Um livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive. (Padre Antônio Vieira)

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

MCLUHAN, M. Os meios de comunicação como extensões do homem

MCLUHAN, M. Os meios de comunicação como extensões do homem. Cultrix: São Paulo, 2006. 407 p. 


Hoje, depois de mais de um século de tecnologia elétrica, projetamos nosso próprio sistema nervoso central num abraço global, abolindo tempo e espaço [...] estamos nos aproximando rapidamente da fase final das extensões do homem: a simulação tecnológica da consciência. 17

Enquanto extensão do homem, a cadeira é uma ablação especializada do traseiro, uma espécie de ablativo das costas, ao passo que o divã prolonga ou "estende" o ser integral. O psicanalista utiliza o divã porque ele elimina a tentação de expressar pontos de vista particulares e afasta a necessidade de racionalizar os fatos. 19

A aspiração de nosso tempo pela totalidade, pela empatia e pela conscientização profunda é um corolário natural da tecnologia elétrica. 19

O exame da origem e o desenvolvimento das extensões individuais do homem deve ser percebido de um lance de olhos sobre alguns aspectos gerais dos meios e veículos – extensões do homem – a começar pelo jamais explicado entorpecimento que cada uma das extensões acarreta no indivíduo e na sociedade. 20

O meio é a mensagem. Isto apenas significa que as consequências sociais e pessoais de qualquer meio – ou seja, de qualquer uma das extensões de nós mesmos – constituem o resultado do novo estalão introduzido em nossas vidas por uma nova tecnologia ou extensão de nós mesmos. 21

A automação cria papéis que as pessoas devem desempenhar, em seu trabalho ou em suas relações com os outros, com aquele profundo sentido de participação que a tecnologia mecânica que a precedeu havia destruído. 21

A luz elétrica é informação pura. 22

O conteúdo de qualquer meio ou veículo é sempre um outro meio ou veículo. 22

Pois a "mensagem" de qualquer meio ou tecnologia é a mudança de escala, cadência ou padrão que esse meio ou tecnologia introduz nas coisas humanas. A estrada de ferro não introduziu movimento, transporte, roda ou caminhos na sociedade humana, mas acelerou e ampliou a escala das funções humanas anteriores, criando tipos de cidades, de trabalho e de lazer totalmente novos. 22

Na verdade não deixa de ser bastante típico que o conteúdo de qualquer meio nos cegue para a natureza desse mesmo meio. 23

A IBM só começou a navegar com boa visibilidade depois que descobriu que não estava no ramo da produção de máquinas e equipamentos para escritórios e sim no de processamento de informação. 23

Ela ainda não descobriu que [...] está no negócio da informação móvel e em mudança. 23

Não percebemos a luz elétrica como meio de comunicação simplesmente porque ela não possui "conteúdo". É o quanto basta para exemplificar como se falha no estudo dos meios e veículos. 23

A mensagem da luz [...] totalmente radical, difusa, descentralizada. Embora desligadas de seus usos, tanto a luz como a energia elétrica eliminam os fatores de tempo e espaço da associação humana, exatamente como o fazem o rádio, o telégrafo, o telefone e a televisão, criando participação em profundidade. 23

Qualquer tecnologia pode fazer tudo, menos somar-se ao que já somos. 26

Os meios têm o poder de impor seus pressupostos e sua própria adoção aos incautos. 30

Não estamos mais bem preparados para enfrentar o rádio e a televisão em nosso ambiente letrado do que o nativo de Gana em relação à escrita, que o expulsa de seu mundo tribal coletivo, acuando-o num isolamento individual. Estamos tão sonados em nosso novo mundo elétrico quanto o nativo envolvido por nossa cultura escrita e mecânica. 31

A velocidade elétrica mistura as culturas pré-históricas com os detritos dos mercadologistas industriais, os analfabetos com os semiletrados e os pós-letrados. Crises de esgotamento nervoso e mental, nos mais variados graus, constituem o resultado, bastante comum, do desarraigamento e da inundação provocada pelas novas informações e pelas novas e infindáveis estruturas informacionais. 31

A tecnologia elétrica está dentro dos muros e nós somos insensíveis , surdos, cegos e mudos, ante a sua confrontação com a tecnologia de Gutenberg [...] a existência da ameaça sequer foi reconhecida. 33

Nossa resposta aos meios e veículos de comunicação [...] tem muito da postura alvar do idiota tecnológico. 33

Nós nos transformamos naquilo que contemplamos. 34

Séculos de fragmentação e especialização. 36

A aceitação dócil e subliminar do impacto causado pelos meios transformou-os  em prisões sem muros para os seus usuários. 36

