Em tempos de individualismo exacerbado, de economia intelectual e da mesquinhez das relações sociais prefere-se as discussões razas, os assuntos orfãos que se abandonam e se adotam ao acaso. É a economia dos neurônios. Um intelectual sentado em uma mesa em que prevalece as pessoas estúpidas será sempre tão estúpido quando um estúpido sentado em uma mesa em que prevalece pessoas intelectuais. Os espíritos de hoje se furtam de maiores esforços e saltos demasiado largos em questões relevantes, afora os pedantes. É a economia do pensar. É contra essa economia que vos digo, e vos digo também que devemos estar sempre prontos à ouvir com interesse o que o outro sentado na mesa do lado tem à nos dizer. Temos em nossos bares gentes diversas de vivências diversas, que seguem sistemas filosóficos próprios os quais valem muito serem apreciados. Desses filósofos empiristas, que em nossos bares muitos frequentam, cada qual nos ilumina para nobres valores e nos repele à outros tantos que não são tão nobres assim. Claro, nem tudo é perfeito e devemos ter dicernimento afinal.
[...] em sociedade deve prestar atenção a tudo, [...] os primeiros lugares são muitas vezes ocupados pelos menos capazes e o bafejo da sorte quase nunca atinge os competentes. [...] não raro, enquanto conversam à cabeceira da mesa acerca da beleza de uma tapeçaria ou do sabor da malvasia, bons ditos se perdem do outro lado. Terá de sondar o valor de cada um: boiadeiro, pedreiro ou viandante. Cada qual em seu domínio pode revelar-nos coisas interessantes e tudo é útil para nosso governo." (MONTAIGNE. Ensaios I. Cap. XXVI. p. 83. 1580)
Eis acima, resumido, o espírito filosófico que deve fazer parte de todos os bares vivendis. Montaigne ele próprio um bares vivendi do séc. XIV (talvez um tabernas vivendi, devido à época).
A Cruz de Souza.
Desterro em fevereiro dos 2010 do nascimento de Cristo.
http://acruzdesouza.blogspot.com/
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