Quem salvará nossos pombos. Já fazem algumas décadas que os nossos pombos caminham para uma existência de insubmissão e miséria. Tudo começou com o advento dos correios, seguido do telégrafo, do telefone, e por fim a internet. O pombo perdeu sua mais ilustre e útil função: o de levar mensagens. Agora o pombo se entrega a miséria e a mendicância por toda a cidade. Nas praças e nos terminais de ônibus. Muitos com sérios problemas físicos. Desfigurados por conta de acidentes pela cidade. Obesos pelo consumo de alimentos industrializados, os pombos estão a ponto de não voarem mais. Vivem da mendicância e no ócio. Não se animam nem mesmo com uma minhoca. Preferem o sabor barbecue de alguns salgadinhos ou o apelo colorido da pipoca doce.
Lembro os leitores, para que se compadeçam, que estes pombos de Desterro são herdeiros de uma família com história. Seus avós e bisavós-pombos foram testemunhas de um tempo inigualável nesta ilha. O tempo do poeta Cruz e Souza. Os antigos pombos desta ilha certamente assediaram este grande poeta. Viram-no escrever em algum banco da praça, declamar em algum café, ler seu jornal e livros, reclamaram talvez por um alimento. Quem sabe mesmo não cagaram na sua cabeça. Se tão desafortunada foi a sua existência, como nos conta sua biografia, então não é um exagero pensar nesta possibilidade.
Os pombos estão entregues a indiferença humana. Porcalhões, transmissores de doença e impertinentes, são alguns dos adjetivos preconceituosos que se ouve pela cidade. Estas aves já foram assimilados pela cidade. Tornaram-se pequenos trabalhadores desta. Aparentemente inúteis no seu ofício, a presença do pombo é necessária. Ele é uma espécie de pequeno lixeiro a catar tudo o que caiba em seu pequeno bico. Além do que, o pombo é um adereço da paisagem em fotos turísticas e artísticas. De resto, estando morto, sua carne alguns comem. Nada mais de útil.
Como defensor dos pequenos é que suplico: Salvem nossos pombos!
Ass: Alexandre, o pequeno.
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