JENKINS, Henry. Cultura da convergência. 2 ed. São Paulo: Aleph, 2009.
Bem vindo à cultura da convergência, onde as velhas e as novas mídias colidem, onde mídia coorporativa e mídia alternativa se cruzam, onde o poder do produtor de mídia e o poder do consumo interagem de maneiras imprevisíveis. 29
A convergência não ocorre por meio de aparelhos, por mais sofisticados que venham a ser. A convergência ocorre dentro dos cérebros de consumidores individuais e em suas interações sociais com outros. Cada um de nós constrói a própria mitologia virtual, a partir de pedaços e fragmentos de informações extraídos do fluxo midiático e transformados em recursos através dos quais compreendemos nossa vida cotidiana. 30
Nos ultimos anos, vimos como os celulares se tornaram cada vez mais fundamentais nas estratégias de lançamentos de filmes comerciais em todo o mundo; com filmes amadores e profissionais produzidos cem celulares competiram por prêmios em festivais de cinema internacionais. 31
Ou mercados midiáticos estão passando por mais uma mudança de paradigma. Acontece de tempos em tempos. Nos anos 1990, a retórica da revolução digital continha uma suposição implícita, e às vezes explícita, de que os novos meios de comunicação eliminariam os antigos, que a internet substituiria a radiodifusão e que tudo isso permitiria aos consumidores acessar mais facilmente o conteúdo que mais lhe interessasse. 32
O paradigma da revolução digital alegava que os novos meios de comunicação digital mudariam tudo. Após o estouro da bolha pontocom, a tendência foi imaginar que as novas mídias não haviam mudado nada. Como muitas outras coisas no atual ambiente de mídia, a verdade está no meio termo. 33
Marshall McLuhan, Technologies of freedom, 1983. 37
os professores de história dizem-nos que os velhos meios de comunicação nunca morrem -nem desaparecem, necessariamente. O que morre são apenas as ferramentas que usamos para acessar seu conteúdo […] São o que s estudiosos dois meios de comunicação chamam de delivery technologies. […] As tecnologias de distribuição tornam-se obsoletas e são substituídas. Cds, arquivos MP
e fitas cassete são tecnologias de distribuição. […] sistemas de distribuição são apenas e simplesmente tecnologias; meios de comunicação são também sistemas culturais. Tecnologias de distribuição vêm e vão o tempo todo, mas os meios de comunicação persistem como camadas dentro de um extrato de entretenimento e informação cada vez mais complicado. 41
mudanças nos protocolos através dos quais estamos produzindo e consumindo mídia. 42
podemos também ser forçados a lidar com o aumento de funções dentro do mesmo aparelho, as quais diminuem sua capacidade de cumprir sua função original; assim, não consigo encontrar um telefone celular que seja apenas telefone. 43
A convergência das mídias é mais do que apenas uma mudança tecnológica. A convergência altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros e públicos. […] altera a lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento. […] a convergência refere-se a um processo, não a um ponto final. Não haverá uma caixa preta que controlará o fluxo midiático para dentro de nossas casas. Graças a proliferação de canais e à portabilidade das novas tecnologias de informática e telecomunicações, estamos entrando numa era em que haverá mídias em todos os lugares. A convergência não é algo que vai acontecer um dia, quando tivermos banda larga suficiente ou quando descobrirmos a configuração correta dos aparelhos. Prontos ou não, já estamos vivendo numa cultura da convergência. 43
Neste momento, as transformações culturais, as batalhas jurídicas e as fusões empresariais que estão alimentando a convergência midiática são mudanças antecedentes na infraestrutura tecnológica. O modo como essas diversas transições evoluem irá determinar o equilíbrio de poder na próxima era dos meios de comunicação. 45
Cocooning: termo cunhado nos anos 90 para definir a tendência ao isolamento social nas últimas décadas: as pessoas preferem ficar em casa a interagir socialmente. O aparecimento de novas tecnologias, como a Internet, acentuou essa tendência. 45
Alguns veem um mundo sem gatekeepers, outros um mundo onde os gatekeepers têm um poder sem precedentes. (porteiro: no contexto dos meios de comunicação, é um termo utilizado para se referir a pessoas e organizações que administram ou restringem o fluxo de informação e conhecimento.) 46
