Um livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive. (Padre Antônio Vieira)

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

RADFAHRER, Luli. A arte da guerra para quem mexeu no queijo do pai rico.

RADFAHRER, Luli. A arte da guerra para quem mexeu no queijo do pai rico. São Paulo: Planeta do Brasil, 2004. 158 p.

O poder do pensamento negativo
A negação do ócio é a alma do negócio
Como ter muita sorte – muito rápido
A união faz a forca: nunca desdenhe a mediocridade
Diversões corporativas
Cara-de-pau e preguiça: como trabalhar em equipes
Os 7 hábitos dos puxa-sacos altamente eficazes
O que vale é a beleza exterior
O essencial do chic é ser elegante
O guia do assédio sexual impecável

[...] se você realmente acreditou nessa página, das duas uma: ou é estagiário ou precisa de ajuda médica urgente p. 15

É público e notório que uma grande corporação não é exatamente um lugar de gente muito inteligente. Você sabe muito bem o quanto seu chefe é burro, muito burro. Aquele colega que conseguiu a promoção no seu lugar, então, nem se fala. E aquele estagiário bonitão que dormiu com a chefa? Põe burro nisso! Sem contar os malditos gringos a quem você tem de se reportar, que, para serem burros, precisariam de um Ph. D. Ou nem isso, já que os consultores, com seus cartões de visitas cheios de letrinhas, não são melhores. p. 18

O burro só pode ser você, que estudou, se preparou, acreditou... well, my friend, duas notícias: uma boa e uma má. A boa é que seus colegas não estão tão bem assim, eles fingem. A má é que você realmente tem razão: o burro é você;. Sim, você – que não consegue arranjar outro emprego, que não consegue melhorar esse, que não consegue ser expatriado, não consegue ser demitido para montar um boteco ou uma pousada com o dinheiro da recisão e não consegue que o burro do seu chefe te entenda. p. 18-19

No fundo somos todos um pouco burros: no amor, nas mancadas com os amigos, nas compras por impulso, nos filmes que escolhemos sem ler a crítica, nos filmes que escolhemos porque lemos a crítica, quando nos sentimos espertos e achamos que isso é nossa exclusividade, quando acreditamos em soluções mágicas para emagrecer, combater a calvície, ficar rico, etc, etc, etc. p. 19

Neste instante toma consciência que as outras são ainda piores e que trabalho, se fosse bom, não seria remunerado. Como não pode nem tem paciência para fazer mais nada, você deixa os outros fazerem – e assume as glórias. É o ócio emocional. Com ele, somem as expectativas, angústias, estresse e culpa. As respostas ficam claras e a vida, muito mais simples. Pra que Budismo? p. 23

Benção? Sem dúvida. Já pensou se mudasse? Talvez você corresse o risco de ser um daqueles que gostam do trabalho. Que decoram suas baias, contam piadas sem graça e ficam no escritório muito depois do expediente, em atividades tão produtivas quanto arrumar gavetas, responder e-mails ou jogar games de mata-mata em rede. Que saem de lá e só contam coisas de lá. Até porque sua vida social se resume aos que vê lá – a tal ponto que, em muitas categorias profissionais, casais se formam dentro das empresas. Mais ou menos como animais que se reproduzem em cativeiro: um pouco doidos, mas tão bonitinhos nas suas jaulinhas... p. 24

[...] Se você foi demitido, não adianta nada pensar no que o seu guru de negócios predileto faria nessa situação, pois da mesma forma que top models nunca vão ao banheiro, gurus nunca são demitidos. Aliás, poucos deles chegaram a ser empregados. p. 30

Afinal, a única coisa que se leva do trabalho é o dinheiro. E nem é tanto assim. Por isso, não se incomode. p. 33

Sem necessidade, o jovem experimenta o trabalho por curiosidade, para se destacar em seu círculo social, sair do tédio, fugir da realidade. Ele sabe dos riscos que corre e não pode ignorar que, no início, o trabalho proporciona um prazer enorme – chega-se a situações de euforia e conforto que não seriam possíveis. Existe sempre alguém que pode oferecer trabalho de graça, sabe onde conseguir ou terceiriza, a fim de sustentar o próprio vício. p. 40