Todo meio ou veículo de comunicação também é uma arma poderosa para abater outros meios e veículos e outros grupos. 36

Cada produto que molda uma sociedade acaba por transpirar em todos e por todos os seus sentidos. 37

Um meio quente é aquele que prolonga um único de nossos sentidos e em "alta definição" 38

Têm efeitos bem diferentes sobre seus usuários. 38

O telefone é um meio frio, ou de baixa definição, porque ao ouvido é fornecida uma magra quantidade de informação. A fala é um meio frio [...] muito pouco é fornecido e muita coisa deve ser preenchida pelo ouvinte. 38

O papel é um meio quente, que serve para unificar os espaços horizontalmente, seja nos impérios do entretenimento, seja nos impérios políticos. 39

A forma quente exclui e a forma fria inclui. 39

A intensidade ou alta definição produz a fragmentação ou especialização, tanto na vida como no entretenimento; isto explica por que toda experiência intensa deve ser "esquecida", "censurada" e reduzida a um estado bastante frio antes de ser "apreendida" ou assimilado. 39 

Esfriamento [...] sonambulismo, particularmente notável em períodos de novas tecnologias. 40

Enquanto meios, o dinheiro, a roda, a escrita ou qualquer outra forma especializada de aceleração, de intercâmbio e de informações operam no sentido da fragmentação da estrutura tribal. 40

A tecnologia elétrica não especializada retribaliza. 40

Qualidade instantânea da velocidade elétrica. O concêntrico, com sua infindável interseção de planos, é necessário para a introvisão [...] nenhum meio tem sua existência ou significado por si só, estando na dependência da constante inter-relação com os outros meios. 42

Inicialmente, o efeito da tecnologia elétrica foi a angústia. E agora parece estar criando tédio. 43

Participação em profundidade. 48

Imagem antifeminina clássica representada pela bibliotecária. 49

À medida que começamos a reagir em profundidade à vida e aos problemas sociais de nosso globo-aldeiam tornamo-nos reacionários. O envolvimento que acompanha nossas tecnologias imediatas transforma as pessoas mais "socialmente conscientes" em pessoas conservadoras. 52

Butler Yeats: o mundo visível já não é uma realidade e o mundo invisível já não é mais um sonho. 53

A soberania dos departamentos se dissolve tão rapidamente quanto as soberanias nacionais, sob as condições da velocidade elétrica. 54

Na nova era da informação elétrica e da produção programada, os próprios bens de consumo assumem cada vez mais o caráter de informação. 54

Valores de diversão. 55

O efeito do movimento na fotografia foi o de fornecer "bens de fantasia aos pobres do mundo inteiro". 56

Ele estava sonado. Havia-se adaptado à extensão de si mesmo e tornara-se um sistema fechado. 59

Os homens logo se tornam fascinados por qualquer extensão de si mesmos em qualquer material que não seja o deles próprios. 59

Nossa cultura marcadamente tecnológica e narcótica. 59

Por que o homem é impelido a prolongar várias partes de seu corpo, numa espécie de auto-amputação. 60

A auto-amputação impossibilita o auto-reconhecimento. 61

Com o advento da tecnologia elétrica, o homem prolongou ou projetou para fora de si mesmo, um modelo vivo  do próprio sistema nervoso central. 61

Qualquer invenção ou tecnologia é uma extensão ou auto-amputação de nosso corpo, e essa extensão exige novas relações e equilíbrios entre os demais órgãos e extensões do corpo. 63

Na era da eletricidade usamos toda a humanidade como nossa pele. 66

Os meios, ou extensões do homem são agentes "produtores de acontecimentos", mas não agentes produtores de consciência. 67 (vide dispositivos)

Eles começam a funcionar muito antes de que nos demos conta deles. 68

Nossa vida particular e associativa se transformou em processo de informação justamente porque projetamos para fora nosso sistema nervoso central sub espécie de tecnologia elétrica. 71

A mensagem da luz elétrica é a mudança total. É informação pura, sem qualquer conteúdo que restrinja sua força transformadora e informativa. 71

Se o estudante da teoria da informação apenas meditar no pode da luz elétrica em transformar toda e qualquer estrutura de espaço-tempo, de trabalho e da sociedade na qual penetra ou com a qual entra em contato, certamente disporá da chave da forma de energia que preside a todos, os meios e que molda tudo o que toca. À exceção da luz, todos os meios andam aos pares, um atuando como "conteúdo" do outro, de modo a obscurecer a atuação de ambos. 71

