Escrever, meditei, precisa ser um ato destituído de vontade. A palavra, como as correntes oceânicas profundas, precisam subir à superfície por seu próprio impulso. A criança não tem necessidade de escrever, é inocente. O homem escreve para livrar-se do veneno que acumula devido à falsidade do seu modo de vida. Está tentando recapturar sua inocência, mas ainda asssim tudo que consegue fazer (escrevendo) é inocular o mundo com o vírus de sua desilusão. Ninguém escreveria uma palavra sequer se tivesse a coragem de viver aquilo que acredita. Sua inspiração é desviada na fonte. Se é um mundo de verdade, de beleza e de mágica que deseja criar, por que interpõe milhões de palavras enter ele e a realidade desse mundo? Por que retarda ação? - a menos que, a exemplo dos outros homens, o que de fato deseje seja o poder, a fama, o sucesso.
MILLER, Henry. Sexus. Tradução de Sergio Flaksman. São Paulo: Companhia das Letas, 2004. p. 23-24
Nenhum comentário:
Postar um comentário