CLASSE DE SUBSTÂNCIA

LOCAL ENCONTRADO

EFEITOS

SUPERDOSAGEM: CONSEQUÊNCIAS

Alteradores de humor

Holerites

Derrubam o humor

Agressividade

Tranquilizantes

Conversas com chefes

Bocejos intermitentes

Aumenta o consumo de cafeína

Moderadores de apetite

Salas de reuniões, cantina

Não se permitem que se almoce

Gastrites e úlceras, queda da pressão arterial

Indutores do sono

Salas de reuniões

Sono profundo, narcoléptico

Atrofia cerebral

Estimulantes

Baias de estagiários

Equipes mais animadas

Intoxicação grave

Euforizantes

Salas de chefes

Sensação de poder, excitação e euforia

Paranóia e convulções

Relaxantes

Happy-hours

Indiscrições e confidências

Tentativas de suicídio

Alucinógenos

Salas de chefes

Visões (em casos raros, missões e valores)

Bad Trips, delírios, ansiedade e desorientação

p. 44

Nunca reconheça que você tem sorte quando o que aconteceu foi pura sorte. O máximo que receberá como reconhecimento é ser considerado algum tipo de imbecil sortudo. Entretanto, se negar o acaso, assumir as glórias fortuita se afirmar veementemente que coincidências não existem – apelando para Cabala ou a sincronicidade de Jung quando necessário – é possível que acabe por convencer alguém que o fato de chover no dia da apresentação foi resultado de sua irreconhecida habilidade. Nesses termos você se livra de algo vulgar ou corriqueiro como sorte. Se é para apelar para o esotérico, diga que é predestinado. p. 53

Entenda de uma vez por todas: quem gosta de trabalhar é estagiário, pessoas normalmente muito jovens, sem nada mais produtivo para fazer. Como elas têm uma energia inesgotável, as empresas, em atitude filantrópica, as tiram das ruas, onde gastariam sua força motriz em pensamentos fúteis, como amor, esportes, ética, cidadania, compaixão e educação e as recolhem para um abrigo acarpetado, com ar condicionado e, se derem sorte, um computador com impresora e acesso á internet. Assim ajudam a trocar o insalubre trinômio "sexo, drogas e rock'n roll" por elementos mais saudáveis como "rancor, antidepressivos, new age". p. 59

Mas dizer que as pessoas são simples não quer dizer que sejam simplórias, nem burras. Ou até que precisem de alguém para educá-las. Mesmo que precisassem, certamente não seria você. Muita gente mais culta, rica e inteligente que nós não faz a menor idéia de quem tenha sido Aristóteles nem que o Discurso sobre o método não tem nada a ver com a ABNT, e vive muito bem sem isso. p. 60

O homem simples e social sabe instinticvamente que a união faz a Força. Quando algum fator ameaça a vida em comunidade, seus membros unidos o combaterão e, provavelmente, o vencerão. Em termos corporativos, a união DELES pode fazer a SUA forca [...] a meritocracia é só uma bela embalagem para a mediocracia, a democracia da média. Ela funciona mais ou menos assim: se ninguém pensa, ninguém tem que pensar e as reuniões se tornam lugares agradáveis em que nada acontece. Por isso você precisa reconhecer certas particularidades dos seus colegas, compreender seus desejos e necessidades e aprender de uma vez por todas a conviver com eles, já que a única lei que realmente parece ser cumprida é a da selva. Não se prenda a forma como falam, se vestem ou até mesmo com o cargo que ocupam. A forma mais eficiente de defesa é identificá-los [...] pelas esquisitices que os fazem funcionar. p. 61



REUNIÃO COM O TÍTULO:

NORMALMENTE SE PRETENDE A:

Reunião (sem objetivo definido)