Se os antigos consumidores eram previsíveis e ficavam onde mandavam que ficassem, os novos consumidores são migratórios, demonstrando uma declinante lealdade a redes ou a meios de comunicação. Se […] eram indivíduos isolados, os novos […] são mais conectados socialmente. Se o trabalho de consumidores de mídia já foi silencioso e invisível, os novos consumidores são agora barulhentos e públicos. 47
A nova "economia afetiva" incentiva as empresas a transformar as marcas naquilo que uma pessoa do meio da indústria chama de "lovermarks" e a tornar imprecisa a fronteira entre conteúdos de entretenimento e mensagens publicitárias. Segundo a lógica da economia afetiva, o consumidor ideal é ativo, comprometido emocionalmente e parte de uma rede social. 49
Mais uma vez, os cidadãos foram melhor servidos pela cultura popular do que pela noticiário ou pelo discurso político; a cultura popular assumiu novas responsabilidades ao instruir o público sobre o que estava em jogo nessa eleição e inspirá-lo participar mais plenamente do processo. Na esteira de uma campanha que causou tantas divisões, a mídia popular talvez sirva também de exemplo de como podemos nos unir, apesar de nossas diferenças. As eleições de 2004 representam um importante momento de transição no relacionamento entre a mídia e os políticos à medida que os cidadãos foram incentivados a fazer boa parte do trabalho sujo da campanha, e candidatos e partidos perderam parte do controle sobre o processo político. Aqui, […] todos os lados aceitam uma participação maior dos cidadãos e consumidores, mas ainda não concordam com os termos dessa participação. 51
Estamos realizando essa mudança primeiro primeiro por meio de nossas relações com a cultura popular, mas as habilidades que adquirimos nessa brincadeira tem implicações no modo como aprendemos, trabalhamos, participamos do processo político e nos conectamos com pessoas de outras partes do mundo. 51
defini as culturas do conhecimento emergentes como culturas determinadas por afiliações voluntárias, temporárias e táticas. Por serem voluntárias, as pessoas não permanecem em comunidades que não satisfazem usa necessidades emocionais e intelectuais. Por serem temporárias, as comunidades se formam e se dispersam com relativa flexibilidade. Por serem táticas, tendem a não durar além das tarefas que as impulsionaram. 91
O que houve foi o deslocamento da interação em tempo real para a participação assíncrona. 93
Os profissionais de marketing procuram moldar a reputação das marcas não através de uma transação individual, mas através da soma total de interação com o cliente – um processo contínuo que cada vez mais ocorre numa série de diferentes "pontos de contato" midiáticos. Não querem apenas que o consumidor faça uma única compra, mas que estabeleça uma relação de longo prazo com a marca. . Novos modelos de marketing procuram expandir os investimentos emocionais, sociais e intelectuais do consumidor, com o intuito de moldar os padrões de consumo. No passado os produtores de mídia falavam de "impressões". Hoje estão explorando o conceito de "expressões" do público, tentando entender como por que o público reage aos conteúdos. […] construir uma "comunidade de marca" comprometida pode ser o meio mais seguro de aumentar a fidelidade do consumidor, e que o merchandising permitirá às marcas absorverem um pouco da força afetiva dos produtos de mídia a que se associam. 98
Minha opinião é de que esse discurso emergente sobre economia afetiva possui implicações negativas e positivas: possibilita que os anunciantes utilizem a força de inteligência coletiva, direcionando-a a seus próprios fins, mas ao mesmo tempo, permite que os consumidores formem seu próprio tipo de estrutura coletiva de barganha, que podem usar para desafiara s decisões corporativas. 99
Nos encontros da indústria país afora, visionários corporativos e gurus de marcas estão promovendo o que chamo de economia afetiva como a solução para uma crise perceptível na radiodifusão americana - uma crise causada pelas transformações na tecnologia das mídias, que estão conferindo aos telespectadores um controle muito maior sobre o fluxo midiático em seus lares. 99
Nos anos 1960, um anunciante poderia alcançar 80% das mulheres americanas com uma inserção n horário nobre das três redes de TV. Hoje, estima-se que a mesma inserção teria de passar em cem canais de TV para alcançar o mesmo número de espectadores. [15]. 101
os anunciantes […] estão diversificando seus orçamentos de publicidade e procurando estender suas marcas a múltiplos pontos de distribuição que, espera-se, irão alcançar uma variada seleção de nichos menores. 101