Os meios, como extensões de nossos sentidos, estabelecem novos índices relacionais, não apenas entre os nossos sentidos particulares, coo também entre si, na medida em que se inter-relacionam. 72

Sob as condições da tecnologia elétrica todo o negócio humano se transforma em aprendizado e conhecimento [...] todas as formas de riqueza derivam do movimento da informação. 78

Nossa tecnologia também está adiante de seu tempo, se tivermos a habilidade de reconhecê-la tal como ela é. 85

O artista é indispensável para a configuração, análise compreensão da vida das formas bem como das estruturas criadas pela tecnologia elétrica. 85

A tecnologia [...] antes de mais nada [...] uma extensão de nossos corpos e de nossos sentidos. 88

Poucos direitos nos restam a partir do momento em que submetemos nossos sistema nervoso e sensorial à manipulação particular daqueles que procuram lucrar arrendando nossos olhos, ouvidos e nervos. 88

Enquanto adotarmos a atitude de Narciso, encarando as extensões de nossos corpos como se estivessem de fato lá fora, independentes de nós, enfrentaremos os desafios tecnológicos com a mesma sorte, a mesma pirueta e queda de quem escorrega numa casca de banana. 89

Nós arrendamos esses "pontos de apoio" às empresas particulares. 89

A capitulação do homem ocidental à sua própria tecnologia, com um crescendo de demanda especializada, sempre pareceu uma espécie de escravidão aos observadores de nosso mundo. 89

Antes, o adolescente dispunha de uma garantia de revalidação de sua entrada: estava preparado para esperar a sua vez, na fila. Mas com a televisão, o impulso à participação encerrou a adolescência e todo lar americano tem o seu muro de Berlim. 90

Foi só com o advento do telégrafo que a mensagem começou a viajar mais depressa que o mensageiro. 108

A velocidade elétrica cria centros por toda parte. As margens já não mais existem neste planeta. 110

Nietzsche dizia que a compreensão paralisa a ação, e os homens de ação parecem intuir este fato quando repelem os perigos da compreensão. 111

O fator tempo adquirirá novas formas no mundo dos negócios e das finanças. 119

A velocidade, pelo menos nos estágios mais baixos da ordem mecânica, sempre opera no sentido da extensão, da separação e da amplificação das funções do corpo. 121

Qualquer novo meio, por sua aceleração, provoca rupturas nas vidas e nos investimentos da comunidade inteira. 122

O campo de batalha se deslocou para a estrutura mental criadora e destruidora de imagens, tanto na guerra quanto nos negócios. 123

Quando a própria informação se constitui no tráfego mais importante, a necessidade de conhecimentos avançados se faz sentir mesmo nos espíritos mais rotineiros. 123

Até a eletrificação, o aumento de velocidade produz a divisão das funções, das classes sociais e do conhecimento. 123

Quando a informação se desloca à velocidade dos sinais do sistema nervoso central, o homem se defronta com a obsolescência de todas as formas anteriores de aceleração, tais como a rodovia e a ferrovia. 124

As extensões elétricas de nós mesmos simplesmente contornam o espaço e o tempo, criando problemas sem precedentes de organização e envolvimento humanos. Um dia ainda suspiraremos pelos bons tempos do automóvel e da auto-estrada. 125

Hoje, quando, pela tecnologia, prolongamos todos os nossos sentidos e todas as partes do nosso corpo, sentimos a ânsia da necessidade de um consenso externo entre a tecnologia e a experiência que eleva a nossa vida comunal ao nível de um consenso mundial. Uma vez atingida uma fragmentação mundial, não deixa de ser natural pensar numa integração mundial. 128

Do erro nasce a verdade, e da pobreza, a riqueza – graças aos números. 134

O efeito de qualquer espécie de tecnologia engendra em nós um equilíbrio, que por sua vez, gera novas tecnologias. 136

Uma nova extensão estabelece um novo equilíbrio entre todos os sentidos e faculdades, de modo a conduzir a uma "nova visão" – novas atitudes e preferências em muitas áreas. 147

Quando a luz está ligada, há um mundo sensório que desaparece quando a luz está desligada. 150

A luz é informação sem "conteúdo", como um foguete e um veículo sem os acessórios da roda ou da estrada. 150

Tecnologia especializada [...] assim como a palavra escrita intensifica os aspectos visuais da fala e da ordem, assim como o relógio separa visualmente o tempo do espaço, assim como o dinheiro separa o trabalho das demais funções sociais. 158

Como a escrita ou como o calendário, ele propicia grande controle e casta extensão espacial às organizações políticas. Age à distância, no espaço e no tempo. Nas sociedades altamente letradas, fragmentadas, "tempo é dinheiro" – e o dinheiro é o depósito do tempo e do esforço alheios. 158

