sabe a respeito de seus efeitos na criatividade do artista e do ser humano.

"A maconha é uma mistura enorme de substâncias. Umas são conhecias, outras não. A gente não tem uma noção de toda sua abrangência", diz Dartiu Xavier, psiquiatra e professor doutor da Universidade Federal do Estado de São Paulo (UNIFESP).

Para o médico, poucos estudos ratificam a influência da cannabis no processo de criação do cérebro. "A pessoa pode se sentir mais livre, menos ansiosa, mas não há alteração na sua criatividade", diz ele.

João Menezes, doutor em neurobiologia e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vai além quanto ao consumo da planta. "Você sincroniza coisas que normalmente você não sincronizaria. Isso dá um efeito pro artista que é o de criatividade, novas ideias. É a base daquele 'ih, viajou!'".

O especialista aprofunda mais sua análise. "Pra música isso é muito rico, dependendo do treinamento do músico. Pessoas que trabalham nessa área relatam que aumenta a criativade. Eu brinco que dá tempo pra você escutar os pensamentos", argumenta ele.

Mais ou menos criativo, o cérebro humano tem uma resposta padrão à maconha fruto de anos de evolução. Trata-se de um processo iniciado na ingestão dos princípios ativos da planta, especialmente o THC e o CBD.

Os compostos são neurotransmissores. Eles funcionam como pontes que enviam informações entre as células nervosas -- os neurônios. Contato feito, atividade celular alterada, efeitos da maconha alcançados.

A ligação entre substâncias e células só é possível por conta dos receptores endocanabinóides. A maconha seria indiferente ao cérebro humano caso eles não existissem. Tais como adaptadores USB, são eles que fecham o circuito na troca de dados (ou efeitos) entre planta e homem.

Eles não são poucos. Menezes elenca alguns além das conexões incomuns de ideias. "Mudança da passagem do tempo, aumento dos estímulos sensoriais, aumento do foco da atenção e distúrbio na memória de curta duração", diz o pesquisador.

A conta, entretanto, não é exata. "Tem umas espécies da planta que aumentam sua coordenação e sua vontade de fazer as coisas; dão muito mais fome. Tem outras que acalmam, te entorpecem, te põem pra dormir", afirma o especialista.

Não só por conta do tipo, as influências da maconha existem em função de fatores que vão do biotipo de quem a consome à forma de ingestão, passando pela quantidade e duração de absorção, afirma Menezes.

Da mesma maneira resultam os problemas do seu consumo. "A maioria dos efeitos negativos tem a ver com o uso muito precóce, numa fase em que o cérebro esta em desenvolvimento. A maconha é uma droga relativamente segura no adulto", diz o psiquiatra Dartiu Xavier.

O médico concorda com Menezes que os estudos sobre a cannabis ainda são novos dentro da comunidade científica. "Se eu soubesse como a maconha funciona no cérebro com perfeição eu estaria rico e famoso", brinca o professor da UFRJ.

Os fatos conhecidos até então permitem dizer que o consumo de maconha altera os processos criativos. Contudo, se não há garantia de se tornar o estereótipo letárgico propagado pela crença popular, tampouco haverá um novo Jimi Hendrix por causa da erva.


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