Um livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive. (Padre Antônio Vieira)

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Um pouco de Rubem Alves

Era prazer? Era.
Mas era mais que prazer. Era alegria.
A diferença? O prazer só existe no momento.
A alegria é aquilo que existe só pela lembrança.
O prazer é único, não se repete.
Aquele que foi, já foi. Outro será outro.
Mas a alegria se repete sempre.
Basta lembrar.

Faz tempo que
para pensar sobre Deus
não leio os teólogos,
leio os poetas.

Há pessoas que nos fazem voar. A gente se encontra com elas e leva um bruta susto (…) elas nos surpreendem e nos descobrimos mais selvagens, mais bonitos, mais leves, com uma vontade incrível de subir até as alturas, saltando de penhascos. Outras, ao contrário, nos fazem pesados e graves. Pés fincados no chão, sem leveza, incapazes de passos de dança. Quanto mais a gente convive com elas mais pesados ficamos.

Nós não vemos o que vemos, nós vemos o que somos. Só vêem as belezas do mundo, aqueles que têm belezas dentro de si.

O que as pessoas mais desejam é ALGUÉM que as escute de maneira CALMA E TRANQUILA. Em SILÊNCIO. Sem dar conselhos. Sem que digam: "Se eu fosse você". A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que ESCUTA bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma LONGA e silenciosa escuta. É na escuta que o AMOR começa. E é na não-escuta que ele termina. Não aprendi isso nos livros. Aprendi PRESTANDO ATENÇÃO.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

domingo, 2 de dezembro de 2012

Agenda!

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O mundo é o nosso lar

O mundo é o nosso lar, mas ainda temos de ocupá-lo; a mulher que amamos está a nossa espera, mas não sabemos como encontrá-la, estamos trilhando o caminho que procuramos, mas não o reconhecemos. […] os poderes que podem ser utilizados por todos nós são ilimitados. p. 105
 
Aqueles que têm medo estão condenados; aqueles que duvidam estão perdidos […] temos ao nosso alcance tudo o que desejamos, tudo o que precisamos, como peixes do mar. p. 106
 
 
MILLER, Henry. O mundo do sexo. 3. ed. Rio de Janeiro: Pallas, 1975. 111 p.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Crepúsculo dos ídolos, ou, como se filosofa com o martelo

NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Crepúsculo dos ídolos, ou, como se filosofa com o martelo. Porto Alegre: L&PM, 2010. 144 p. (Coleção L&PM Pocket, v. 799). ISBN 978-85-254-1916-3

 

 

Há muitas coisas quem de uma vez por todas, não quero saber. - A sabedoria traça limites também para o conhecimento. p. 18

 

Ajuda a ti mesmo: então todos te ajudarão. Princípio do amor ao próximo. p. 19

 

Que não sejamos covardes em relação aos nossos atos! Que não os abandonemos uma vez consumados! – O remorso é indecente. p. 19

                                                             

Eis um artista tal como aprecio os artistas, modesto em suas necessidades: no fundo, só quer duas coisas, seu pão e sua arte. p. 20

 

Em busca dos primórdios, nos tornamos caranguejos. O historiador olha para trás; por fim, também acredita para trás. p. 22

 

O contentamento protege até de resfriados. Algum dia uma mulher que se soubesse bem vestida já se resfriou? – Suponho que ela mal estivesse vestida. p. 22

 

É de sair correndo quando a mulher possui virtudes masculinas; e quando não possui nenhuma virtude masculina, ela própria sai correndo. P. 22

 

O verme se encolhe quando pisado. Uma atitude prudente. Diminui assim a possibilidade de ser pisado outra vez. Na linguagem da moral: humildade. P. 23

 

Há um ódio à mentira e à dissimulação cuja origem está numa noção sensível de honra; há um ódio idêntico que provém da covardia, na medida em que a mentira é proibida por um mandamento divino. Covarde demais para mentir... p. 23

 

Quão pouco é preciso para ser feliz! O som de uma gaita de foles. – Sem música a vida seria um erro. P. 23

 

[...] Apenas os pensamentos caminhados têm valor. P. 23

 

Se nós, imoralistas, prejudicamos a virtude? – Tão pouco quanto os anarquistas prejudicam os príncipes. Apenas depois de serem alvejados é que eles sentam outra vez fortemente em seus tronos. Moral: deve-se alvejar a moral. P. 24

 

Corres à frente? – Fazes isso na condição de pastor? Ou de exceção? Uma terceira possibilidade seria o desertor... Primeiro caso de consciência. P. 24

 

És autêntico? Ou apenas um ator? És um representante? Ou a própria coisa representada? – No fim das contas, talvez sejas meramente a imitação de um ator... Segundo caso de consciência. P. 24

 

És alguém que observa? Ou que coloca mãos à obra? – Ou o que desvia o olhar e se afasta?... Terceiro caso de consciência. P. 24

 

Queres ir junto? Ou à frente? Ou andar sozinho?... Devemos saber o que queremos e que o queremos. Quarto caso de consciência. P. 25

 

Que importa que eu acabe por ter razão! Eu tenho razão demais. – E quem hoje ri melhor, também ri por último. P. 25

 

Fórmula de minha felicidade: um sim, um não, uma linha reta, um alvo. P. 25

 

[...] Não há sentido algum em fabular acerca de um outro mundo além deste se não houver um instinto de calúnia, de amesquinhamento, de suspeita em relação á vida nos dominando: nesse caso, nos vingamos dela com a fantasmagoria de uma outra vida, de uma vida melhor. P. 39

O fato de o artista dar mais valor á aparência do que à realidade não constitui objeção a essa tese. Pois, nesse caso, a aparência significa a realidade mais uma vez, só que selecionada, reforçada, corrigida... o artista trágico não é pessimista – ele justamente diz sim a tudo aquilo que é questionável e mesmo terrível; ele é dionisíaco. P. 39

A espiritualização da sensualidade se chama amor: ela é um grande triunfo do cristianismo. Um outro triunfo é a nossa espiritualização há hostilidade. P. 44

[...] tem mais necessidade de inimigos do que de amigos: é apenas no antagonismo que ele se torna necessário [...] só se é fértil ao preço de ser rico em oposições; só se permanece jovem se a alma não se espreguiça, não anseia pela paz [...]  nada nos causa menos inveja do que a vaca moral e a felicidade gorda da consciência tranquila. P. 45-46

A moral antinatural, ou seja, quase toda moral que até agora foi ensinada, venerada e pregada, volta-se, ao contrário, justamente contra os instintos da vida – ela é uma condenação desses instintos, ora secreta, ora sonora e  atrevida [...] o santo em quem Deus se compraz é o castrado ideal. A vida acaba onde o reino de Deus começa. P. 46

Tudo aquilo que é bom é instinto – e consequentemente leve, necessário, livre. A labuta é uma objeção [...] os pés leves são o primeiro atributo da divindade. P. 51

[...] o erro do espírito como causa confundido com a realidade! E transformado em medida da realidade! E chamado Deus! P. 53

O conceito de Deus foi até agora a maior objeção à existência... Negamos a Deus, negamos a responsabilidade em Deus: apenas assim libertamos o mundo. P. 59