Na era do computador, novamente nos envolvemos totalmente em nossos papéis. Na era da eletricidade, o "emprego" cede à dedicação e ao empenho, como na tribo. 160

Tanto o tempo [...] como o espaço desaparecem na era eletrônica da informação instantânea. [...] o homem dá por findo o seu trabalho de especialização fragmentada e assume o papel de coletor de informações. 161

Toda tecnologia apresenta o toque de Midas. Quando uma comunidade desenvolve uma extensão de si mesma, ela tende a permitir que todas as demais funções se alterem para absorver aquela nova forma. 162

A arte não pode beneficiar-se da prosperidade. 165

Para a compreensão dos meios e da tecnologia, é necessário ter em mente que a novidade fascinante de um mecanismo ou de uma extensão de nosso corpo produz uma narcose, ou seja, um entorpecimento, na região recém prolongada. 172

Os relógios são meios mecânicos que transformam as tarefas, criando novas riquezas e novos empregos, pela aceleração entre os homens. Coordenando e acelerando os encontros e iniciativas dos homens, os relógios fazem aumentar a quantidade bruta do intercâmbio humano. 179

Os eletrodomésticos, longe de serem dispositivos que poupam trabalho, são novas formas de trabalho descentralizado e acessível a todos. Assim também é o mundo do telefone e da imagem da televisão, que exige muito mais de seus usuários do que o rádio ou o cinema. 192

A explosão tipográfica estendeu as mentes e as vozes dos homens para reconstituir o diálogo humano numa escala mundial que atravessou os séculos. Encarada simplesmente como um armazenamento da informação, ou como um meio de rápida recuperação do conhecimento, a tipografia acabou com o paroquialismo e com o tribalismo, tanto psíquica quanto socialmente, tanto no espaço como no tempo. 195

Os meios elétricos de transmissão da informação estão alterando a nossa cultura tipográfica tão nitidamente quanto a impressão modificou o manuscrito medieval e a cultura escolástica. 196

Toda extensão é uma amplificação de um órgão, de um sentido ou de uma função que inspira ao sistema nervoso central um gesto autoprotetor de entorpecimento da área prolongada – pelo menos no que se refere a uma inspeção e a um conhecimento diretos. 197

Talvez o dom mais significativo da tipografia o do desligamento e do não-envolvimento – o poder de agir sem reagir. Desde o renascimento a Ciência exaltou este dom, que se tornou um empecilho na era da eletricidade, em que todo mundo se vê envolvido com todo mundo, durante todo o tempo. 198

O livro foi a primeira máquina de ensinar e também a primeira utilidade produzida em massa. 199

Um novo meio nunca se soma a um velho, nem deixa o velho em paz. Ele nunca cessa de oprimir os velhos meios, até que encontre para eles novas configurações e posições. 199

Idealmente, a educação é uma defesa civil contra as cinzas radioativas dos meios de massa. Mas até hoje o home ocidental não se educou nem se equipou para enfrentar os meios com suas próprias armas. 221

Artista [...] corporifica e revela um conjunto de atitudes correntes. 222

Positivamente, o efeito da aceleração da sequência temporal é o de abolir o tempo, assim como o telégrafo e o cabo submarino aboliram o espaço. Sem dúvida, a fotografia faz ambas as coisas. 223

Se o motorista tecnológica e economicamente, é muito superior ao cavaleiro armado, pode muito bem dar-se que as mudanças elétricas na tecnologia venham a desmontá-lo, restituindo-nos à escala pedestre. "Ir para o trabalho" pode ser uma fase transitória, como "ir às compras". [...] artigos em toda gama de cores fielmente reproduzidas lhe serão mostrados. A distância não oferecerá problemas, já que, pelo fim do século, o consumidor poderá estabelecer ligações diretas, independente das distâncias. 247

Sem dúvida, a automação está em vias de produzir o objeto único, sob medida, ao mesmo preço e velocidade do produto seriado. 251 

Os anúncios levam ao princípio do ruído até o nível da persuasão – bem de acordo, aliás, com os processos de lavagem cerebral. Este princípio de profundidade da investida no inconsciente pode muito bem ser "a razão por quê", tema de tantos anúncios. 256

A indústria de publicidade é uma grosseira tentativa de estender os princípios da automação a todos os aspectos da sociedade. 256

Qualquer comunidade que deseje acelerar e maximalizar a troca de bens e serviços tem que simplesmente homogeneizar sua vida social. 258