"à medida que os anunciantes perderem a capacidade de invadir o lar e a mente dos consumidores, serão obrigados a aguardar um convite. Isso significa que os anunciantes têm de aprender que tipos de conteúdo publicitário os clientes estarão realmente dispostos a procurar e receber.[20] 102
os consumidores não apenas assistem aos meios de comunicação; eles também compartilham entre si ao assistem – seja usando uma camiseta proclamando sua paixão por determinado produto, postando mensagens numa lista de discussão, recomendando um produto a um amigo ou criando uma paródia de um comercial que circula na Internet. A expressão pode ser vista como um investimento na marca, e não simplesmente uma exposição a ela. 103
relações emocionais x temas promocionais. 108
As corporações estão se voltando aos consumidores ativos porque precisam fazê-lo, se quiserem sobreviver; algumas já aprenderam que esses consumidores podem ser aliados, mas muitas ainda os temem e desconfiam deles, procurando formas de desviar essa força emergente para seus próprios fins. 110
Profissionais da indústria midiática com frequência fazem distinção entre consumidores zapeadores, casuais e fiéis: essa distinção consegue explicar como, por que e a que os consumidores assistem. 111
As pesquisas de mercado sugerem, hoje, que os fieis são muito mais valiosos que os zapeadores. 113
televisão com hora marcada coisa do passado. Swan, 113
a indústria midiática tenta gerar conteúdos que atraiam fiéis, que diminuam a velocidade dos zapeadores e que transformem casuais em fãs. 115
os programas são planejados para sustentar múltiplos níveis de envolvimento. 115
À medida que o ciberespaço amplia a esfera das interações sociais, torna-se ainda mais importante poder falar sobre pessoas que conhecemos através da mídia do que sobre pessoas de nossa comunidade local, que não são conhecidas de todos os participantes de uma conversa on-line. 124
Em uma sociedade multicultural, conversar sobre as diferenças de valores torna-se um mecanismo pelo qual diferentes grupos sociais podem aprender mais sobre como cada um percebe o mundo; portanto, há um valor real na fofoca que se alastra no mundo virtual, e não em comunidades de contato direto, face a face. 124-125
É por meio de embates que a relação entre os produtores e consumidores de mídia será redefinida nas próximas décadas. 134
cada produto determinado é um ponto de acesso à franquia como um todo. A compreensão obtida por meio de diversas mídias sustenta uma profundidade de experiência que motiva mais consumo. […] oferecer novos níveis de revelação e experiência renova a franquia e sustenta a fidelidade do consumidor. A lógica econômica de uma indústria do entretenimento integrada horizontalmente […] onde uma única empresa pode ter raízes em vários diferentes setores de mídia – dita o fluxo de conteúdos pelas mídias. Mídias diferentes atraem nichos de mercados diferentes. Filmes e televisão provavelmente têm os públicos mais diversificados; quadrinhos e games, os mais restrito. 138
Uma boa franquia transmídia trabalha para atrair múltiplas clientelas, alterando um pouco o tom do conteúdo de acordo com a mídia. Entretanto, se houver material suficiente para sustentar as diferentes clientelas – e se cada obra oferecer experiências novas – é possível contar com um mercado de intersecção que irá expandir o potencial de toda franquia. 138-139
não temos ainda critérios estéticos muito bons para avaliar obras que se desenvolvem através de múltiplas mídias. 1391
(filmes cult, excesso de citações, feitos para ser citado, Eco) 40
A absoluta abundância de alusões torna quase impossível a qualquer consumidor dominar a franquia totalmente. 142
há fortes motivações econômicas por trás da narrativa transmídia. A convergência das mídias torna inevitável o fluxo de conteúdo pelas múltiplas plataformas de mídia. […] há um forte interesse em integrar entretenimento e marketing, em criar fortes ligações emocionais e usá-las para aumentar as vendas. 148
na cocriação, as empresas colaboram desde o início para criar conteúdos considerados adequados a cada um dos setores, permitindo que cada meio de comunicação gere novas experiências ao consumidor e aumente os pontos de acesso a franquia. 149
da televisão com hora marcada para a televisão de envolvimento. 167
Enquanto a complexidade nos anos 1980 talvez fosse definida em termos de necessidade de oferecer "drama de qualidade" para um consumidor demograficamente de elite, os programas "complexos" de hoje normalmente oferecem entretenimento de gênero, na esperança de atrair os mais jovens, que estavam abandonando a televisão em favor de jogos e outros entretenimentos interativos. Quando esses fãs foram atraídos para um programa, eles exigiram um relacionamento mais intenso e profundo com o conteúdo. […] uma das estratégias mais comuns foi o desenvolvimento de cenas curtas adicionais para o consumo via plataformas móveis. 169