A moral é apenas discurso por sinais, apenas sintomatologia: é preciso já saber do que se trata para tirar proveito dela. P. 60

Chamar a domesticação de um animal como melhoramento soa aos nossos ouvidos quase que como uma piada. Quem sabe o que acontece nas exposições de feras duvida que nelas a besta seja melhorada. Ela é enfraquecida, tornada menos daninha, transformada numa besta doentia através do afeto depressivo do medo, através da dor, dos ferimentos, da fome. – Não é diferente com o homem domesticado que o sacerdote melhorou. P. 61

[...] a de uma caricatura de homem, de um aborto: ele se transformou em um pecador, estava metido na jaula, fora trancado entre conceitos que eram todos terríveis... E ali estava agora, doente, miserável, malévolo contra si próprio; cheio de ódio contra os impulsos da vida, cheio de suspeita quanto a tudo que ainda era forte e feliz. [...] torna-la doente pode ser o único meio de enfraquecê-la. Isso a igreja entendeu: ela corrompeu o homem, ela o enfraqueceu. P. 61

[...] para fazer moral é preciso ter a vontade incondicional pelo contrário [...] nem Manu nem Platão, nem Confúcio nem os mestres judaicos duvidaram de seu direito à mentira. [...] até o presente, todos os meios pelos quais a humanidade deveria se tornar moral foram radicalmente imorais. P. 64-65

[...] a jovialidade é o que há de mais incompreensível em nós. P 69

Todas as grandes épocas da cultura são épocas de decadência política: o que é grande no sentido da cultura foi apolítico, mesmo antipolítico. P. 69

São necessários educadores que sejam eles próprios educados, espíritos superiores, nobres, provados a todo instante, provados pela palavra e pelo silêncio, culturas amadurecias, doces. P. 70

[...] não gostam de profissões, precisamente porque sabem que têm vocações... Eles tem tempo, tomam tempo para si, de modo algum pensam em ficar prontos [...] se é um iniciante, uma criança. P. 72

Deve-se aprender a ver, a pensar, a falar e a escrever [...] habituar o olho a calma, à paciência, a deixar que as coisas se aproximem; adiar o juízo, [...] não reagir imediatamente a um estímulo, mas lançar mão dos instintos que inibem e isolam [...] não querer [...] suspender a decisão. Toda falta de espiritualidade, toda vulgaridade, repousa sobre a incapacidade de resistir a um estímulo. P. 72

Para que exista arte [...] é imprescindível uma condição fisiológica: a embriaguez. [...] Todos os tipos de embriaguez, por mais distintamente condicionados que sejam, têm força para tanto: sobretudo a embriaguez da excitação sexual, a mais antiga e mais originária forma de embriaguez. Da mesma maneira, a embriaguez que segue todos os grandes apetites, todos os afetos intensos; a embriaguez da festa, da competição, da façanha, da vitória, todo movimento extremo; a embriaguez da crueldade; a embriaguez na destruição; a embriaguez influenciada por certas condições meteorológicas [...] ou influenciada por narcóticos; por fim, a embriaguez da vontade, [...] de uma vontade acumulada e intumescida. O essencial na embriaguez é o sentimento de plenitude e de intensificação da força. [...] O decisivo [...] é um colossal transbordar dos traços principais, de modo que os demais desapareçam. P. 82-83

Nesse estado enriquecemos todas as coisas com a nossa própria plenitude: o que se vê, o que se quer, é visto intumescido, apinhado, enérgico, sobrecarregado de força. O homem que se encontra nesse estado transforma as coisas até que reflitam o seu poder – até que sejam reflexos de sua perfeição. Esse ter de transformar em perfeição é – arte. [...] na arte, o homem goza a si próprio como perfeição. P.83

É preciso ser carente de espírito para adquiri-lo – ele se perde quando não se necessita mais dele. P. 88

Os homens mais espirituais, supondo que sejam os mais corajosos, também vivem, de longe, as tragédias mais dolorosas: mas justamente por isso eles honram a vida, por lhes oferecer a sua maior oposição. P. 90

Hoje, sem dúvida, é possível um número de convicções muito maior do que outrora: possível, ou seja, permitido, ou seja, inofensivo. Daí provém a tolerância em relação a si próprio – Essa tolerância permite várias convicções: elas vivem juntas pacificamente – elas evitam, como todo mundo hoje, se comprometer. Quando alguém se compromete hoje? Quando é consequente. Quando anda em linha reta. Quando suas palavras têm menos de cinco sentidos. Quando é genuíno... É grande meu medo de que o homem moderno simplesmente seja acomodado demais para alguns vícios: de modo que estes praticamente se extingam. Todas as coisas más que dependem da vontade forte – e talvez não haja coisas más sem a força da vontade – degeneram, na nossa atmosfera morna, em virtude... Os poucos hipócritas que conheci imitavam a hipocrisia: eram, como hoje em dia quase toda pessoa em cada dez, atores. P. 90-91

Nada repugna mais ao gosto de um filósofo do que o homem quando deseja [...] o filósofo despreza o homem desejante, também o desejável – e sobretudo todas as desejabilidades, todos os ideais do homem. Se um filósofo pudesse ser niilista, ele o seria porque encontra o nada atrás de todos os ideais do homem. Ou nem sequer o nada – mas apenas aquilo que não vale nada, aquilo que é absurdo, doentio, covarde, cansado, toda espécie de borra da taça esvaziada de sua vida... Como pode ser que o homem, tão venerável enquanto realidade, não mereça qualquer respeito tão logo deseje? Precisa expiar o fato de ser tão capaz como realidade? Precisa compensar seu agir, a tensão da inteligência e da vontade em todo agir, espreguiçando seus membros no âmbito do imaginário e do absurdo? – Até agora, a história de suas desejabilidades foi a partie honteuse do homem [...] o que justifica o homem é a sua realidade – ela o justificará eternamente. Quanto não será maior o valor do homem real se comparado com um homem meramente desejado, sonhado, um logro do princípio ao fim? Com algum homem ideal? E apenas o homem ideal repugna ao gosto do filósofo. P. 100-101

O homem liberto, e tanto mais o espírito liberto, pisoteia a espécie desprezível de bem-estar com que sonham merceeiros, cristãos, vacas, mulheres, ingleses e outros democratas. O homem livre é guerreiro. P. 110

A beleza não é um acaso. – Também a beleza de uma raça ou de uma família, sua graça e amabilidade em todos os gestos, é alcançada por meio de trabalho: [...] resultado final do trabalho acumulado de gerações. É preciso ter feito grandes sacrifícios ao bom gosto, é preciso ter feito e deixado de fazer muitas coisas por sua causa. P. 121-122

Tudo o que é bom é herança: o que não é herdado é imperfeito, é começo... p. 122

É a coragem para a realidade, afinal, o que distingue entre naturezas como a de Tucídides e Platão: Platão é um covarde frente á realidade – logo, ele se refugia no ideal; Tucídides é senhor de si; logo, também, é senhor das coisas... p. 131