Os que protestam são os melhores aclamadores e aceleradores. 260

A morte do caixeiro viajante e com o aparecimento da TV. 261

O álcool e o jogo tem significados diferentes em culturas diferentes. Em nosso mundo ocidental intensamente individualista e fragmentado, "encher a cara" é um liame social e um meio de envolvimento festivo. Em contraste, numa sociedade tribal solidamente unida [...] [e um fator destrutivo de toda a estrutura social e é mesmo utilizado como meio de experiência mística. 263

Os que não são artistas sempre olham para o hoje através dos óculos de ontem, ou da era precedente. Os estados-maiores estão sempre magnificamente preparados para a guerra que passou. 273

Tomar as coisas do mundo mortuariamente a sério revela um lamentável defeito de consciência e conhecimento. 274

A separação das funções e a divisão de fases, espaços e tarefas, são características da sociedade visual e letrada e do mundo ocidental. Estas divisões tendem a dissolver-se pela ação das interrelações instantâneas e orgânicas da eletricidade. 277

Vivemos hoje na Era da Informação e da Comunicação, porque os meios elétricos criam, instantânea e constantemente, um campo total de eventos interagentes do qual todos os homens participam. 278

As pessoas também se tornam instantâneas em suas respostas de compaixão ou furor, quando devem compartilhar com o todo da humanidade a mesma extensão comum do sistema nervoso central. 284

O tudo-de-uma-vez instantâneo e o envolvimento total da forma telegráfica ainda provocam a repulsa de alguns letrados sofisticados. . Para eles, a continuidade visual e o "ponto de vista" fixo tornam a participação imediata dos meios instantâneos tão desagradável e mal-vinda quanto os esportes populares. 285

Só a "autoridade do conhecimento" funciona por telefone, devido à velocidade que cria um campo total e inclusivo de relações. 286

Muitos analistas se vêem desorientados pelos meios elétricos devido à aparente habilidade com que esses meios estendem os poderes espaciais de organização. Os meios elétricos, no entanto, antes abolem do que aumentam a dimensão espacial. 286-287

A aceleração é a fórmula para a dissolução e a ruptura de qualquer organização. 287

Na área do movimento da informação, o principal "trabalho a ser feito" [...] é o movimento da informação. A simples inter-relação de pessoas pela informação selecionada e a principal fonte de riquezas na era da eletricidade. 296

Com o computador, em especial, o esforço de trabalho se aplica ao nível da "programação" – e é um esforço de informação e de conhecimento. 296

Com o telefone, temos a extensão do ouvido e da voz, uma espécie de percepção extra-sensória. Com a televisão, vem a extensão do sentido do tato. 298

O telefone exige uma participação completa, diferentemente da escrita e da página impressa. O homem letrado se ressente dessa pesada exigência de atenção total, pois há muito que está habituado apenas à atenção fragmentária. 300

O telefone é uma forma participante que exige um parceiro, com toda a intensidade da polaridade elétrica. Simplesmente não funciona como instrumento de fundo – coisa que acontece com o rádio. 301

O telefone não passava de uma engenhoca, mais utilizada para diversão do que para negócios. 302

O telefone, íntimo e pessoal, é um dos meios que mais se afastam da forma das agências noticiosas. 303

A palavra telefone surgiu em 1840, antes do nascimento de Alexander Graham Bell. Era aplicada a um dispositivo destinado a transmitir notas musicais através de bastões de madeira. 303

O telefone é um "entrão" irresistível em qualquer tempo e lugar. [...] é uma forma intensamente pessoal que ignora todos os reclamos da intimidade visual. 305

O fonógrafo, que deve a sua origem ao telégrafo e ao telefone elétricos, não tornou manifestas sua forma e sua função basicamente elétricas enquanto o gravador de fita não o liberou de seus acessórios mecânicos. O mundo do som, é essencialmente, um campo unificado de relações imediatas, o que o torna semelhante ao mundo das ondas eletromagnéticas. Foi isto que aproximou o fonógrafo do rádio. 309

O fonógrafo é uma extensão e uma amplificação e da voz, que pode muito bem ter diminuído a atividade vocal individual, assim como o carro reduziu a atividade pedestre. 309

Os homens da era da eletricidade caminham aceleradamente para o envolvimento em diversos trabalhos simultaneamente, para o trabalho do aprendizado e para a programação de computadores. 313

O estéreo é o som em profundidade, assim como a TV é o visual em profundidade. 317

Telefone: fala sem paredes

Fonógrafo: music hall sem paredes

Fotografia: museu sem paredes

Luz elétrica: espaço sem paredes

Cinema, rádio, TV: sala de aulas sem paredes. 318

O homem coletor de comida reaparece incongruentemente como coletor de informação. Neste seu papel, o homem eletrônico não é menos nômade do que seus ancestrais paleolíticos. 318