Apesar de todas as suas qualidades experimentais e inovadoras, a narrativa transmídia não é inteiramente nova. […] história de Jesus. 172
As novas "mitologias", se podemos chamá-las assim, estão emergindo no contexto de uma sociedade cada vez mais fragmentada e multicultural. 174
As crianças estão sendo preparadas para contribuir com uma cultura do conhecimento mais sofisticada. Até agora, nossas escolas ainda se concentram em gerar aprendizes autônomos; buscar informações com outras pessoas ainda é classificado como "cola". No entanto, na vida adulta, estamos dependendo cada vez mais dos outros para nos fornecer informações que não conseguimos processar sozinhos. Nosso local de trabalho tornou-se mais cooperativo; nosso processo político tornou-se mais descentralizado; estamos vivendo cada vez mais no interior de culturas baseadas na inteligência coletiva. Nossas escolas não estão ensinando o que significa viver e trabalhar em tais comunidades de conhecimento, mas a cultura popular talvez esteja. 184
Numa cultura de caçadores, as crianças brincam com arco e flecha. Na sociedade da informação, elas brincam com informação. 185
na cultura da convergência, todos são participantes […] diferentes graus de status e influência. 189
Pode-se contar a história das artes americanas do século 20 em termos da substituição da cultura tradicional pelas mídias de massa. 192
Pode-se contar a história das artes americanas do século 21 em termos do ressurgimento público da criatividade popular alternativa, à medida que pessoas comuns se aproveitadas novas tecnologias que possibilitam o arquivamento, a apropriação e a recirculação de conteúdos de mídia. Provavelmente começou com a fotocópia […] talvez tenha começado com a revolução do videocassete. 193
A nova cultura da convergência será construída sobre referências de vários conglomerados de mídia. 194
Nas últimas décadas, as corporações buscaram vender conteúdo de marca para que os consumidores se tornem os portadores de suas mensagens. Profissionais de marketing transformaram nossos filhos em outdoors ambulantes e falantes, que usam logotipo na camiseta, pregam emblemas na mochila, colam adesivos no armário, penduram posteres na parede, mas não podem, sob pena da lei, postar nada disso em suas páginas na Internet. De alguma forma, quando só consumidores escolhem onde e quando exibir essas imagens, sua participação ativa na circulação de marcas subitamente torna-se um ultraje moral e uma ameaça ao bem-estar econômico da indústria. 195
O sistema depende de relações dissimuladas entre produtores e consumidores. 196
Eles consideram os fãs como um potencial de revitalização de franquias estagnadas e um meio de baixo custo para geração de novos conteúdos de mídia. 196
desaparecimento de cineastas amadores. 200
Em toda parte e em todos os níveis o termo "participação" emergiu como um conceito dominante, embora cercado de expectativas conflitantes. As corporações imaginam a participação como algo que podem iniciar e parar, canalizar e redirecionar, transformar em mercadoria e vender. As proibicionistas estão tentando impedir a participação não autorizada; as cooperativistas estão tentando impedir a participação não autorizada; as cooperativistas estão tentando conquistar para si os criadores alternativos. Os consumidores, por outro lado, estão reivindicando o direito de participar da cultura, sob suas próprias condições, quando e onde desejarem. Esse consumidor, mais poderoso, enfrenta uma série de batalhas para preservar e expandir seu direito de participar. 236
Contradições, confusões e múltiplos pontos de vista são esperados num momento de transição, em que um paradigma midiático está morrendo e outro está nascendo. Nenhum de nós sabe realmente como viver nesta época de convergência das mídias, inteligência coletiva e cultura participativa. 236
[…] uma luta sobre os direitos que temos de ler e escrever a respeito de mitos culturais essenciais – ou seja, uma luta sobre letramento. Aqui, entende-se por letramento, não apenas o que podemos fazer com material impresso, mas também com outras mídias. 237