[...] o próprio caminho que leva à vida, a geração, é considerado caminho sagrado... Só o cristianismo, com seu ressentimento contra a vida por fundamento, fez da sexualidade algo impuro: ele jogou lama no começo, no pressuposto, de nossa vida... p. 135

O homem quando deseja

Nada repugna mais ao gosto de um filósofo do que o homem quando deseja [...] o filósofo despreza o homem desejante, também o desejável – e sobretudo todas as desejabilidades, todos os ideais do homem. Se um filósofo pudesse ser niilista, ele o seria porque encontra o nada atrás de todos os ideais do homem. Ou nem sequer o nada – mas apenas aquilo que não vale nada, aquilo que é absurdo, doentio, covarde, cansado, toda espécie de borra da taça esvaziada de sua vida... Como pode ser que o homem, tão venerável enquanto realidade, não mereça qualquer respeito tão logo deseje? Precisa expiar o fato de ser tão capaz como realidade? Precisa compensar seu agir, a tensão da inteligência e da vontade em todo agir, espreguiçando seus membros no âmbito do imaginário e do absurdo? – Até agora, a história de suas desejabilidades foi a partie honteuse do homem [...] o que justifica o homem é a sua realidade – ela o justificará eternamente. Quanto não será maior o valor do homem real se comparado com um homem meramente desejado, sonhado, um logro do princípio ao fim? Com algum homem ideal? E apenas o homem ideal repugna ao gosto do filósofo. P. 100-101 

NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Crepúsculo dos ídolos, ou, como se filosofa com o martelo. Porto Alegre: L&PM, 2010. 144 p. (Coleção L&PM Pocket, v. 799). ISBN 978-85-254-1916-3

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Presos que lerem e entenderem obra de Dostoiévski terão pena reduzida

A Vara Criminal de Joaçaba, sob comando do juiz Márcio Umberto Bragaglia, deu a largada na sexta-feira (23) ao projeto Reeducação do Imaginário, que consiste na distribuição de obras clássicas aos apenados da comarca, para leitura e posterior cobrança de pontos em entrevistas com o magistrado e seus assessores. Os participantes que demonstrarem compreensão do conteúdo, respeitada a capacidade intelectual de cada apenado, poderão ser beneficiados com a remição de quatro dias de suas respectivas penas.

O primeiro módulo do projeto consiste na leitura da obra "Crime e Castigo", de Fiódor Dostoiévski. No segundo módulo, para o qual já existe etapa de aquisição de livros, os apenados lerão "O Coração das Trevas", de Joseph Konrad. Depois virão obras de William Shakespeare, Charles Dickens, Walter Scott, Camilo Castelo Branco e outros autores, todos recomendados por intelectuais do calibre de Otto Maria Carpeaux, Olavo de Carvalho, Harold Bloom e Mortimer J. Adler. Os livros serão adquiridos em edições de bolso, diretamente com verbas de transação penal destinadas ao Conselho da Comunidade, que juntamente com o Presídio Regional de Joaçaba participa do projeto encabeçado pela Vara Criminal.

"O projeto (...) visa a reeducação do imaginário dos apenados pela leitura de obras que apresentam experiências humanas sobre a responsabilidade pessoal, a percepção da imortalidade da alma, a superação das situações difíceis pela busca de um sentido na vida, os valores morais e religiosos tradicionais e a redenção pelo arrependimento sincero e pela melhora progressiva da personalidade, o que a educação pela leitura dos clássicos fomenta", interpreta o juiz Bragaglia, declaradamente inspirado nas lições de educação do filósofo Olavo de Carvalho, a quem considera o maior pensador brasileiro vivo e em atividade.

Nesta manhã, reunidos no Salão do Júri, os apenados participantes do projeto – todos voluntários - ouviram palestra do juiz Bragaglia. "Não vou subestimar a capacidade de vocês, não vou sugerir que leiam best-sellers, autoajuda, subliteratura ou outras inutilidades. Ao contrário! Todo ser humano, por mais difícil que seja sua situação ou por mais precária que tenha sido sua educação, tem condições de ler grandes obras com proveito, e é isto que torna essas obras eternas: o quanto elas falam da experiência concreta, da alma humana", comentou o magistrado. Ao final, cada participante recebeu uma edição de "Crime e Castigo", acompanhada de um dicionário de bolso. As avaliações ocorrerão em 30 dias. O projeto conta com o apoio e a participação do Ministério Público de Santa Catarina, por meio do promotor de justiça criminal de Joaçaba, Protásio Campos Neto.

Fonte: Tribunal de Justiça de Santa Catarina

O castrado ideal

A moral antinatural, ou seja, quase toda moral que até agora foi ensinada, venerada e pregada, volta-se, ao contrário, justamente contra os instintos da vida – ela é uma condenação desses instintos, ora secreta, ora sonora e  atrevida [...] o santo em quem Deus se compraz é o castrado ideal. A vida acaba onde o reino de Deus começa. P. 46
 
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Crepúsculo dos ídolos, ou, como se filosofa com o martelo. Porto Alegre: L&PM, 2010. 144 p. (Coleção L&PM Pocket, v. 799). ISBN 978-85-254-1916-3

Domesticação

Chamar a domesticação de um animal como melhoramento soa aos nossos ouvidos quase que como uma piada. Quem sabe o que acontece nas exposições de feras duvida que nelas a besta seja melhorada. Ela é enfraquecida, tornada menos daninha, transformada numa besta doentia através do afeto depressivo do medo, através da dor, dos ferimentos, da fome. – Não é diferente com o homem domesticado que o sacerdote melhorou. P. 61

[...] a de uma caricatura de homem, de um aborto: ele se transformou em um pecador, estava metido na jaula, fora trancado entre conceitos que eram todos terríveis... E ali estava agora, doente, miserável, malévolo contra si próprio; cheio de ódio contra os impulsos da vida, cheio de suspeita quanto a tudo que ainda era forte e feliz. [...] torna-la doente pode ser o único meio de enfraquecê-la. Isso a igreja entendeu: ela corrompeu o homem, ela o enfraqueceu. P. 61

 
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Crepúsculo dos ídolos, ou, como se filosofa com o martelo. Porto Alegre: L&PM, 2010. 144 p. (Coleção L&PM Pocket, v. 799). ISBN 978-85-254-1916-3

Corres à frente?

NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Crepúsculo dos ídolos, ou, como se filosofa com o martelo. Porto Alegre: L&PM, 2010. 144 p. (Coleção L&PM Pocket, v. 799). ISBN 978-85-254-1916-3
 

Corres à frente? – Fazes isso na condição de pastor? Ou de exceção? Uma terceira possibilidade seria o desertor... Primeiro caso de consciência. P. 24

 

És autêntico? Ou apenas um ator? És um representante? Ou a própria coisa representada? – No fim das contas, talvez sejas meramente a imitação de um ator... Segundo caso de consciência. P. 24

 

És alguém que observa? Ou que coloca mãos à obra? – Ou o que desvia o olhar e se afasta?... Terceiro caso de consciência. P. 24

 

Queres ir junto? Ou à frente? Ou andar sozinho?... Devemos saber o que queremos e que o queremos. Quarto caso de consciência. P. 25

domingo, 18 de novembro de 2012

Procura-se

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Meu livro de poesia: palavras com cheiro

Palavras com cheiro. Florianópolis: Edição dos Autores, 2012. 91 p. 15 x 20cm. R$ 25,00
 

ESCREVER PARA MORRER
(f. foresti)

Escrevo estes versos frouxos
Para esquecer os gestos mesquinhos,
Toda a estupidez e falta de carinho
Que meu coração lhe deu.