Em termos do estudo dos meios, torna-se patente que o poder do cinema em armazenar informação sob forma acessível não sofre concorrência [...] um rival do livro que tanto fez para alcançar e mesmo, ultrapassar. 327

Nos dias atuais, o cinema como que ainda está em sua fase manuscrita; soba  pressão da TV, logo mais, atingirá a fase portátil e acessível do livro impresso. 327

Todas as extensões tecnológicas de nós mesmas são subliminares, entorpecem; de outra forma, não suportaríamos a ação que uma tal extensão exerce sobre nós. 339

Mais do que o telégrafo e o telefone, o rádio é uma extensão do sistema nervoso central, só igualada pela própria fala humana. 340

A força elétrica, antitética, da informação instantânea, que reverte a explosão social em implosão, a empresa particular em homem de organização e impérios em expansão em mercados comuns, tem sido tão pouco considerada quanto a palavra escrita. 342

O rádio e o meio para as coisas frenéticas. 348

O efeito da TV, a mais recente e espetacular extensão elétrica de nosso sistema nervoso central, ainda não se deixa apreender em toda sua profundidade por razões várias. [...] Gestalt complexa de dados colhidos quase que ao acaso. 356

Um meio frio – palavra falada, manuscrito ou TV – dá muito mais margem ao ouvinte ou usuário do que um meio quente. Se um meio é de alta definição, sua participação é baixa. Se um meio é de baixa definição, sua participação é alta. Talvez seja por isso que amantes sussurram tanto. 358

A TV não é tanto um meio de ação quanto de reação. 359

A leitura em profundidade não é característica da palavra impressa enquanto tal. 365

Na era da eletricidade, o home volta, psíquica e socialmente, ao estado nômade. Só que agora a fase se caracteriza pela cata de informações e pelo processamento de dados. 385

  Com a automação, não apenas os empregos desaparecem e os papéis complexos reaparecem. Séculos de ênfase especializada na Pedagogia e na ordenação dos dados chegam agora ao fim com a imediata recuperação da informação propiciada pela eletricidade. A automação é informação e não apenas acaba com as qualificações no mundo do trabalho, como acaba com as "matérias" no mundo do ensino. Mas o mundo do ensino continua. O futuro do trabalho consiste em ganhar a vida na era da informação. 388

A era da informação exige o emprego simultâneo de todas as nossas faculdades, descobrimos que os momentos de maior lazer são aqueles em que nos envolvemos mais intensamente – tal como sempre aconteceu com os artistas. 389

Aceleração elétrica e exata sincronização da informação que constituem a automação. 391

A nova espécie de inter-relação que se observa na indústria e no mundo do entretenimento é o resultado da velocidade elétrica instantânea. 391

Características de armazenamento, ou "memória" e de acelerador, constituem traços básicos de qualquer meio de comunicação. No caso da eletricidade, o que se armazena e desloca não pé uma substância corpórea, mas percepção e informação. 394

Hoje, é a velocidade instantânea da informação elétrica que pela primeira vez, permite o fácil reconhecimento dos padrões e dos contornos formais da mudança e do desenvolvimento. O mundo todo, passado e presente, agora se desvenda aos nossos olhos como uma planta a crescer num filme extraordinariamente acelerado. A velocidade elétrica é sinônimo de luz e do entendimento das causas. 395

Espectro do desemprego e da ausência de propriedade na era da eletricidade. A riqueza e o trabalho se tornam fatores informacionais e estruturas totalmente novas se tornam necessárias para dirigir um negócio e relacioná-lo aos mercados e às necessidades sociais. 401

Pressão crescente das forças que a impelem para a profundidade e a inter-relação indispensáveis no mundo de-uma-vez da organização elétrica. 401



Com a eletricidade efetuamos a extensão de nosso sistema nervoso central, globalmente, inter-relacionando instantaneamente toda a experiência humana. 402

Graças ao computador, podemos agora abordar necessidades sociais complexas com a mesma certeza arquitetônica anteriormente conseguida para a habitação particular. 402

Os meios elétricos de armazenar e movimentar informação com velocidade e precisão fazem com que as grandes unidades sejam tão manipuláveis quanto as pequenas. [...] o fato inicial é a interdependência total. 402


MCGARRY, Kevin. O contexto dinâmico da informação

MCGARRY, Kevin. O contexto dinâmico da informação: uma análise introdutória. Brasília: Briquet de Lemos, 1999. 206 p.

