Um livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive. (Padre Antônio Vieira)

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Álvaro de Campos: Poesia

Faze as malas para Parte Nenhuma!
Embarca para a universalidade negativa de tudo
Como um grande embandeiramento de navios fingidos -
Dos navios pequenos, multicolores, da infância!
Faz as malas para o Grande Abandono!
E não esqueças, entre as escovas e a tesoura,
A distância policroma do que se não pode obter.
Faze as malas definitivamente!
Que és tu aqui, onde existes gregário e inútil -
E quanto mais útil mais inútil -
E quanto mais verdadeiro mais falso -
Que és tu aqui? que és tu aqui? que és tu aqui?
Embarca, sem malas mesmo, para ti mesmo diverso!
Que te é a terra habitada senão o que não é contigo?


Fernando Pessoa, 02/05/1933


Referência


CAMPOS, Álvaro de. Poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 436



Um comentário:

  1. Gostei do texto. Você parece ser um cara muito profundo, é com certeza muito interessante. ;)

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