Escrevo para esquecer quem sou
E para esquecer outro alguém.
Para lembrar das boas ações
Que eu fiz para ninguém.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Os poemas

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Mário Quintana

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Nem arte, nem loucura

Nem arte, nem loucura
 
"O verbo surtar ganhou status e glamour. Hoje em dia todos surtam. É a moda"
 
 
Entre as balelas inventadas pela modernidade, uma foi estabelecer nexo entre arte e loucura, como se o artista fosse necessariamente um alucinado. Diz-se comumente que "de artista e de louco todo mundo tem um pouco". O verbo surtar, do jargão psiquiátrico – que significa a perda de controle sobre si mesmo, a entrada num estado paranoide ou delirante com todas as dores próprias da alucinação –, ganhou status e glamour. Hoje em dia todos surtam. É a moda. Até o Houaiss já registrou o significado mais ou menos brando do verbo surtar, colocando-o no campo das neuroses, dos problemas psicológicos. Ninguém se assuste ao ouvir esse neologismo nas filas de banco, no supermercado e na novela das seis horas.
A sociedade apropriou-se da loucura como um bem descartável, banindo o que havia de sagrado e maldito nesse estado alterado de consciência. Empanturrou-se de drogas, de medicamentos, de álcool e fumo. E também de psicanálise. Na derrapada, confundiu o estado de transe criador com o delírio esquizofrênico, o jejum da ascese com a anorexia nervosa, a náusea existencialista com a bulimia das modelos de passarelas. A fantasia de que os artistas são seres fragmentados é própria de uma sociedade com rupturas.

Os poetas buscaram o absoluto, um fluxo permanente de criação a custo de trabalho e sofrimento. Nietzsche não escreveu delirando, Schumann não compunha em surto psicótico, nem Van Gogh pintava quando estava alterado. Os Upanishads, textos sagrados do povo indiano, definem o vazio que antecede o ato criador como um instante de comunhão com o ser: "O mais alto estado se alcança quando os cinco instrumentos do conhecer permanecem quietos e juntos na mente, e esta não se move." Êxtase, iluminação, revelação ou inspiração, qualquer nome que se queira dar a esse estado, não corresponde à loucura. Ao contrário, é puro saber. O poeta inglês Wordsworth escreveu que "a poesia é emoção relembrada em tranquilidade." O mesmo pensou Freud quando afirmou que no ato criador há um fluxo de ideias e imagens que jorram do inconsciente, mas são polidas pelo consciente.
Na era moderna, o artista desprezou a natureza coletiva da criação, assumindo um exacerbado individualismo. Atribuiu a si próprio a única responsabilidade por sua arte e nomeou-se "criador", epíteto antes usado apenas para designar os deuses. A autoria virou a marca do nosso tempo.
Os pintores zen-budistas não assinavam suas aquarelas porque acreditavam que elas só adquiriam existência ao serem contempladas. Qualquer pessoa que a olhasse se tornava o autor, pois a reinventava a partir daquele instante de contemplação, conceito filosófico vago para a nossa mente ocidental monoteísta, que atribui a criação do mundo a um Ser único. A modernidade buscou assinaturas onde elas não existiam, em trabalhos reconhecidamente coletivos, de mestres e discípulos. Os afrescos italianos pintados por confrarias de artesãos tornaram-se obras exclusivas de Giotto, Duccio, ou Pisanello. Apagaram-se os nomes dos pintores especialistas em mãos, pés, olhos, douramentos, pregas de mantos, molduras, que trabalharam em paredes de igrejas e palácios, acreditando que bem melhor do que sonhar uma obra de arte é realizá-la. Buscou-se a assinatura do criador único, por mais oculta que ela se encontrasse, sob camadas de tinta.

Entre as nações tribais, bastava que um membro se desgarrasse dos costumes para ser punido com a expulsão ou a morte. A mitologia está repleta de heróis que padeceram na luta pela individuação. Quando uma sociedade se confronta com um artista, ela tanto pode aliená-lo de sua coletividade, como elegê-lo seu representante. Ao mesmo tempo em que ela cobra dele que rompa com as regras, transgredindo, extrapolando, derrubando muros, pune-o por essas transgressões. Surge a figura moderna do artista neurótico, perplexo e fragilizado, que não distingue o eterno do descartável, porque também não lhe interessa essa distinção. Tudo é consumido numa velocidade alucinante. O novo envelhece em poucas horas, criam-se novos simulacros, as prateleiras são repostas. O artista se transforma em fabricante de escândalos, em alucinado. Confunde-se arte e produto, poesia e escracho, êxtase e exposição da imagem. E o atributo de loucura serve apenas à ambígua função de justificar o artista ou execrá-lo.

 
Ronaldo Correia de Brito é escritor, dramaturgo e médico. Autor de Galileia, Faca e Livro dos Homens

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O "quinto dos infernos"

O "QUINTO DOS INFERNOS":

Durante o Século 18, o Brasil-Colônia pagava um alto tributo para seu colonizador, Portugal.a

Esse tributo incidia sobre tudo o que fosse produzido em nosso País e correspondia a 20% (ou seja, 1/5) da produção. Essa taxação altíssima e absurda era chamada de "O Quinto".

Esse imposto recaía principalmente sobre a nossa produção de ouro.

O "Quinto" era tão odiado pelos brasileiros, que, quando se referiam a ele, diziam

"O Quinto dos Infernos".

E isso virou sinônimo de tudo que é ruim.


A Coroa Portuguesa quis, em determinado momento, cobrar os "quintos atrasados" de uma única vez, no episódio conhecido como "Derrama".

Isso revoltou a população, gerando o incidente chamado de "Inconfidência Mineira", que teve seu ponto culminante na prisão e julgamento de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário IBPT, a carga tributária brasileira deverá chegar ao final do ano de 2011 a 38% ou praticamente 2/5 (dois quintos) de nossa produção.

Ou seja, a carga tributária que nos aflige é praticamente o dobro daquela exigida por Portugal à época da Inconfidência Mineira, o que significa que pagamos hoje literalmente "dois quintos dos infernos" de impostos...

Para quê?

Para sustentar a corrupção? Os mensaleiros? O Senado com sua legião de "Diretores"? A festa das passagens, o bacanal (literalmente) com o dinheiro público, as comissões e jetons, a farra familiar nos 3 Poderes (Executivo/Legislativo e Judiciário)?!?


Nosso dinheiro é confiscado no dobro do valor do "quinto dos infernos" para sustentar essa corja, que nos custa (já feitas as atualizações) o dobro do que custava toda a Corte Portuguesa!

E pensar que Tiradentes foi enforcado porque se insurgiu contra a metade dos impostos que pagamos atualmente...! E estamos todos sem fazer nada...