 

Mcgarry (1999, p. 2) reconhece o "contexto dinâmico" e os muitos "usos e contextos do termo informação" no cabeçalho de assuntos do Information Science Abstracts. O autor reconhece que há de fato a "realidade externa" ao usuário que é a própria origem à informação, que por sua vez, é utilizada pelos usuários de uma miríade de maneiras. Ainda que as muitas aplicações do termo informação interesse a temática do contexto e seja o contexto da própria palavra informação, o foco no presente estudo é outro, um viés que interessa mais o mundo externo de que fala o autor. É possível afirmar ser esta realidade externa o contexto do usuário. E o autor aponta a importância desse contexto para definir o termo informação. Para Mcgarry (1999, p. 6-7) "informação é o termo que designa o conteúdo daquilo que permutamos com o mundo exterior ao ajustar-nos a ele". O autor questiona: "como o mundo exterior se situa nesta análise básica da informação?". A resposta pode estar contida no entendimento do contexto. O autor ainda classifica "pacotes de informação ou estímulos" que o mundo real impõe aos sentidos dos usuários como "eventos". Os eventos podem ser entendidos como o que chama de "atos de aprendizagem", em que existe um usuário, envolto num contexto advindo de algum evento ou parte do mundo real, pois são "coisas que acontecem; condições ou objetos que existem para um ou vários seres humanos [...] algo que acontece num breve espaço de tempo". Mas para o autor existem eventos "internos e externos". Pode-se também entender esses eventos como o contexto imediato em que o usuário está inserido, como o momento de atravessar uma rua por exemplo. Assim, pode-se inferir que a Figura torna-se um pouco mais complexa, através do contexto interno do usuário.

 

Labor

Segundo Mcgarry (1999, p. 6-7) "o dia inteiro, todo dia, captamos informações por meio de nossos sentidos. O dia inteiro, todo dia, rejeitamos as informações que julgamos irrelevantes para nossas necessidades e propósitos". Segundo o autor "para todos nós a principal atividade de nossas vidas envolve tomar decisões ou reagir ao mundo dos eventos".

 

Contexto

E como situar-se na realidade se esta é extremamente dependente de nossas percepções e respostas ao tempo-espaço? Segundo Mcgarry (1999, p. 8-9) aponta que o "tempo-espaço são os contextos básicos dos processos de raciocínio" e a própria "essência de nossa humanidade", sendo que o tempo é a mais "fundamental e primitiva experiência do mundo" e é sinônimo de "transformação", um "fluxo unidirecional que aponta como uma flecha para o futuro. Segundo o autor "ovelhas a pastar satisfeitas na colina não têm tal conceito" e não tem consciência do que veio antes e do que virá no futuro. Ainda segundo o autor questões do tipo "quando" e "onde" são formas de organização do tempo espaço e "podem surgir tanto em conceitos passados quanto futuros". Estaríamos perdendo as noções sobre o tempo -espaço e nos tornando incapazes de responder questões como "quando e onde?", incapazes de localizar os eventos no tempo-espaço e reconhecer nosso próprio futuro?

 

 


LYOTARD, Jean François. A condição pós-moderna.

LYOTARD, Jean François. A condição pós-moderna. 7. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 2002. 131 p.


O saber muda de estatuto. p. 3


Parece que a incidência destas informações tecnológicas sobre o saber deva ser considerável. Ele é ou será afetado em suas duas principais funções: a pesquisa e a transmissão de conhecimentos. [...] hoje em dia já se sabe como, normalizando, miniaturizando e comercializando os aparelhos, modificam-se as operações de aquisição, classificação, acesso e exploração dos conhecimentos. [...] a multiplicação de máquinas informacionais afeta [...] a circulação dos conhecimentos, do mesmo modo que o desenvolvimento dos meios de circulação dos homens. 4


Nessa transformação geral, a natureza do saber não permanece intacta. Ele não pode se submeter aos novos canais, e tornar-se operacional, a não ser que o conhecimento possa ser traduzido em quantidades de informação. Pode-se então prever que tudo o que no saber constituído não é traduzível será abandonado, e que a orientação das novas pesquisas se subordinará  à condição de tradutibilidade dos resultados eventuais em linguagem de máquina. Tanto os "produtores" de saber como seus utilizadores devem e deverão ter os meios de traduzir nestas linguagens o que alguns buscam inventar e outros aprender. [...] com a hegemonia da informática, impõe-se uma certa lógica e, por conseguinte, um conjunto de prescrições que versam sobre os enunciados aceitos como "de saber". 4


