Quem se diz intelectual é sempre vaidoso,
o amante passa o tempo perdido, entregue e absorto.
O intelectual foge, tem pavor de afogar-se,
enquanto o amor exige sempre
o mergulho indefeso no mar.
O intelectual se exibe e planeja,
controla seus momentos de reclusão;
os amantes sempre se lançam,
um vexame é para eles o repouso.
O amante está sempre só,
ainda que em plena multidão;
como óleo na água,
jamais se mistura.
Perde seu tempo quem se dispõe
a dar conselhos a um amante;
cai no ridículo
em nome da paixão.
O amante tem o perfume de sândalo,
atrai sempre a atenção sobre si.
O amor é uma árvore
e os amantes sua sombra;
mesmo que fora da copa,
sua sombra sempre a segue.
No caminho do intelecto
A criança se torna um velho;
já a via do amor
faz do velho uma criança.
Aquele que resolveu
por teu amor diminuir-se
alcançará tua grandeza,
Shams-i Tabriz!
RUMI
CARVALHO, José Jorge de. Os melhores poemas de amor da sabedoria religiosa de todos os tempos. Seleção, apresentação e tradução de José Jorge de Carvalho. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. 201 p.
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