Não deixem de repassar... desta maneira contribuindo para relembrarem parte da História do Brasil...

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Alma cria

E de repente me pego chorando baixinho, emocionado,
Com uma música, um livro, uma poesia,
Uma pessoa ao meu lado.
 
E de repente tenho vaga idéia da minha insignificância,
Da minha importância, vida, ingnorância,
Uma idéia dança.
 
Emociona poder ter idéias, músicas, livros, poesia.
Comunicação direta com consciências e mortos,
Alma: cria, cria, cria.
 
f. foresti

Gatas Extraordinárias - Cássia Eller

O amor me pegou
E eu não descanso enquanto não pegar
Aquela criatura
Saiu na noite à procura
O batidão do meu coração na pista escura
Se pego, ui...
Me entrego e fui

Será que ela quererá
Será que ela quer
Será que meu sonho influi
Será que meu plano é bom
Será que é no tom
Será que ele se conclui

E as gatas extraordinárias que
Andam nos meios onde ela flui
Será que ela evolui
Será que ela evolui
E se ela evoluir, será que isso me inclui

Tenho que pegar, tenho que pegar
Tenho que pegar essa criatura
Tenho que pegar, tenho que pegar
Tenho que pegar

http://letras.mus.br/cassia-eller/12569/

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Rainer Maria Rilke

Minha vida não é essa hora abrupta
Em que me vês precipitado.
Sou uma árvore ante meu cenário;
Não sou senão uma de minhas bocas:
Essa, dentre tantas, que será a primeira a fechar-se.

Sou o intervalo entre as duas notas
Que a muito custo se afinam,
Porque a da morte quer ser mais alta…

Mas ambas, vibrando na obscura pausa,
Reconciliaram-se.
E é lindo o cântico.

[...]

As folhas caem como se do alto
caíssem, murchas, dos jardins do céu;
caem com gestos de quem renuncia.

E a terra, só, na noite de cobalto,
cai de entre os astros na amplidão vazia.

Caimos todos nós. Cai esta mão.
Olha em redor: cair é a lei geral.

E a terna mão de Alguém colhe, afinal,
todas as coisas que caindo vão. 
                     

domingo, 23 de setembro de 2012

THOREAU, Henry. A desobediência civil

THOREAU, Henry. A desobediência civil. Tradução de Sérgio Karam. Porto Alegre:L & PM, 2011.


Na melhor das hipóteses, o governo não é mais do que uma conveniência, embora a maior parte deles seja, normalmente, inconveniente – e, por vezes, todos os governos o são. (p. 7)


As objeções levantadas contra a existência de um exército permanente– e elas são muitas e fortes e merecem prevalecer – podem afinal ser levantadas contra a existência de um governo permanente. (p. 8)


O governo em si, que é apenas a maneira escolhida pelo povo para executar sua vontade, está igualmente sujeito ao abuso e à perversão antes que o povo possa agir por meio dele. (p. 8)


[…]o governo é uma conveniência pela qual os homens conseguem, de bom grado, deixar-se em paz uns aos outros, e, como já disse, quanto mais conveniente ele for, tanto mais deixará em paz seus governados. (p. 9)


Deixemos que cada homem faça saber que tipo de governo mereceria seu respeito e este já seria um passo na direção de obtê-lo. (p. 10)


Afinal, a razão prática por que se permite que uma maioria governe, e continue a fazê-lo por um longo tempo, quando o poder finalmente se coloca nas mãos do povo, não é a de que esta maioria esteja provavelmente mais certa, nem a de que isto pareça mais justo para a maioria, mas sim a de que a maioria é fisicamente mais forte. Mas um governo no qual a maioria decida em todos os casos não pode se basear na justiça, nem mesmo na justiça tal qual os homens a entendem. Não poderá existir um governo em que a consciência e não a maioria, decida virtualmente o que é certo e o que é errado? Um governo em que as maiorias decidam apenas aquelas questões as quais se apliquem as regras de conveniência? (p. 10)


Deve o cidadão, sequer por um momento, ou minimamente, renunciar à sua consciência em favor do legislador? Então por que todo homem tem uma consciência? Penso que devemos ser homens, em primeiro lugar, e depois súditos. (p. 11)


Não é desejável cultivar pela lei o mesmo respeito que cultivamos pelo direito. A única obrigação que tenho o direito de assumir é a de fazer a qualquer tempo aquilo que considero direito. (p. 11)


É com razão que se diz que uma corporação não tem consciência, mas uma corporação de homens conscientes é uma corporação com consciência. (p. 11)


A lei jamais tornou os homens mais justos, e, por meio de seu respeito por ela, mesmo os mais bem-intencionados transformando-se diariamente em agentes da injustiça. (p. 11)


Uns poucos – como os heróis, os patriotas, os mártires, os reformadores no melhor sentido e os homens – servem ao Estado também com sua consciência, e assim necessariamente resistem a ele, em sua maioria, e são comumente tratados como inimigos. (p. 13)


Todos os homens reconhecem o direito de revolução, isto é, o direito de recusar lealdade ao governo, e opor-lhe resistência, quando sua tirania ou sua ineficiência tornam-se insuportáveis. (p. 14)


[…]um povo, tanto quanto um indivíduo, deve fazer justiça, custe o que custar. (p. 16)


Não é tão importante que a maioria seja tão boa quanto vós, mas sim que exista a bondade absoluta em alguma parte, pois isto fará fermentar toda a massa. (p. 18)


Um homem sábio não deixará o direito à mercê do acaso, nem desejará que ele prevaleça por meio do poder da maioria. Não há senão uma escassa virtude na ação e multidões de homens. (p. 19)


Se me dedico a outras ocupações e projetos, devo ao menos verificar, inicialmente, se não o faço sentado sobre os ombros de outro homem. Devo sair de cima dele, antes de mais nada, para que também ele possa ocupar-se de seus projetos. (p. 22)


Aqueles que, embora desaprovando o caráter e as medidas do governo, dão a ele sua lealdade e seu apoio, são indubitavelmente seus defensores mais conscienciosos e frequentemente tornam-se os mais sérios obstáculos à reforma. (p. 24)


Como pode um homem ter apenas ma opinião e deleitar-se com ela? Haverá nela algum deleite se sua opinião for a de que ele se sente lesado? (p. 24)


Um homem não tem que fazer tudo, mas algo, e não é porque não pode fazer tudo que precisa fazer este algo de maneira errada. (p. 27)


Qualquer homem mais justo que seus semelhantes já constitui uma maioria de um. (p. 28)


[…]aquilo que é benfeito uma vez está feito para sempre. (p. 29)


Num governo que aprisiona qualquer pessoa injustamente, o verdadeiro lugar de um homem justo é também a prisão. (p. 30)


Uma minoria é impotente enquanto se conforma à maioria, nem chega a ser uma minoria então, mas torna-se irresistível quando se põe a obstruir com todo o seu peso. (p. 31)


[…]o homem rico […] está sempre vendido à instituição que o faz rico. (p. 32)