Pode-se então esperar uma explosiva exteriorização do saber em relação ao sujeito que sabe, em qualquer ponto que este se encontre no processo de conhecimento. O antigo princípio segundo o qual a aquisição do saber é indissociável da formação do espírito, e mesmo da pessoa, cai e cairá cada vez mais em desuso. Esta relação entre fornecedores e usuários do conhecimento e o próprio conhecimento tende [...] a assumir a forma que os produtores e os consumidores de mercadorias têm [...] a forma de valor [...] produzido para ser vendido [...] consumido para ser valorizado numa nova produção: nos dois casos para ser trocado. 4-5


Sob a forma de mercadoria informacional indispensável ao poderio produtivo [...] se batam no futuro para dominar as informações. [...] novo campo para as estratégias industriais e comerciais [...] militares e políticas. 5


A mercantilização do saber não poderá deixar intacto o privilégio que os Estados-nações modernos detinham [...] à produção e à difusão dos conhecimentos. 5


A ideia de que estes dependem do "cérebro" ou do "espírito" da sociedade que é o Estado será suplantada á medida que seja reforçado o princípio inverso, segundo o qual a sociedade não existe e não progride a não ser que as mensagens que nela circulem sejam ricas em informação e fáceis de decodificar. 6

 

A transformação da natureza do saber pode assim ter sobre os poderes públicos estabelecidos um efeito de retorno tal que os obrigue a reconsiderar suas relações de direito e de fato com as grandes empresas e mais genericamente com a sociedade civil. 6


As novas tecnologias, pelo fato de tornarem os dados úteis às decisões (portanto, os meios de controle) 7


Em vez de serem difundidos em virtude de seu valor "formativo" ou de sua importância política [...] os conhecimentos sejam postos em circulação segundo as mesmas redes de moeda, e que a clivagem pertinente a seu respeito deixa de ser saber/ignorância para se tornar como no caso da moeda, "conhecimentos de pagamento/conhecimentos de investimento", ou seja: conhecimentos trocados no quadro de manutenção da vida cotidiana (reconstituição da força de trabalho, "sobrevivência") versus créditos de conhecimentos com vista a otimizar as performances de um programa. 7


Neste caso, tratar-se-ia tanto da transparência como do liberalismo. Este não impede que nos fluxos de dinheiro uns sirvam para decidir, enquanto outros não sejam bons senão para pagar. Imaginam-se paralelamente fluxos de conhecimentos passando pelos mesmos canais e de mesma natureza, mas dos quais alguns serão reservados aos "decisores", enquanto outros servirão para pagar a dívida perpétua de cada um relativa ao vínculo social. 7 

 

Examinando-se o estatuto atual do saber científico [...] parece mais subordinado do que nunca as potências e, correndo até mesmo o risco, com as novas tecnologias, de tornar-se um dos principais elementos de seus conflitos, a questão da dupla legitimação 13


vem evidenciar serem saber e poder as duas faces de uma mesma questão: quem decide o que é saber, e quem sabe o que convém decidir? O problema do saber na idade da informática é mais do que nunca o problema do governo. 14


Se o sujeito social já não é o sujeito do saber científico é porque foi impedido nisto pelos padres e tiranos. O direito à ciência deve ser reconquistado. 58


a própria nação está autorizada a conquistar sua liberdade graças à difusão dos novos saberes na população. 58-59


O sujeito do saber não e o povo, é o espírito especulativo. 61


Esta filosofia deve restituir a unidade dos conhecimentos dispersados em ciências particulares nos laboratórios e nos cursos pré-universitários; ela não pode fazê-lo senão num jogo de linguagem que una ambos os aspectos como  momentos no devir do espírito, portanto, numa narração ou, antes, numa metanarração racional. 61


no dispositivo de desenvolvimento de uma Vida que é ao mesmo tempo Sujeito, que se nota o retorno do saber narrativo. Existe uma 'história' universal do espírito, o espírito é 'vida', e esta 'vida'   é a apresentação e a formulação do que ela mesmo é; ela tem como meio o conhecimento ordenado de todas as suas formas nas ciências empíricas. 61


a ciência pós-moderna torna a teoria de sua própria evolução descontínua, catastrófica, não retificável, paradoxal. Muda o sentido da palavra saber e diz como esta mudança pode se fazer. Produz não o conhecido, mas o desconhecido. E sugere um modelo de legitimação que não é de modo algum o da melhor performance, mas o da diferença compreendida como parologia. 


Medawar dizia que 'ter ideias é o supremo êxito para um cientista', que não existe 'método científico' e que um cientista é em princípio alguém que 'conta histórias', cabendo-lhe simplesmente verificá-las. 108




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