Matar tempo

Apresentação a supervidores / acionistas

Puxar o saco dos gringos

Apresentação de metas realizadas

Fingir que se trabalha

Definição de novas estruturas

Estabelecer relações de poder

Reunião de follow-up

Reafirmar relações de poder

Reunião de contexto estratégico

Mudar relações de poder

Alinhar as lideranças da empresa

Saber aonde levará tamanha incompetência

Expor estratégias corporativas

Mostrar que a Presidência vive em outro planeta

Apresentar projetos

Morrer de tédio

Fazer announcements

Cortar muitas cabeças

Comitê operacional

Cortar (ainda mais) custos

Reunião de feedback

Ter certeza de que se fez bobagem

Definição de metas

Estipular prazos irreais

Prestação de contas

Cortar seu projeto

Reunião com fornecedores

Testar sua capacidade de ser bajulado

Reunião com clientes

Testar sua capacidade de bajular

Reunião com a imprensa

Culpá-lo de qualquer palavra que sair na mídia

Reunião de departamento

Contar as cabeças para cortá-las

Integração

Constranger pessoas

Socialização

Constranger mais pessoas

Recursos humanos

Constranger muito mais pessoas e deixar marcas em sua reputação

Tranquilizar a equipe e definir rumos

Negar até a morte que a casa caiu

Reunião com seu chefe direto

Você está despedido

Reunião com o chefe do seu chefe

Seu chefe será despedido. E não haverá promoção

Acompanhamento de Grupos de Pesquisa

Ouvir desconhecidos falarem dos seus direitos

Introduzir novos membros na equipe

Apresentar gente que você já conhece ou não precisa conhecer

Comemorar metas

Cobrar mais metas de você

Apresentar programas de incentivo

Cobrar muito mais metas de você

Apresentar programas de motivação

Cobrar muito mais metas de você e obrigá-lo a atingi-las sorrindo

Reunião cancelada

Pare de enrolar e trabalhe

p. 80-82


Independente de seu estilo, a cultura popular das firmas não deixa dúvidas: chefe bom é chefe morto e as exceções só confirmam a regra. Histórias de controle, dominação, agressividade, insensibilidade, teimosia, insegurança, rigidez, autoritarismo, manipulação, sarcasmos, arrogância e outros sinais de uma vida sexual insatisfatória justificam uma postura tão radical de seus comandados. Mas o verdadeiramente engraçado é que aqueles que não suportam ter chefes sonham com o dia em que montarão seu próprio negócio, realizarão seu desejo de ser chefe e de construtir sua própria estrutura de criadagem e vassalagem. p. 107


Por mais que se mude o discurso, design e vistas das janelas, firmas são ambientes tão apolíticos quanto o Congresso e tão democráticos quanto o Exército. Quanto maior seu tamanho, mais estáveis serão suas instituições, em especial a mediocracia, a burocracia, o fisiologismo e o nepotismo. Em outras palavras, quase nada mudou desde a Idade das Trevas. Por isso nem pense em reclamar, na melhor das hipóteses você não será ouvido. p. 107


[...] por mais que possa parecer o contrário, a profissão mais velha do mundo é a de acompanhante – não a de consultor. Seu segredo convertido em hábito é a empatia. Pouco importa o dia ou o estresse, para elas o cliente sempre é tão bonito quanto a mãe o vê, tem tanto dinheiro quanto o filho desconfia, conquista tantas mulheres quanto a esposa suspeita e – acima de tudo – é realmente tão bom de cama quanto acredita. Tanto que sempre o saúdam com alguma variante de "olá, campeão". p. 114


[...] Sempre vale lembrar que algumas características são essenciais àquele que pretende ser um cara-de-pau exemplar: segurança, firmeza, sorriso constante, educação e gentileza. Se ameaçado, aparente grande ingenuidade e eterna indignação. p. 115


MASCULINO

SIGNIFICA

FEMININO

SIGNIFICA

Cão

O melhor amigo do homem

Cadela

Puta

Bonequinho

Brinquedo

Bonequinha

Puta

Vagabundo

Aquele que não trabalha

Vagabunda

Puta

Pistoleiro

Quem mata pessoas

Pistoleira

Puta

Boi

Gordo, forte

Vaca

Puta

Dado

Pessoa de bom trato

Dada

Puta

Aventureiro

Desbravador, viajante

Aventureira

Puta

Ambicioso

Visionário, enérgico, idealista

Ambiciosa

Puta

Garoto de rua

Menino pobre, que vive na rua

Garota de rua

Puta

Mascarado

Quem oculta sua identidade (como super-herói)

Mascarada

Puta

Atirado

Aventureiro, sempre disponível

Atirada

Puta

Homem da vida

Pessoa letrada pela sabedoria adquirida ao longo da vida

Mulher da vida

Puta

Homem público

Aquele que se consagra à vida pública

Mulher pública

Puta

Puto

Nervoso, irritado, bravo

Puta

Puta

p. 153


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