O melhor que um homem pode fazer por sua cultura, quando enriquece, é tentar pôr em prática os planos que concebeu quando pobre. (p. 34)


[…]o Estado nunca enfrenta intencionalmente a consciência intelectual ou mora de um homem, mas apenas seu corpo, seus sentidos. Não está equipado com inteligência ou honestidade superiores, mas com força física superior. (p. 39)


Existem oradores, políticos e homens eloquentes aos milhares, mas ainda não abriu a boca para falar aquele interlocutor capaz de resolver as questões mais discutidas do momento. Amamos a eloquência pela eloquência e não por qualquer verdade que possa exprimir ou por qualquer heroísmo que possa inspirar. (p. 55)


Jamais haverá um Estado realmente livre esclarecido até que este venha a reconhecer o indivíduo como um poder mais alto e independente, do qual deriva todo seu próprio poder e autoridade, e o trate da maneira adequada. (p. 57)

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Identificação e Biologia das Brocas

São besouros, portanto insetos, e têm vida isolada e pertencem à ordem COLEOPTERA. Temos mais de 300 mil espécies (maior ordem do reino animal). Esses besouros furam a madeira em busca de alimento e abrigo.

Apresentam os seguintes estágios; ovo, larva, pupa e adulto. São as larvas que atacam as madeiras para se alimentar. Preferem peças de vime ou cipó, que são menos resistentes. O seu ciclo de vida pode durar um ano e a fase larval é a mais longa. O dano que causam é um orifício no móvel para a saída do besouro adulto que dura apenas poucas semanas. Mas em um móvel podemos ter várias infestações por brocas. Algumas brocas depositam seus ovos na superfície da madeira ou fendas. Dos ovos saem às larvas que se alimentam da madeira. Como não são animais sociais, eles cavam galerias individuais. Essas galerias são fechadas pelas fezes do animal. Às vezes podemos observar resíduos igual uma serragem, que saem pelos orifícios deixados. Muitas vezes confundimos com cupim.

Para evitarmos os cupins e as brocas temos que evitar colocar em nossas casas, móveis que apresentem furos dos quais saiam resíduos. A peroba dificilmente é atacada por esses insetos por ser dura naturalmente. Para combater podemos fazer a fumigação (exposição do material em local fechado sob ação de gás tóxico) usando os serviços de técnicos especializados. Peças pequenas, podemos colocar no congelador por 48 a 72 horas, para que os insetos morram. Esses tratamentos não impedem que sejam infestados novamente. A melhor forma é a prevenção, que consiste em fechar as janelas na época das revoadas (primavera), apagar as luzes e verificar periodicamente os móveis da casa para eliminarmos os focos desses insetos.

Móveis, molduras, batentes, estruturas, livros são seus alvos. Na sua fase larval destrói a madeira perfurando grandes extensões de galerias. Pode-se identificar o ataque através de depósitos de pó próximo de orifícios. Por trás dos furinhos pode existir uma destruição incalculável. Para prevenir: o ideal é aplicar Inseticidas de uso profissional nos orifícios e após aplicação tapar os buracos para identificar novos ataques. Ação em todas as superfícies de todas as peças da madeira antes da construção. Utilize pincéis ou mergulhe as peças para maior proteção. Para combater: identifique os furinhos das brocas. Alguns estarão abertos outros tampados com o resíduo (pó) gerado pelas brocas. Injete cuidadosamente em todos os furos e pincele por toda a extensão da madeira. Observe por uma semana, se persistir reaplique o produto.

Ovos
A multiplicação destas espécies é sexuada. A fêmea deposita mais de mil ovos durante sua existência, os quais são difíceis de serem identificados, graças ao seu tamanho reduzido, e por estarem no interior dos materiais a serem consumidos. Geralmente a fêmea deposita um único ovo por vez, e em seguida a cavidade é fechada devido á uma secreção gelatinosa produzida pela fêmea.

Larvas
Em poucos dias, os ovos se transformam em larvas, que imediatamente começam a alimentar-se, cavando uma galeria no interior dos materiais (cereais ou vegetais). Dotada de um aparelho mastigador bem desenvolvido, em pouco tempo ocasionam grandes danos, além do mais, suas excreções comprometem o material, abrindo caminho para fungos, ácaros e outros insetos, deterioradores de madeira. O desenvolvimento da larva passa por diversas fases de ecdises (troca de casca para o inseto crescer), até chegar á fase de pupa.

Pupa
É nesta fase que se produzem as mudanças fisiológicas que irão dar origem a um novo inseto adulto. A pupa permanece imóvel, em estado de repouso, e não se alimenta até completar a mudança.

Inseto Adulto
Este não realiza mais crescimento devido o fato de seu exoesqueleto apresentar uma ecdise muito resistente.

Os coleópteros são insetos polífagos (alimentam-se de tudo), e apresentam considerável importância agrícola, dado o elevado número de espécies filófagas (alimentam-se de vegetal).

Por outro lado, encontram-se entre eles muitas espécies benéficas, que atacam plantas daninhas e outros insetos.
 
 

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O amor romântico e outras ligações

Giddens, Anthony. O amor romântico e outras ligações. In: A transformação da intimidade: sexualidade, amor & erotismo nas sociedades modernas. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1993.

O AMOR ROMÂNTICO E OUTRAS LIGAÇÕES

"O Amor", observa Bronislaw Malinowski em seu estudo sobre habitantes da Ilha Trobriand, "é uma paixão, tanto para o melanésio quanto para o europeu, e atormenta a mente e o corpo em maior ou menor extensão; conduz muitos a um impasse, um escândalo ou uma tragédia; mais raramente, ilumina a vida e faz com que o coração se expanda e transborde de alegria".

Bronislaw Malinowski, The Sexual Life of Savages, London: Routledge, 1929, p. 69.

Numerosos exemplos de poesia de amor sobrevivem entre as relíquias do Antigo Egito, alguns remontando a antes de 1000 a.C. O amor é ali retratado como um esmagamento do eu, e, portanto, é semelhante a uma espécie de doença, embora também possua poderes ocultos...p. 47

Embora o uso secular da palavra "paixão" - distinto de sua utilização mais antiga, significando paixão religiosa - seja relativamente moderno, faz sentido considerar-se o amor apaixonado, amour passion, como a expressão de uma conexão genérica entre o amor e a ligação sexual. O amor apaixonado é marcado por uma urgência que o coloca à parte das rotinas da vida cotidiana, com a qual, na verdade, ele tende a se conflitar. O envolvimento emocional com o outro é invasivo - tão forte que pode levar o indivíduo, ou ambos os indivíduos, a ignorar as suas obrigações habituais. O amor apaixonado tem uma qualidade de encantamento que pode ser religiosa em seu fervor. Tudo no mundo parece de repente viçoso, embora talvez ao mesmo tempo não consiga captar o interesse do indivíduo que está tão fortemente ligado ao objeto do amor. O amor apaixonado é especificamente perturbador das relações pessoais, em um sentido semelhante ao do carisma; arranca o indivíduo das atividades mundanas e gera uma propensão às opções radicais e aos sacrifícios. Por esta razão, encarado sob o ponto de vista da ordem e do dever sociais, ele é perigoso. Dificilmente surpreende que o amor apaixonado não tenha sido em parte alguma reconhecido como uma base necessária ou suficiente para o casamento, e na maior parte das culturas tem sido refratário a ele. p. 48

O amor apaixonado é um fenômeno mais ou menos universal. Devo dizer que ele deveria ser diferenciado do amor romântico, muito mais culturalmente específico.

