Um livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive. (Padre Antônio Vieira)

sexta-feira, 7 de março de 2008

Álvaro de Campos - Poesia

CAMPOS, Álvaro de. Poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 418

São poucos os momentos de prazer na vida...
É gozá-la... Sim, já o ouvi dizer muitas vezes
Eu mesmo já o disse. (Repetir é viver.)
É gozá-la, não é verdade?

Gozemo-la, loura falsa, gozemo-la, casuais e incógnitos,
Tu, com teus gestos de distinção cinematográfica
Com teus olhares para o lado a nada,
Cumprindo a tua função de animal emaranhado;
Eu no plano inclinado da consciência para a indiferença,
Amemo-nos aqui. Tempo é só um dia.
Tenhamos o romantismo dele!
Sou qualquer nas palavras que te digo, e são suaves – e as que esperas.
[...]
Só tenho medo que me vás falar da tua vida...
[...]
Falo médias e imitações
E cada vez, vejo e sinto, gostas mais de mim [...]
Te segredo em segredo o que exatamente convinha.
[...]
Sorrio.
Por trás do sorriso, não sou eu.

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