Um livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive. (Padre Antônio Vieira)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Analogia entre o Bar e o Salão de Beleza

Há um universo masculino e outro feminino, já sabemos. Em cada um desses universos existe um lugar privilegiado de encontro e discussão próprios. Trata-se de um sectarismo sexual socialmente e informalmente estabelecido pela necessidade que males e females tem em encontrar seus iguais a fim de tratarem de assuntos que só a cada grupo interessa. Questão de sobrevivência. Se para o homem esse lugar é, em geral, o bar, para a mulher certamente é o salão de beleza. As mulheres não são e nunca foram dadas a bebidas alcoólicas em exagero, ao cheiro forte de um banheiro de bar ou qualquer outra grosseria ambiental. Por isso elas criaram um ambiente social análogo ao bar, porém em acordo com a sensibilidade feminina. Um lugar confortável, limpo, de bons ares, onde a cerveja é substituída pelo chá e o garçom pelo cabeleireiro. Tanto aqui quanto ali se evoca assuntos de todos os níveis. Criticam-se ou exaltam-se os cônjuges. Lamenta-se ou celebra-se a vida. Cá e lá, cabeleireiros e garçons tornam-se confidentes. Donos de salão e donos de bar esbravejam contra os impertinentes e maus pagadores. Se no bar o preço da cerveja movimenta multidões de machos, no salão de beleza ocorre o mesmo quanto ao preço do corte de cabelo, da escova ou do tingimento. Salões de beleza multiplicam-se pela cidade e já contam em número muito próximo ao de bares.

O que pode haver de utilidade prática na digressão acima para nós bares vivendis? Vos direi: se sua mulher vai ao salão de beleza, nesse preciso momento vá você ao bar. Se fores ao bar então diga a ela que vá ao salão, sem pressa de voltar. Assim ambos os sexos estarão sempre satisfeitos um com o outro. Ao fim, quando se encontrarem, teremos a exarcebação, o avultamento das qualidades de cada um do par. De um lado o homem com sua protuberância abdominal depois de horas comendo e bebendo excessivamente. Seu aspecto é a de um bêbado qualquer encerrando em si todos os odores possíveis de existirem em um bar. Desde o cheiro de álcool, passando pela fritura, até chegar ao tabaco. Roupas amarrotadas, cabelos desgrenhados, transpiração excessiva, ele se arrasta alegre ao encontro de sua mulher que acaba de sair do salão. E lá está ela: cabelos alinhados, perfeitamente tingidos, sobrancelhas feitas e maquiagem exuberante, perfumes florais e amadeirados levam-na numa nuvem delicada e sutil.

Aos poucos, porém, tudo volta ao seu normal. O homem, longe do bar, agora está sóbrio, faz a barba e penteia-se. Arruma-se com roupas engomadas e elegantes para ir trabalhar.

Na mulher, por sua vez, vence o tingimento e os cabelos brancos avançam, o toucado deforma, a maquiagem derrete, crescem as sobrancelhas.

Toda essa dualidade nos mostra, em resumo, que o bar é um mau passageiro e o salão de beleza um bem também passageiro, logo, se sua mulher é feia, será um mal eterno. Tudo isso significa que devemos lembrar mais uma vez e sempre: vamos ao bar, enfeiemo-nos para nossas mulheres e que elas se embelezem para nós, nessa roda sem fim. Eterno retorno dos bares.

A Cruz de Souza.

Desterro em fevereiro dos 2010 anos do nascimento de Cristo.
http://acruzdesouza.blogspot.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivos Malucos