de que habilidades as crianças precisam para se tornar participantes plenos da cultura da convergência? […] a capacidade de unir seu conhecimento ao de outros numa empreitada coletiva […] a capacidade de compartilhar e comparar sistemas de valores por meio da avaliação de dramas éticos […] a capacidade de formar conexões entre pedaços espalhados de informação […] a capacidade de expressar suas interpretações e seus sentimentos em relação a ficções populares por meio de sua própria cultura tradicional […] e a capacidade de circular as criações através da Internet, para que possam ser compartilhadas com outros. 248-249
Muitos adultos se preocupam com o fato de as crianças estarem "copiando" o conteúdo de mídia preexistente, em vez de criar os próprios trabalhos originais. Entretanto, deve-se pensar nessas apropriações como um tipo de aprendizagem. 255
a frequência com que as crianças são forçadas a renunciar à fantasia a fim de defender o próprio direito de possuí-la. 271
[47, p. 273] "mentalidade que valoriza quem é perfeitamente normal, em vez de quem é interessante, original, afetuoso e criativo"
Numa época de convergência das mídias, a participação dos consumidores emergiu como o principal problema conceitual: gatekeepers tradicionais procuram agarrar-se ao controle do conteúdo cultural, e outros grupos […] querem proporcionar aos consumidores as habilidades necessárias para a construção de sua própria cultura. 283
nova relação entre a política e a cultura popular. 285
Estão falando em uma mudança no papel do público no processo político […] em mudar a maneira sobre como as pessoas pensam sobre comunidade e poder […] em substituir o conceito do cidadão individualmente informado pelo conceito cooperativo do cidadão monitor. 287
a mídia contemporânea está sendo moldada por várias tendências conflitantes e contraditórias […] há também uma concentração de poder inédita dos velhos meios de comunicação. A ampliação de um ambiente discursivo coexiste com o estreitamento da variedade nas informações transmitidas pelos canais mais disponíveis. 291
Já estamos aprendendo a viver em meio aos múltiplos sistemas de mídia. As batalhas cruciais estão sendo travadas agora. Se nos concentrar-nos na tecnologia, perderemos a batalha antes mesmo de começarmos a lutar. Precisamos enfrentar os protocolos sociais, culturais e políticos que existem em torno da tecnologia e definir como utilizá-los. 292
push media e pull media 293
O cidadão monitor precisa desenvolver novas habilidades importantes na avaliação de informações – processo que ocorre tanto em nível individual, dentro de casa ou no trabalho, quanto em nível mais cooperativo, por meio do trabalho de diversas comunidades do conhecimento. 308
Eles adotaram tecnologias e técnicas desbravadas pelas comunidades de fãs e as utilizaram para mobilizar eleitores. Utilizaram shows e apresentações como locais para o registro dos eleitores. Utilizaram filmes como uma oportunidade para discussões políticas e difusão pública. Criaram paródias no Photoshop que sintetizaram debates fundamentais. Construíram games em que comunidades imaginárias aprendiam a governar a si mesmas. 315-316
podemos afirmar que uma integração crescente entre política, cultura popular e vida cotidiana ajudou a mobilizar níveis recordes de participação de eleitores. 316
o desafio é criar um contexto em que pessoas de diferentes formações realmente conversem entre si e se orçam. 317
a medida que as pessoas integram a política à vida cotidiana, torna-se mais difícil para elas se comunicarem com familiares e vizinhos […] À medida que a "política do ataque" evolui no nível popular, o entramos em desacordo com as pessoas à nossa volta, difamando-as por suas escolhas políticas […] prejudicamos relações que nos são valiosas. 317-318
estamos mais polarizados hoje do que qualquer outro período da história. […] significa que não estamos conseguindo encontrar princípios unificadores ou agir sobre pontos de consenso. Até certo ponto, essa polarização é oportunista, criada por membros dos dois partidos, que consideram essas discordâncias útil para levantar dinheiro e mobilizar eleitores. 318
talvez possamos superar nossas diferenças se encontrarmos atributos comuns por meio da fantasia […] esta é mais uma razão por que a cultura popular tem importância política – de modo algum ela parece tratar de política. 321
a convergência representa uma mudança de paradigma – um deslocamento de conteúdo de mídia específico em direção a um conteúdo que flui por vários canais, em direção a uma elevada interdependência de sistemas de comunicação, em direção a múltiplos modos de acesso a conteúdos de mídia e em direção a relações cada vez mais complexas entre a mídia corporativa […] e a cultura participativa. Apesar da retórica sobre a "democratização da televisão", essa mudança está sendo conduzida por interesses econômicos e não por uma missão de delegar poderes ao público. A indústria midiática está adotando a cultura da convergência por várias razões: estratégias baseadas na convergência exploram as vantagens dos conglomerados […] cria múltiplas formas de vender conteúdo aos consumidores […] consolida a fidelidade do consumidor […] em alguns casos [..] está sendo estimulada pelas corporações como um modo de moldar o comportamento do consumidor. 325