Casamento, sexualidade e amor romântico

Na Europa pré-moderna, a maior parte dos casamentos eram contraídos, não sobre o alicerce da atração sexual mútua, mas o da situação econômica. Entre os pobres, o casamento era um meio de organizar o trabalho agrário. Era impossível que uma vida caracterizada pelo trabalho árduo e contínuo conduzisse à paixão sexual. Tem sido relatado que, entre os camponeses da França e da Alemanha do século XVII, o beijo, a carícia e outras formas de afeição física associadas ao sexo eram raros entre os casais casados...p.49

Somente entre os grupos aristocráticos, a licenciosidade sexual era abertamente permitida entre as mulheres "respeitáveis". A liberdade sexual acompanha o poder e é uma expressão do poder; em certas épocas e locais, nas camadas aristocráticas, as mulheres eram suficientemente liberadas das exigências da reprodução e do trabalho rotineiro para poderem buscar o seu prazer sexual independente. p. 49

A diferenciação entre a sexualidade "casta" do casamento e o caráter erótico ou apaixonado dos casos extraconjugais era absolutamente comum entre outras aristocracias, além daquelas da Europa. (...) A idealização temporária do outro, típica do amor apaixonado, aqui se associou a um envolvimento mais permanente com o objeto do amor, e uma certa reflexividade já estava presente, mesmo anteriormente. p. 50

O amor romântico, que começou a marcar a sua presença a partir do final do século XVIII, utilizou tais ideais e incorporou elementos do amour passion, embora tenha-se tornado distinto deste. O amor romântico introduziu a ideia de uma narrativa para uma vida individual - fórmula que estendeu radicalmente a reflexividade do amor sublime. Contar uma história é um dos sentidos do "romance", mas esta história tornava-se agora individualizada, inserindo o eu e o outro em uma narrativa pessoal, sem ligação particular com os processos sociais mais amplos. O início do amor romântico coincidiu mais ou menos com a emergência da novela: a conexão era a forma narrativa recém-descoberta. p. 50

Nas ligações de amor romântico, o elemento do amor sublime tende a predominar sobre aquele do ardor sexual. A importância deste ponto dificilmente pode ser muito enfatizada. A ideia do amor romântico é, neste aspecto, tão historicamente rara quanto os traços que Max Weber encontrou associados na ética protestante. O amor rompe com a sexualidade, embora a abarque; a "virtude" começa a assumir um novo sentido para ambos os sexos, não mais significando apenas inocência, mas qualidades de caráter que distinguem a outra pessoa como "especial". p. 51

Frequentemente, considera-se que o amor romântico implica atração instantânea -"amor à primeira vista". Entretanto, na medida em que a atração imediata faz parte do amor romântico, ela tem de ser completamente separada das compulsões sexuais/eróticas do amor apaixonado. O "primeiro olhar" é uma atitude comunicativa, uma apreensão intuitiva das qualidades do outro. É um processo de atração por alguém que pode tornar a vida de outro alguém, digamos assim, "completa". p. 51

O gênero e o amor

(...) A imagem da "esposa e mãe" reforçou um modelo de "dois sexos" das atividades e dos sentimentos. As mulheres eram reconhecidas pelos homens como sendo diferentes, incompreensíveis - parte de um domínio estranho aos homens. A ideia de que cada sexo é um mistério para o outro é antiga, e tem sido representada de várias maneiras nas diferentes culturas. O elemento novo, aqui era a associação da maternidade com a feminilidade, como sendo qualidades da personalidade - qualidades estas que certamente estavam impregnadas de concepções bastante firmes da sexualidade feminina. p. 54

O consumo ávido de novelas e histórias românticas não era em qualquer sentido um testemunho de passividade. O indivíduo buscava no êxtase o que lhe era negado no mundo comum. Vista deste ângulo, a realidade das histórias românticas era uma expressão de fraqueza, uma incapacidade de se chegar a um acordo em a auto-identidade frustrada na vida social real. Mas a literatura romântica era (e ainda é hoje) também uma literatura de esperança, uma espécie de recusa. Frequentemente rejeitava a ideia da domesticidade estabelecida como único ideal proeminente. Em muitas histórias românticas, após um namoro com outros tipos de homens, a heroína descobre virtudes do indivíduo íntegro, sólido, que se torna um marido confiável. Entretanto, pelo menos com a mesma frequência, o verdadeiro herói é um brilhante aventureiro que se distingue por suas características exóticas e ignora a convenção em sua busca de uma vida errante. p. 55

O amour passion jamais foi uma força social genérica da maneira que tem sido o amor romântico, desde o final do século XVIII até períodos relativamente recentes. Juntamente com outras mudanças sociais, a difusão de ideias de amor romântico estava profundamente envolvida com transições importantes que afetaram o casamento e também outros contextos da vida pessoal. O amor romântico presume algum grau de autoquestionamento. Como eu me sinto em relação ao outro? Como o outro se sente a meu respeito? Será que os nossos sentimentos são "profundos" o bastante para suportar um envolvimento prolongado? Diferente do amour passion, que extirpa de modo irregular, o amor romântico desliga o indivíduo de situações sociais mais amplas de uma maneira diferente. Proporciona uma trajetória de vida prolongada, orientada para um futuro previsto, mas maleável; e cria uma "história compartilhada" que ajuda a separar o relacionamento conjugal de outros aspectos da organização familiar, conferindo-lhe uma prioridade especial. p. 56

Desde suas primeiras origens, o amor romântico suscita a questão da intimidade. Ela é incompatível com a luxúria, não tanto porque o ser amado é idealizado - embora esta seja parte da história -, mas porque presume uma comunicação psíquica, um encontro de almas que tem um caráter reparador. O outro, seja quem for, preenche um vazio que o indivíduo sequer necessariamente reconhece - até que a relação de amor seja iniciada. E este vazio tem diretamente a ver com a auto-identidade: em certo sentido, o indivíduo fragmentado torna-se inteiro. p.56

No amor romântico, a absorção pelo outro, típica do amour passion, está integrada na orientação característica da "busca". A busca é uma odisséia em que a auto-identidade espera a sua validação a partir da descoberta do outro. Possui um caráter ativo e, neste aspecto, o romance moderno contrasta com as histórias românticas medievais, em que a heroína em geral é relativamente passiva. p. 57

Se o ethos do amor romântico é simplesmente compreendido como o meio pelo qual uma mulher conhece o seu "príncipe", isso parece realmente superficial. Embora na literatura, como na vida, às vezes as coisas se passem deste modo, a conquista do coração do outro é na verdade um processo de criação e uma narrativa biográfica mútua. A heroína amansa, suaviza e modifica a masculinidade supostamente intratável do seu objeto amado, possibilitando que a afeição mútua transforme-se na principal diretriz de usas vidas juntos. p. 57

