Pudesse a árvore vagar
e mover-se com pés e asas,
não sofreria os golpes do machado
nem a dor de ser cortada.
Não erasse o sol por toda a noite,
como poderia ser o mundo iluminado
a cada nova manhã?
E se a água do mar não subisse ao céu,
como cresceriam as plantas
regadas pela chuva e pelos rios?
A gota que deixou seu lar, o oceano,
e a ele depois retornou,
encontrou a ostra à sua espera
e nela se fez pérola.
Não deixou José seu pai
em lágrimas, pesar e desespero,
ao partir em viagem para alcançar
o reinado e a fortuna?
Não viajou o Profeta
para a distante Medina
onde encontrou novo reino
e centenas de povos para governar?
Faltam-se pés para viajar?
Viaja dentro de ti mesmo,
e reflete. como a mina de rubis,
os raios de sol para fora de ti.
A viagem te conduzirá a teu ser,
transmutará teu pó em ouro puro.
Ainda que a água salgada
faça nascer mil espécies de frutos,
abandona todo amargor e acridez
e guia-te apenas pela doçura.
É o Sol de Tabriz que opera todos os milagres:
toda árvore ganha beleza
quando tocada pelo sol.
Rumi
CARVALHO, José Jorge de. Os melhores poemas de amor da sabedoria religiosa de todos os tempos. Seleção, apresentação e tradução de José Jorge de Carvalho. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. 201 p.
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