O público não vai reconsiderar sua relação com o conteúdo de mídia da noite para o dia, e a indústria da mídia não vai renunciar ao seu domínio sobre a cultura sem lutar. 326
as maiores mudanças estão ocorrendo nas comunidades de consumo. A maior mudança talvez seja a substituição do consumo individualizado e personalizado pelo consumo como prática integrada em rede. 327
A política do utopia crítica é fundamentada na noção de delegação de poderes; a política do pessimismo crítico, na vitimização. Uma enfoca o que estamos fazendo com as mídias, a outra, o que as mídias estão fazendo conosco. […] o movimento de reforma midiática está ganhando força numa época em que as pessoas começam a se sentir com mais poder, e não quando se sentem mais fracas. 330
A concentração do poder da mídia é um problema real […] detém a competição e coloca as indústrias acima das demandas dos consumidores […] reduz a diversidade […] reduz os incentivos para as empresas negociarem com os consumidores e impõe obstáculos à sua participação. Grandes meios de comunicação concentrados podem ignorar a audiência (pelo menos até certo ponto). 331
lutar contra o regime de direitos autorais corporativos, combater a censura e o pânico moral que tentam transformar em doença as formas emergentes de participação, expandir o acesso e a participação de grupos que, de resto, estão sendo deixados para trás, e promover formas de educação e letramento midiático que auxiliem as crianças a desenvolver as habilidades necessárias para se tornarem participantes plenos de sua cultura. 331
Mas o que significa explorar o poder da mídia para nossos próprios fins? A pureza ideológica e estética é realmente mais valiosa do que a transformação da nossa cultura? 331
Uma política de participação começa a partir do pressuposto de que podemos ter maior poder coletivo de barganha se formarmos comunidades de consumo. 332
Uma política de confronto deve dar lugar a uma política focada na colaboração tática. O antigo modelo […] era de que os consumidores votam com a carteira. O novo é o de que estamos coletivamente mudando a natureza do mercado e, ao fazê-lo, estamos pressionando as empresas a mudar os produtos que elas estão criando e o modo como se relacionam com os consumidores. 333
Ainda não temos nenhum modelo de uma cultura do conhecimento plenamente realizada. Mas a cultura popular pode nos fornecer protótipos. 333
Uma adhocracia é uma cultura do conhecimento que transforma informação em ação. 334
O poder da participação vem não de destruir a cultura comercial, mas de reescrevê-la, modificá-la, corrigi-la, expandi-la, adicionando maior variedade de pontos de vista, e então circulando-a novamente, de volta às mídias comerciais. 341
Hoje precisamos enfrentar os fatores culturais que diminuem a probabilidade de participação de diversos grupos. 342
O ideal do cidadão informado está se desintegrando simplesmente porque há coisas demais para apenas um indivíduo saber. O ideal da cidadania monitora depende de desenvolvimento de novas habilidades em colaboração e de uma nova ética de compartilhamento de conhecimento que nos permitirão deliberar juntos. 342
As mídias são interpretadas basicamente como ameaças, em vez de recursos. Coloca-se mais ênfase nos perigos da manipulação do que nas possibilidades de participação. 343
onde velhas e novas mídias colidem, onde a mídia corporativa e a mídia alternativa se cruzam, onde o poder do produtor e o poder do consumidor interagem de maneiras imprevisíveis. A cultura da convergência é o futuro, mas está sendo moldada hoje. Os consumidores terão mais poder na cultura da convergência – mas somente se reconhecerem e utilizarem esse poder tanto como consumidores quanto como cidadãos, como plenos participantes de nossa cultura. 343
em vez de estar substituindo as velhas mídias, o que eu chamo de cultura da convergência está sendo moldada pelo crescente contato e colaboração entre as instituições de mídia consagradas e as emergentes, pela expansão do número de agentes produzindo e circulando mídia, e o fluxo de conteúdo pelas múltiplas plataformas e redes. 347-348
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