O caráter intrinsecamente subversivo da ideia do amor romântico foi durante muito tempo mantido sob controle pela associação do amor com o casamento e com a maternidade; e pela ideia de que o amor verdadeiro, uma vez encontrado, é para sempre. Quando o casamento, para a maioria da população, efetivamente era para sempre, a congruência estrutural entre o amor romântico e a parceria sexual estava bem delineada. O resultado pode, com frequência, ter sido anos de infelicidade, dada a conexão frágil entre o amor como fórmula para o casamento e as exigências para progredir posteriormente. Mas um casamento eficaz, ainda que não particularmente compensador, pode ser sustentado por uma divisão do trabalho entre os sexos, com o marido dominando o trabalho remunerado e a mulher, o trabalho doméstico. Podemos ver neste aspecto como o confinamento da sexualidade feminina ao casamento era importante como um símbolo da mulher "respeitável". Isto ao mesmo tempo permitia aos homens conservar distância do reino florescente da intimidade e mantinha a situação do casamento como um objetivo primário das mulheres. p. 58

domingo, 16 de setembro de 2012

Gaiola das cebeçudas


quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Estais ouvindo o alarido que fazem esses livros?

"Estais ouvindo o alarido que fazem esses livros? Falam ao mesmo tempo em todas as línguas. Discutem sobre tudo: Deus, a natureza, o homem, o tempo, o espaço,o bem, o mal, o conhecido e o desconhecido. Examinam tudo, contestam tudo, afirmam tudo, negam tudo. Raciocinam e divagam. Uns são graves, outros frívolos; uns são alegres, outros tristes; uns são prolixos, outros, concisos. São 800 mil nesta sala, e não há dois deles que pensem exatamente da mesma forma".

(Anatole France, "As sete mulheres de Barba Azul")

terça-feira, 11 de setembro de 2012

De tal maneira que hoje...

[...]
 
De tal maneira que hoje, eu desgostoso e azedo
Com tantas crueldades e tantas injustiças,
Se inda trabalho é como os presos no degredo,
Com planos de vingança e idéias insubmissas.
 
E agora, de tal modo a minha vida é dura,
Tenho momentos maus, tão tristes, tão perversos,
Que sinto só desdém pela Literatura,
E até desprezo e esqueço os meus amados versos!
 
 
JOSÉ JOAQUIM, Cesário verde, 1855-1886. O livo do Cesário Verde. Porto Alegre: L&M, 2010.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Escrever para morrer

Escrevo estes versos frouxos
Para esquecer os gestos mesquinhos,
Toda a estupidez e falta de carinho
Que meu coração lhe deu.

Escrevo para esquecer quem sou
E para esquecer outro alguém.
Para lembrar das boas ações 
Que eu fiz pra ninguém.

Escrevo pois quero morrer
Com calma, de mansinho,
Com as mãos de um demônio -

Feio, mal e pequenino -
Nas minhas mãos,
Conduzindo-me devagarinho.

f. foresti

Aniversário

No meu aniversário,
Dia triste e sombrio,
Senti-me muito sozinho.
Ganhei um vinho.
 
Chorei ao acordar,
Como um desterrado
Com saudades do lar.
Perdi outro amor.
 
Ora, mas e a festa?
E o dia colorido e alegre?
Ganhei uma lata cabeça.
Infeliz: beba logo o vinho.
 
f. foresti

Deslumbramentos

Milady, é preciso comtemplá-la,
Quando passa, aromática e normal,
Com seu tipo tão nobre e tão de sala,
Com seus gestos de neve e de metal.

[...]

Eu ontem encontrei-a, quando vinha,
Britânica, e fazendo-me assombrar;
Grande dama fatal, sempre sozinha,
E com firmeza e música no andar!

[...]

E enfim prossiga altiva como a Fama,
Sem sorrisos, dramática, cortante;
Que eu procuro fundir na minha chama
Seu ermo coração, como um bilhante.

Mas cuidado, milady, não se afoite,
Que hão de acabar os bárbaros reais,
E os povos humilhados, pela noite,
Para a vingança aguçam os punhais.

E um dia, ó Flor do Luxo, nas estradas,
Sob o cetim azul e as andorinhas,
Eu hei de ver errar, alucinadas,
E arrastando farrapos, as rainhas!



JOSÉ JOAQUIM, Cesário verde, 1855-1886. O livo do Cesário Verde. Porto Alegre: L&M, 2010.

Fado de poeta

Conheço bem o cheiro da poesia:
Chega assim como chega
O cheiro de um cadáver.
A poesia é uma cidade
 
Onde todos morreram,
Onde se vive de saudade,
Onde as crianças só fazem chorar
E os amantes só fazem matar.
 
Pode explodir coração,
Nesta cidade não existe ressureição,
Não se acredita em Deus ou religião,
 
Apenas há gente morta por todos lados,
Gente que gente não esquece.
Revele-me o motivo deste fado.
 
 
f. foresti
 

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Recantinho

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Poesias sobre gatos

Baudelaire, Charles, 1821-1867. As flores do mal: edição bilíngue. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.
 
 
O gato

Vem cá, meu gato, aqui no meu regaço;

Guarda essas garras devagar,

E nos teus belos olhos de ágata e aço

Deixa-me aos poucos mergulhar.

Quando meus dedos cobrem de carícias

Tua cabeça e o dócil torso,

E minha mão se embriaga nas delícias

De afagar-te o elétrico dorso,

Em sonho a vejo. Seu olhar, profundo

Como o teu, amável felino,

Qual dardo dilacera e fere fundo,

E, dos pés à cabeça, um fino

Ar sutil, um perfume que envenena

Envolvem-lhe a carne morena.

O gato

I

Dentro em meu cérebro vai e vem

Como se sua casa fosse

Um belo gato, forte e doce.

Quando ele mia, mal há quem

Lhe ouça o fugaz timbre discreto;

Seja serena ou iracunda,

Soa-lhe a voz rica e profunda.

Eis seu encanto mais secreto.

Essa voz que se infiltra e afina

Em meu recesso mais umbroso

Me enche qual verso numeroso

E como um filtro me ilumina.

Os piores males ela embala

E os êxtases todos oferta;

Para enunciar a frase certa,

Não é com palavras que fala.

Não, não existe arco que morda

Meu coração, nobre instrumento,

Ou faça com tal sentimento

Vibrar-lhe a mais sensível corda

Que a tua voz, ó misterioso

Gato de místico veludo,

Em que, como num anjo, tudo

É tão sutil quanto gracioso!

II

De seu pelo louro e tostado

Um perfume tão doce flui

Que uma noite, ao mimá-lo, fui

Por seu aroma embalsamado.

É a alma familiar da morada;

Ele julga, inspira, demarca

Tudo o que o império abarca;

Será um deus, será uma fada?

Se neste gato que me é caro,

Como por ímãs atraídos,

Os olhos ponho comovidos

E ali comigo me deparo,

Vejo aturdido a luz que lhe arde

Nas pálidas pupilas ralas,

Claros faróis, vivas opalas,

Que me contemplam sem alarde

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