Um livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive. (Padre Antônio Vieira)

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Brasil nunca mais

ARNS, Paulo Evaristo. Brasil: nunca mais. 19. ed. Petrópolis: Vozes, 1986.

[...] a tortura no Brasil passou, com o Regime Militar, à condição de “método científico”, incluído em currículos de formação de militares. O ensino [...] não era meramente teórico. Era prático, com pessoas realmente torturadas, servindo de cobaias neste macabro aprendizado. Sabe-se que um dos primeiros a introduzir tal pragmatismo no Brasil, foi o policial norte-americano Dan Mitrione, posteriormente transferido para Montevidéu, onde acabou sequestrado e morto. Quando instrutor em Belo Horizonte, nos primeiros anos do Regime Militar, ele utilizou mendigos recolhidos nas ruas para adestrar a polícia local. p. 32

O pau de arara consiste numa barra de ferro que é atravessada entre os punhos amarrados e a dobra do joelho, sendo o “conjunto” colocado entre duas mesas, ficando o corpo do torturado pendurado a cerca de 20 ou 30 cm do solo. Este método quase nunca é utilizado isoladamente, seus “complementos” normais são eletrochoques, a palmatória e o afogamento. p. 34

O eletrochoque é dado por um telefone de campanha do Exército que possuía dois fios longos que são ligados ao corpo, normalmente nas partes sexuais, além dos ouvidos, dentes, língua e dedos. p. 35

havia uma máquina chamada “pimentinha” [...] constituída de uma caixa de madeira; que no seu interior tinha um ímã permanente, no campo do qual girava um rotor combinado, de cujos terminais uma escova recolhia corrente elétrica que era conduzida através de fios que iam dar nos terminais [...]. dava uma voltagem em torno de 100 volts e de grande corrente [...] de 10 amperes [...] uma parada repentina com um giro no sentido contrário, criando assim uma força eletromotriz que elevava a voltagem dos terminais em seu dobro [...]. p. 36

(...) O afogamento é um dos “complementos” do pau-de-arara. Um pequeno tubo de borracha é introduzido na boca do torturado e passa a lançar água (...)
(...) e teve introduzido em suas narinas, na boca, uma mangueira de água corrente, a qual era obrigado a respirar cada vez que recebia uma descarga de choques elétricos (...) p. 36

(...) sentou-se numa cadeira conhecida como cadeira do dragão, que é uma cadeira extremamente pesada, cujo assento é de zinco, e que na parte posterior tem uma proeminência para ser introduzido um dos terminais da máquina de choque chamado magneto; que, além disso, a cadeira apresentava uma travessa de madeira que empurrava as suas pernas para trás, de modo que a cada espasmo de descarga as suas pernas batessem na travessa citada, provocando ferimentos profundos (...) p. 36

[...]
(...) Despida brutalmente pelos policiais, fui sentada na “cadeira do dragão”, sobre uma placa metálica, pés e mãos amarrados, fios elétricos ligados ao corpo tocando língua, ouvidos, olhos, pulsos, seios e órgãos genitais. (...) p. 36-37

(...) que por cinco dias foi metida numa “geladeira” na polícia do Exército (...)
(...) que foi colocado nu em um ambiente de temperatura baixíssima e dimensões reduzidas, onde permaneceu a maior parte dos dias que lá esteve, que nesse mesmo local havia um excesso de sons que pareciam sair do teto, muito estridentes, dando a impressão de que os ouvidos iriam arrebentar; (...) p. 37

(...) havia também, em seu cubículo, a lhe fazer companhia, uma jibóia [...].
[...]
(...) que, ao retornar à sala de torturas, foi colocada no chão com um jacaré sobre seu corpo nu; (...)
(...) que apesar de estar grávida na ocasião e disto ter ciênia os seus torturadores (...) ficou vários dias sem qualquer alimentação;
[...]
(...) que foi transferida para o DOI [...] onde foi submetida a torturas com choque, drogas, sevícias sexuais, exposição de cobras e baratas; que essas torturas eram efetuadas pelos próprios Oficiais; (...)
(...) a interrogada quer ainda declarar que durante a primeira fase do interrogatório foram colocadas baratas sobre seu corpo, e introduzida uma no seu ânus. (...) p. 39

[...] jogada uma substância em seu rosto que entende ser ácido que a fez inchar; (...)
[...] injeção de éter, inclusive com borrifos nos olhos. p. 39-40

(...) que em determinada oportunidade foi-lhe introduzido no ânus pelas autoridades policiais um objeto parecido com um limpador de garrafas; que em outra oportunidade essas mesmas autoridades determinaram que o interrogado permanecesse em pé sobre latas, posição em que vez por outra recebia além de murros, queimaduras de cigarros [...]
[...]
(...) amarraram-no numa forquilha com as mãos para trás e começaram a bater em todo corpo e colocaram-no, durante duas horas, em pé com os pés em cima de duas latas de leite condensado e dois tições de fogo debaixo dos pés. (...)
(...) obrigaram o acusado a colocar os testículos espaldados na cadeira [...] com a palmatória procuravam acertar os testículos do interrogado [...] tapas dados nos dois ouvidos ao mesmo tempo sem que a pessoa esteja esperando (...)
[...] tendo sido-lhe arrancada sua perna mecânica, colocado um capuz na cabeça, amarrado seu pênis com uma corda, para impedir a urina; [...] foi mandado amarrar seus testículos, tendo sido arrastado pelo meio da sala e pendurado para cima, amarrado pelos testículos; (...) p. 40-41

(...) A palmatória é uma borracha grossa, sustentada por um cabo de madeira, (...) o enforcamento é efetuado por uma pequena corda que, amarrado ao pescoço da vítima, sufoca-a progressivamente, até o desfalecimento. (...)
(...) que passou dois dias nesta sala de torturas sem comer, sem beber, recebendo sal em seus olhos, boca e em todo o corpo, de modo que aumentasse a condutividade de seu corpo; (...) p. 41

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