Um livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive. (Padre Antônio Vieira)

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Eu desconfio de quem fala com a boca cheia

SANTOS, Joaquim Ferreira dos. Papo-Furado. Segundo Caderno. O Globo. Rio de Janeiro, 28 mar. 2005. Segundo Caderno. Disponível em: www.folha.com.br

Eu desconfio de quem fala com a boca cheia. Não de comida, que tem umas crianças lindas assim. Mas de boca cheia de palavras. Aprendi com o poeta que é preciso usar a faca afiada e enxugar a gordura verborrágica que, por nossa ignorância atávica, fomos acostumados a curtir nos deputados baianos, nos advogados paulistas, nos camelôs cariocas e nos pastores das universais do reino disso e daquilo. Uma das glórias nacionais é o sujeito que "fala bonito". Geralmente não passa de um perdulário das palavras. Gosta do volume que elas fazem na orelha do próximo. Dá preferência às mais complicadas do dicionário e gosta de juntá-las, uma atrás da outra, nem aí para o fato de não estarem significando senso algum. Então, o que que acontece?!... A grande platéia brasileirinha, que tem como requinte estético o malabarista de circo equilibrando garrafas, reconhece o pseudo-artista do verbo com a nova sardinha no focinho — e vibra invejosa de tanta falsa cultura.


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