Não ter o senso da arte não é grave. Pode-se não ler Proust, não ouvir Schubert e viverem paz. Mas o misomuso não vive em paz. Sente-se humilhado pela existência de uma coisa que o supera e a odeia. Existe uma misomusia popular assim como existe um anti-semitismo popular. Os regimes fascistas e comunistas sabiam se aproveitar disto quando davam caça à arte moderna. Mas existe a misomusia intelectual, sofisticada: ela se vinga sobre a arte sujeitando-a a um fim situado além da estética. A doutrina da arte engajada: a arte como meio de uma política. Professores para quem uma obra de arte não é senão um pretexto para o exercício de um método (psicanalítico, semiológico, sociológico etc.).
Kundera, Milan, 1929. A arte do romance
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